Som na Caixa

Jimi Hendrix

Valleys Of Neptune
(Sony)

jimihendrixvalleysAo colocar este CD na vitrola, é conveniente substituir palavra “inédita”, usada na propaganda, por “rara”, já que, em termos de músicas realmente novas, não há basicamente nada. Trata-se de um apanhado de gravações, em sua maior parte não (ou pouco) conhecida do público, feita num momento de transição na carreira de Jimi Hendrix, quando o guitarrista desfez o Experience original ao colocar o baixista Billy Cox no lugar de Noel Redding. Cox foi um antigo amigo dos tempos de exército, e, em princípio, foi uma escolha emocional, mas que acabou saindo melhor que a encomenda, tecnicamente falando. Hendrix, já famoso, tinha mais dinheiro e tempo disponível em estúdio e decidiu refazer algumas músicas, sobretudo aquelas cujas versões originais não ficaram ao gosto foi guitarrista. É o que explica as versões para as já conhecidas “Fire” e “Stone Free”, ambas do álbum de estreia, “Are You Experienced” (1967).

Outras músicas/versões antes só conhecidas de gravações ao vivo (e não são poucas), ganham aqui um registro de estúdio antes inexistente, caso da instrumental “Sunshine Of Your Love”, do Cream, incluída antes, por exemplo, no ótimo bootleg “Live At Winterland”, que no Brasil ganhou uma edição pela Cid com o nome do guitarrista como título. Outras três faixas que estão na mesma situação são “Bleading Heart”, de Elmore James, que ganha uma levada funk e um solo excepcional; “Hear My Train A Comin’”, popularizada no Brasil por uma versão de Cássia Eller; e “Lover Man”, que foi tocada até em Woodstock, e já teve outra versão de estúdio gravada, sob o título “Here He Comes (Lover Man)”, numa coletânea lançada nos anos 90.

“Valleys Of Neptune”, escolhida para título por representar bem esta fase, segundo o produtor John McDermott (leia entrevista aqui), é uma deliciosa viagem psicodélica comparável à “Little Wing”, embora mais enxuta. E quem não resiste a um bom solo vai se desmanchar com a agressividade estonteante de “Ships Passing Through The Night”. Outras faixas, como “Crying Blue Rain” e “Mr. Bad Luck”, consta que já foram editadas com outros títulos, o que reforça que Hendrix estaria regravando material já existente, num constante esforço de aprimoramento e busca da perfeição só interrompido por sua morte.

É notável, também, numa análise mais amiúde, como essas gravações reúnem referências a vários gêneros musicais; Hendrix trafega com maestria por blues, soul, funk, jazz e outras levadas sem jamais deixar de se parecer com ele próprio. Contribui para a identificação disso tudo a excelente produção musical do CD (longe de ser um daqueles cata-catas sem pé nem cabeça), que realça um cristalino som de guitarra. Um neófito poderia até dizer que se trata de gravações recentes, não fosse a incrível identidade do maior guitarrista em todos os tempos, notada em todas as 12 faixas. Mesmo sem trazer, à rigor, nada de novo, “Valleys Of Neptune” acrescenta muito à discografia dos fãs, e é bom ponto de partida para os não iniciados.

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