O Homem Baile

Chuteiras penduradas

Em turnê de despedida, A-ha resgata sua história, eterniza hits grudentos, mas não consegue se livrar de um passado pouco glorioso; público lotou o Citibank Hall, ontem, no Rio. Foto: Divulgação.

a-haNa virada de sábado para domingo a festa era completa no Citibank Hall. Depois de quase duas horas de show o A-ha emocionava os fãs que lotaram a casa com três de seus maiores hits: “Hunting High and Low”, “The Sun Always Shines On TV” e – o maior deles, símbolo dos anos 80 – “Take On Me”, cujo nome foi gritado bem alto até o trio voltar para o segundo e derradeiro bis. Era o show da turnê de despedida (será?) numa das cidades em que os noruegueses sempre tiveram boa acolhida. Em 1989, por exemplo, abarrotaram a Praça da Apoteose com fãs histéricas.

Mas não foi assim o tempo todo. Mesmo com o repertório bolado com ênfase nos hits, o show começa lento, meio arrastado, apesar do esforço e da simpatia do tecladista Magne Furuholmen. Ele que arrisca um português para se comunicar com o público, anuncia que esta é realmente a turnê de despedida e confessa que usa o mesmo casaco dos outros shows do Brasil, arrancando gargalhadas. Morten Harket canta muito bem, e além do discreto guitarrista Paul Waarktaar-Savoy (por vezes ignorado até pela mesa de som), há outro tecladista e um baterista no fundo, e um belo telão. Na primeira parte do show a coisa não engrena, muito por causa de músicas com andamento lento (“Forever Not Yours”, “Analogue”) que recebe a contribuição de imagens aleatórias – chega a parecer show de new age – ou de péssimo gosto, como uma em que um lagarto fisga um inseto.

É evidente que o A-ha é banda de tecladista; Magne é quem dita o ritmo, lança riffs e andamentos pré-gravados o tempo todo, a ponto de deixar para trás até o baterista, que muitas vezes senta a mão, mas não é percebido. Só Morten é poupado, e os dois é que comandam as melhores partes do set, não só nos grandes hits, mas em músicas em que os laços com o pós punk inglês se evidenciam. Caso de “Swing Of Things”, por exemplo, que bem poderia ter nascido irmã de “Blue Monday”, do New Order. Ou de “Living Daylights”, cujo refrão pegajoso que levantou a platéia é a cara do tecnopop oitentista. Na dá pra dizer que o A-ha foi injustiçado pela história, mas o grupo sempre foi mais identificado com as boy bands (ok, as fãs são mulheres que arrastam os pares para o show) do que com as cabeças pensantes da época.

A primeira música a levantar o público de verdade foi a anterior, “Stay On These Roads”, cantada com grande dramaticidade por Morten, e – agora sim – com imagens antigas do trio exibidas no telão. Antes, na acústica “Minor Earth”, ele já tinha arrancado aplausos espontaneamente pelo impecável alcance vocal. O artifício acústico ganharia espaço em outros trechos do show, até mesmo no hit surpresa “You Are The One” - que não foi tocado no show de São Paulo; se perdeu a força do riff de teclado, ganhou conotação intimista que agradou a todos. Os telados apareceriam atropelando em “Crying in the Rain”, num outro grande momento da noite.

O que faz um grupo de tecnopop, compreendido ou não, é a capacidade de fazer dançar (numa época sem a epidemia de DJs) e acabou sendo esse o grande diferencial do show. Há um abismo entre boa parte do repertório e hits do naipe de “I’ve Been Loosing You” e “Cry Wolf”, escolhida para fechar a primeira parte. É aí chegamos ao super animado bis citado no começo. De olhos fechados, o público – não só os fãs mais dedicados – voltam no tempo como se estivessem entrando numa daquelas danceterias, semana após semana. Pena que, dessa vez, não passa de flash back nostálgico que dura o tamanho do bis. O mesmo tamanho que o A-ha, agora com a carreira encerrada, conseguiu reservar no panteão do pop rock.

Set list completo:

1- Bandstand
2- Foot of the Mountain
3- Analogue
4- Forever Not Yours
5- Minor Earth Major sky
6- Summer Moved On
7- Move to Memphis
8- Blood That Moves the Body
9- Stay On These Roads
10- Living Daylights
11- Early Morning
12- You Are The One
13- Crying In the Rain
14- Scoundrel Days
15- Swing of Things
16- Manhattan Skyline
17- I’ve Been Losing You
18- Looking For the Whales
19- Cry Wolf
Bis
20- Train of Thought
21- Hunting High and Low
22- The Sun Always Shines On TV
Bis
23- Take On Me

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. frederico serau em junho 9, 2010 às 17:59
    #1

    Não viajei de Porto Alegre para o Rio para ver eles e na volta me deparar com esta papagaiada escrita acima. Os caras são bons e pronto. Provavelmente, a pessoa que critica não deve ter nascido na decada de 70 nem 80. Deve gostar de funk mesmo. Sem mais comentários.

  2. Camila em julho 15, 2010 às 20:00
    #2

    Sem comentários mesmo…

  3. Hajas em maio 26, 2011 às 16:48
    #3

    O show foi ótimo (como sempre) e o review mostrou péssimo conhecimento dos fatos e de música, e acima de tudo muito invejoso (como sempre). Parabéns!

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