No Mundo do Rock

Lixo Extraordinário

Atendendo ao chamado dos fãs, grupo americano Municipal Waste desembarca no Brasil semana que vem para turnê; no Rio, pretende tirar público do show do Guns N’Roses, que acontece no mesmo dia. Fotos: Divulgação.

Até que o quarteto , que faz um som sujo já no nome, saiu bem nessa foto

Até que o quarteto , que faz um som sujo já no nome, saiu bem nessa foto

Lembram dos tempos em que bandas como DRI, SOD e adjacentes faziam a festa com um crossover punk/harcore/thrash metal? Pois é nesse universo que o som do grupo americano Municipal Waste é fincado. O grupo nasceu já em 2001 e foi formado curiosamente por adolescentes que sequer viveram a era de outro do gênero em que apostam. De lá pra cá, foram muitas coletâneas, EPs e quatro álbuns. O último deles é “Massive Agressive”, cuja turnê passa pelo Brasil a partir da próxima quarta.

Não por acaso o quarteto, formado por Tony Foresta (vocal), Ryan Waste (guitarra), ambos membros fundadores, Philip “Landphil” Hall (baixo) e Dave Witte (bateria) passa a maior parte do tempo na estrada. E os shows, pelo que se vê no youtube, prometem, não só pelo público, que enlouquece, mas pela pegada da banda, que aprendeu direitinho a receita com os mestres. Resta saber se eles terão a moral de competir com o Guns N’Roses, já que, no Rio, os dois shows foram marcados para o mesmo domingão.

Nessa entrevista o vocalista Tony Foresta, com muito bom humor, mesmo usando o e-mail, explica como um show do DRI mudou a vida dele e desaguou na banda, cujo nome saiu – você deve imaginar – de um caminhão que recolhe lixo, tipo esses da Comlurb. Ele não vê a hora de desembarcar no Brasil, cumprindo uma das metas do grupo traçadas para este ano. Isso porque milhares de fãs daqui entupiram a caixa de e-mail deles pedindo o show. Confira:

Rock em Geral: O som que a banda faz é um crossover que remete aos anos 80 . Como vocês decidiram montar uma banda para tocar esse tipo de música nos anos 00, 20 anos depois?

Tony Foresta: Estávamos de saco cheio com aquilo que estava rolando - musicalmente falando - em nossa cidade na época. Eu e o Ryan (Waste, guitarrista) éramos grandes fãs do crossover e do thrash metal e parecia que ninguém estava fazendo esse tipo de som nos Estados Unidos naquela época. Foi o que decidimos fazer, porque adoramos esse tipo de som.

RG: Vocês são muito jovens para ter vivido aquele período. Como vocês conheceram esse som?

Tony: Hum, pergunta interessante essa. Eu não consigo me lembrar de algo que aconteceu há tanto tempo… Acho que um dos meus amigos de fumar maconha da escola me apresentou o disco “Speak English or Die” (do SOD) uma vez, enquanto matávamos aula. Adorei o humor e a energia desse disco. E também, um dos primeiros shows que eu vi foi o do DRI, que foi um divisor de águas na minha vida.

RG: A mídia costuma chamar vocês de “party thrash band”. Vocês se assumem como tal?

Tony: Acho que sim. Quero dizer, tocamos thrash e às vezes cantamos letras sobre fazer festas. Então se é isso que eles querem dizer e isso os faz vender revistas e CDs, é legal. Nós não estamos nem aí. É meio chato quando as pessoas pensam que isso é a única coisa que nos interessa. Quero dizer que adoro nossa música, mas não somos um monte de drogados que vamos terminar numa clínica de reabilitação ou algo do gênero. A música vem primeiro. Curtir vem em segundo, logo atrás. Talvez devessem nos chamar de “thrash party band”. Ah, deixa pra lá.

RG: Como vocês chegaram a esse nome para o grupo?

Tony: O Ryan viu isso escrito na lataria de um caminhão de lixo e achou que cabia muito bem como nome de uma banda suja como a nossa.

Fãs de filmes trash, os rapazes colocam o tema nas letras de suas músicas

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RG: Falando sobre o novo disco, parece que vocês vêm fazendo um som mais elaborado, mas, ao mesmo tempo, agressivo e rápido. Você acha que a junção dessas duas coisas é uma vantagem para a banda?

Tony: Acho que qualquer evolução é uma coisa boa. Se você não puder se desenvolver como banda, o destino é fracassar. Eu sei que começamos a compor este disco com uma perspectiva diferente da que em geral temos, e eu acho que isso fez o disco sair sinistro.

RG: A faixa “Divine Blasphemer” parece ser uma das mais velozes, apesar do trecho “pra dançar” no meio. É intenção de vocês ficar a cada disco mais velozes?

Tony: Terei que discordar. Acho que o EP “Tango and Thrash” (split com o Bad Acid Trip, de 2003) foi nossa fase mais veloz. Eu gostaria de tocar cada vez mais rápido a cada disco, mas não tenho certeza se isso é possível se você quer manter suas composições interessantes para quem as ouve. Não quero tocar rápido só por tocar rápido. Quero que seja uma boa música em primeiro lugar. Se ela for realmente rápida, taí um grande bônus!

RG: “Wolves of Chernobyl” relembra o período da Guerra Fria. Como uma banda que soa musicalmente como nos anos 80, parece óbvio trazer o assunto de volta, mas vocês não pensam em novos temas, como, por exemplo, meio-ambiente?

Tony: Lidamos com alguns assuntos no disco semelhantes a isso. Muitas músicas vão de temas sociais ao governo, passando por nossa visão irada da sociedade em geral.

RG: É engraçado, mas a faixa-título é meio cadenciada, talvez a mais lenta das músicas no CD…

Tony: Eu gosto dessa música. Para mim ela soa como a vibe do Poison Idea, que é uma das minhas bandas favoritas, vai ver que é por isso. Parece um pouco diferente de muitas das coisas que compomos no passado, então pareceu a coisa certa colocá-la como título do disco.

RG: Vocês têm tocado a beça desde que o disco foi lançado. O que mais seduz vocês no “estar na estrada”?

Tony: Acho que fazer turnês tem sido a alma dessa banda. Estamos em turnês desde os primeiros meses de existência. Trabalhamos duro. Eu não sei o que seria de mim caso não tivesse uma turnê agendada no futuro. Não só isso, mas esse disco foi bem importante para nós porque percebemos que era um dos melhores que já compomos. Sabíamos que tínhamos que sair e tocar essas músicas para o maio número de pessoas possível.

RG: Vocês já tocaram em festivais bem diferentes na Europa, como o Wacken Open Air e o Reading Festival. Você percebe que são públicos diferentes ou é tudo igual?

Tony: O Wacken é completamente diferente do Reading. Mas isso é o que há de bom por estar nessa banda. Podemos tocar em tudo o que é tipo de festival, porque nossa música não se encaixa em nenhuma categoria musical específica. É ótimo tocar para públicos diferentes!

RG: Em um vídeo que circula na internet, num show de vocês, o público vai a loucura com tantos moshes. Num certo momento, um cara sem camisa sobe no placo, tira o short e pula de volta pelado. Isso acontece muito nos shows?

Tony: É, neguinho fica pelado mesmo, não vou mentir. E as garotas também. Podemos lidar com isso. Todos deveriam tirar a roupa para a nossa música. Na verdade eu estou pelado nesse exato momento, enquanto digito. Tá bom, é mentira.

RG: Como vocês planejaram essa turnê pelo Brasil e qual a expectativa quanto ao país?

Tony: Temos recebido e-mail do pessoal do Brasil já há muitos anos! É o lugar que aparece em primeiro na nossa lista de locais nos quais queremos tocar há muito tempo. Quando terminamos de gravar o “Massive Aggressive”, decidimos que em 2010 faríamos tudo para isso acontecer. Por sorte, o promotor certo nos contatou e tudo aconteceu, estamos bastante empolgados.

RG: O show de vocês acontece no Rio no mesmo dia do show do Guns N’Roses. Acha que o Municipal Waste atrai mais público que o Axl Rose hoje em dia?

Tony: Ah, sei lá… Espero que sim. Eu realmente não ouço Guns N’Roses. Não me interesso por esse tipo de música. Acho que é porque me lembra minha ex-namorada, e ela era uma escrota. Eu também encontrei o Slash uma vez e ele foi um bundão comigo e com meu amigo. Pois então, sim, vamos nos sair melhor que o Guns N’Roses! Mas tenho dúvidas disso, nenhuma música nossa entrou na trilha de “O Exterminador do Futuro”…

RG: Há uma conexão entre a música de vocês e os filmes b. Como vocês juntam isso tudo?

Tony: Eu e o Ryan somos fãs de filmes de horror trash há anos. Todos os filmes da Troma (produtora independente de filmes trash) são ótimos! “Troll 2” e “Dead Alive” também são assustadores. Eu só queria ter a mesma vibe desses filmes, mas trazendo para a música. Muitas pessoas não entendem isso e acham que tentamos soar pretensiosos. Eu realmente adoro essas coisas.

RG: Vocês são de Virginia, um estado Americano que é famoso pelo conservadorismo dos habitantes. Já tiveram problemas de censura por causa das letras?

Tony: Não mesmo. Nossa cidade é bem artística. Fica no meio do caminho entre Washington D.C. e Virginia Beach. Richmond é um lugar legal para viver e musicalmente criativo.

A performance raivosa do Municipal waste chega ao Brasil na semana que vem

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