O Rock Como Ele é

Nascida para pecar

Não gostava de pensar assim, mas, lá no fundo, não escapava da sentença dada por alguém que um dia amou. Culpa do amor, diria David Coverdale.

Não conseguia resistir ao chamado dos rapazes. É sabido que, por vezes, mulheres se sentem desprotegidas, mesmo depois das conquistas sociais dos últimos tempos. Mas, com ela, era demais. Se não estivesse envolvida em algum relacionamento, era batata. Atendia aos apelos dos sedutores que apareciam por todos os lados. Também, pudera. Era um pedaço de mau caminho. Mulher feita, com mais de 40 que sugeriam menos de 30, por vezes, mesmo presa a algum galalau, se deixava envolver por outro. Tinha, secretamente, a vocação para o pecado. Não gostava de pensar assim, mas, lá no fundo, não escapava da sentença dada por alguém que um dia amou. Culpa do amor, diria David Coverdale.

Era moço ainda, mas, desde cedo, paquerador. Não podia ver um rabo de saia que ia atrás. Bem apessoado, sempre pôde escolher entre as garotas mais atraentes aquela que ficaria ao seu lado. Não conseguia, no entanto, por mais que se esforçasse, manter um relacionamento minimamente estável por um tempo razoavelmente extenso. Em menos de um ano deixava de gostar da última conquista e abria o leque para novos flertes. Por vezes, mesmo gostando da pequena com que estava, não resistia à sedução de outras. Dizia não entender o porquê de seus relacionamentos serem tão breves, mas que mulher poderia aturar uma atitude como essa? Dane-se o amanhã, diria Sammy Hagar.

Um dia parou para pensar e viu que todos os seus relacionamentos mais sérios acabaram com cenas de traição. Quase sempre era ela a cometer o adultério primeiro, depois o amado, depois os dois. Nessas horas, ficava dividida e transferia para o outro lado o problema: aquele que se mostrasse mais interessado a levava como prêmio. No fundo era ela quem decidiria, mas se sentia confortável em passar adiante, matreiramente, a responsabilidade de escolher com que se daria ao desfrute nos próximos tempos. Ademais, achava o máximo ser disputada por mais de um homem. Tinha, também, a vocação para se sentir desejada, e fora, assim, mimada pela vida, a custa de severa obediência aos padrões de beleza vigentes. Que linda mulher, diria Roy Orbinson.

Nunca pensou que fosse se interessar por uma mulher mais velha. Mas depois de tanto paparicar meninas, acabou se apaixonando intensamente por aquela. Não tinha o hábito de guardar o tempo que ficava com uma pequena, mas, dessa vez, contava os meses e anotava recorde após recorde. Ainda jovem, achou que, enfim, tinha sossegado no colo daquilo que um grande amigo tinha o hábito de chamar de “patroa”. Por incrível que pareça, deixou de por os olhos nas pequenas que sempre se ofertam a um homem que aparenta estar comprometido. E não era para menos. Até os discos de rock pauleira a distinta deixava rolar no talo. Quero ouvir alto, diria Gene Simmons.

Quando passou a se interessar por outro alguém, ele nem percebeu. Como num roteiro de novela popularesca, tudo voltava a se repetir. Já dividida entre dois amores, reafirmava a paixão que tinha pelo rapaz, ao mesmo tempo em que montava o cenário de tribunal de final de filme americano. Como de hábito, jogou para o jovem a responsabilidade de não perdê-la – adorava o drama contido na expressão. Tinha no currículo várias dispensas de garotas que gostavam dele, jamais o contrário. Dessa vez estava provando do próprio veneno, e em doses cavalares. Tanto que não acreditava no que ouvia. A vocação da bela mulher falou mais alto e o fez lembrar a prosaica parábola do sapo e o escorpião. Era a natureza dela, havia nascido para pecar.

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