No Mundo do Rock

Saindo da geladeira

Vítima de estratégia de uma grande gravadora, só agora o Manacá lança o disco de estréia, engavetado há dois anos; grupo carioca quer aproveitar exposição da vocalista Letícia Persiles na minissérie “Capitu”, da Globo, e correr atrás do tempo perdido. Foto: Moscow/Divulgação.

Bruno Baiano, Letícia Persiles, Daniel Wally e Luiz César Pintoni: de volta ao mundo real

Bruno Baiano, Letícia Persiles, Daniel Wally e Luiz César Pintoni: de volta ao mundo real

As coisas aconteceram muito rápido para o Manacá, desde o primeiro show, em abril de 2006, no projeto Boemia Rock, na Lapa carioca, até as cerca de 400 cópias do disquinho demo desaparecerem. Nesse meio tempo, muitos shows, a vitória numa seletiva que levou o grupo a Natal e o reconhecimento da mídia especializada. Tudo num piscar de olhos. Ao menos até o grupo assinar contrato com uma grande gravadora, fazer um belo disco sob a produção do badalado Mário Caldato, e ser devidamente engavetado, por conta de uma inexplicável estratégia de marketing.

Durante esses dois anos a vocalista do grupo, Letícia Persiles, batendo ponto como atriz, estrelou a minissérie global “Capitu”, exibida há cerca de um ano. Aquilo que em tese deveria só contribuir, atrapalhou. “Pra gente o ideal seria o disco ser lançado logo que acabamos a gravação, todos os momentos eram bons, independente de a Letícia fazer ‘Capitu’”, diz o guitarrista Luiz César Pintoni. “Foi uma série de fatores que fogem muito da nossa alçada”, tenta explicar. Letícia faz coro: “Cada hora era uma desculpa diferente. Foram eles (a gravadora) que bancaram o disco, o produto final não é nosso, é propriedade da EMI”, constata.

Mesmo sem disco, é bom que se diga que o nome do Manacá não parou de circular por aí, mesmo porque, além de Letícia aparecer em tudo o que é canto, o grupo emplacou cinco músicas na trilha sonora de “Capitu”. “A série ajudou muito. Além da trilha, a música ‘Elephant Gun’, do Beirute, fui eu que apresentei para o Luiz Fernando (Carvalho, diretor da série) e acabou rolando o link que nos levou a abrir o show deles em São Paulo”, conta o guitarrista, vendo o lado bom da coisa. “Sem falar que em todas as matérias a Letícia sempre dizia que o Luiz Fernando a descobriu num show da banda”. Espertinha, não?

Com o mesmo nome do grupo, o disco de estréia, enfim, está nas lojas a partir dessa semana. As gravações foram feitas do jeitinho que a banda quis, muito embora, passados dois anos, Luiz César já teria mexido em bastante coisa. “Sessenta por cento do disco tá ótimo, mas tem coisas que eu não faria de novo de jeito nenhum”, crava. “Tem uns timbres de guitarra que eu recolocaria, faltou experiência. Às vezes no estúdio não dá pra perceber que não tá exatamente do jeito que você quer”, explica. “É perceptível, mas nada que vá chocar as pessoas, não é outra banda”, ressalva Letícia. Além da dupla, formam o Manacá o baixista Daniel Wally e o baterista (e animal) Bruno Baiano.

Para explicar o Manacá é preciso ir no Google ou no Aurélio descobrir o significado de palavras como sebastianismo, antropologia e congada, entre outras, e que o nome foi emprestado de uma planta alucinógena de onde se fazia um chazinho daqueles. Mas para entender o grupo a coisa é bem mais fácil. É rock dos bons, misturado com referências regionais de tudo o que é canto, sem que isso soe como “batucada pra turista” ou retire uma grama do peso inerente ao gênero. “O Manacá tem uma vontade de desabituar quem está acostumado com a música gringa que é jogada pelo rádio e televisão de uma maneira muito agressiva, e trazer pra esse tipo de ouvido uma coisa mais brasileira”, destrincha Letícia, que embora não toque nenhum instrumento, é quem faz a grande maioria das músicas. “O objetivo é inserir cada vez mais elementos da musica brasileira, e a gente acaba se regionalizando nas influências, porque o regionalismo é universal. Além de falar de musica brasileira, falamos de música cigana”, aponta. “Buscamos fazer uma coisa com alguma autenticidade”, continua Luiz. “Somos uma banda antropológica também, a nossa idéia é, antes de um disco, fazer uma pesquisa de campo em algum lugar”, completa.

A citação à música cigana traz a banda para seu habitat natural: o palco. É nele que um som poderoso embala uma atriz em evolução. Sim, porque Letícia entra na personagem, com vestidos refeitos de figurinos, descalça, saracoteando de lado a outro e bebendo o que chama de “poção mágica” – dizem os babões, no gargarejo, que é cachaça. “O teatro é a minha base pra tudo, não faço uma distinção muito grande entre um show do Manacá e uma peça, o palco é o mesmo”, diz a beldade, dando de ombros para explicações mais rebuscadas, afinal, faz teatro desde os 11 anos. Foi no palco que o grupo moldou o repertório que está no CD, no qual “Diabo” é hit vocacional. “Quando fizemos vimos que era um refrão forte e tinha esse apelo do nome diabo/anjo. O público foi respondendo nos shows, era a música que o pessoal sempre cantava mais e acabou se tornando a primeira música de trabalho”, explica Luiz César.

Outras músicas legais são “Faca de Ponta” e “Lua Estrela”, que já estavam no CD demo, e ainda “Gaiola”, misto de balada e minimalismo do rock dos nossos dias. Uma versão acústica para “Galo Cantou” e a releitura extraordinária de “Canto de Ossanha”, afro-samba de Vinícius e Baden Powell, também entraram. “Não tínhamos repertório suficiente para fechar o disco”, entrega Luiz. “Sempre gostamos de fazer referência a coisas que gostamos, tocamos Novos Baianos e Chiquinha Gonzaga, numa versão rock”, afirma. Mas aí é para o segundo disco né? “Tem músicas novas, muita coisa mudou”, garante Letícia. “Agora não faz sentido lançar música que não está no disco. Quando a turnê estiver engatada elas vão acabar aparecendo para complementar o repertório”, promete Luiz. Fora da geladeira, com disco na mão e de volta aos palcos. Taí o que todo mundo queria!

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. NIck Ferreira em novembro 1, 2009 às 13:36
    #1

    Ai, ai, que saudades do Manacá! Muito bom vê-los de volta. Pelas minhas contas, de todas as vezes que eu apareci com um fone de ouvido espalhando “ouve que essa banda é o maximo!”, o Manacá foi a que agregou mais admiradores. Boa sorte pra eles nessa nova fase!

  2. Leonardo Rivera em novembro 16, 2009 às 16:59
    #2

    Conheci o Daniel uma vez no Teatro Odisséia e foi divertido, ganhei uma demo da banda e já gostava desde o começo. Bacana, que bom que está saindo!

  3. Carol Lima em novembro 28, 2009 às 1:20
    #3

    Yeah! Que a boa música seja bem vinda de volta!

  4. Rockted em dezembro 16, 2009 às 10:12
    #4

    Aeeee finalmente lançando esse disco! Parabéns aos amigos do Manacá! Po Wally esse bigode de Seu Madruga ta f*da hein hehehe

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