O Homem Baile

Ousadia em cores muito vivas

Em apresentação impecável, Living Colour toca quase a íntegra do novo álbum, “The Chair in the Doorway”, ontem, no Circo Voador, no Rio; show durou quase duas horas e meia e músicos não queriam deixar o palco. Foto: Reprodução/ internet.

livingcolour09Se da última vez em que esteve no Rio, há cerca de dois anos, o Living Colour não tinha um novo disco a ser apresentado e concentrou o show em clássicos da carreira, agora foi diferente. Sem titubear, o grupo mostrou nada menos que nove músicas das 11 do apenas razoável “The Chair in the Doorway”, lançado este ano, divididas em dois blocos, cada um em uma metade da noite. A ousadia deu certo porque o público – cerca de 1500 pessoas -, mesmo demonstrando não conhecer o disco, manteve o entusiasmo, e, ao vivo, boa parte das músicas novas soaram melhor do que CD, muito por conta da já conhecida perícia técnica dos integrantes.

Caso de “Decadance”, mais cadenciada, que arrancou muitos aplausos ao final por conta de um bom solo de guitarra, coisa incomum num disco em que o brilhante Vernon Reid é econômico. Outra que se sai bem ao vivo, ainda no primeiro bloco, é “Burned Bridges”, as custas de um bom refrão. “The Chair”, com peso absurdo salientado pela boa qualidade de som da casa, também causou boa impressão. Com cerca de meia hora de show, o quarteto enfileirou outros 30 minutos de um espetáculo praticamente contemplativo, o que não é para qualquer um. O artifício se repetiria na segunda metade do set, com outras quatro novas e destaque para a ótima “Bless Those (Little Annie’s Prayer)”, cujos riffs resgatam o pula-pula geral que já vinha acontecendo antes, em “Glamour Boys”, por exemplo, posicionada na intermediária.

O curioso num show do Living Colour é que apesar de ter em Vernon Reid um guitarrista de mão cheia, os solos ficam por conta do baterista Will Calhoun e do baixista Doug Wimbish. Doug chega a descer no meio da platéia para passear com o baixo a tiracolo no meio do seu, e Calhoun usa nada menos que 13 minutos (que voam) para mostrar precisão, técnica e muita improvisação. O kit diferenciado agrega bateria digital, percussão, efeitos e até um mini gongo vazado, além de estripulias como tocar com baquetas iluminadas que riscam a noite e empolga a platéia. Reid não tem um momento particular, mas detona sua guitarra a cada música, sobretudo nas mais antigas, que ele parece reinventar a cada vez que toca – caso de “Middle Man”, na abertura e da espetacular “Cult Of Personality”.

O simpático Corey Glover não toca, mas canta um bocado. Em “Open Letter to Landlord” demonstra todos os dotes vocais que não negam suas origens na música negra, sempre escoltado por Vernon Reid. Os dois protagonizam um bate boca em “Elvis is Dead” – Reid diz que ele está vivo – conectada com “Hound Dog”, famosa na voz do Rei do rock. A essa altura o show se encaminha para o final e vêm, emendadas, “Type”, com o público enlouquecido, e “Cult of Personality”, proporcionando um espetáculo de braços erguidos que impressionou até o grupo, fechando o set.

No bis, depois de duas horas e meia de festa, a única vez em que o roteiro não foi seguido à risca. Depois de “Love Rears Its Ugly Head”, um mini assembléia entre os quatro membros discute qual música vai encerrar a noite, enquanto o público clama por “Black In Black”, do AC/DC, que abriu o show de 2004. O suspense só é quebrado quando a guitarra de Vernon Reid inicia “Crosstown Traffic”, de Jimi Hendrix. A música é convertida num funk rock dos bons, e repete o encerramento do show de 2007, como o plus de citar “Sunshine Of Your Love”, do Cream.

Durante os quase dez minutos seguintes, eles pareciam não acreditar na grandeza do show que fizeram e não saíam do palco, com direito de mais um mosh de Doug Wimbish, e até outro do gordinho Corey Glover, que o pessoal do gargarejo teve que suar a camisa pra dar conta de segurar. E ainda deu tempo para a pergunta que ficou faltando: What’s you favourite colour? Living Colour!

Set list completo:

1- Middle Man
2- Time’s Up
3- Go Away
4- Sacred Ground
5- Burned Bridges
6- The Chair
7- Decadance
8- Young Man
9- Method
10- Open Letter to Landlord
11- Bi
12- Solo baixo
13- Solo bateria
14- Papa Was a Rolling Stone
15- Glamour Boys
16- Behind The Sun
17- Bless Those (Little Annie’s Prayer)
18- Hard Times
19- Out of My Mind
20- Elvis is Dead/Hound Dog
21- Type
22- Cult of Personality
Bis
23- Love Rears Its Ugly Head
24- Crosstown Traffic/Sunshine of Your Love

O Living Colour se apresenta amanhã, em Belo Horizonte, no Music Hall. Mais detalhes aqui.

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Yvan Leonardo Barbosa Lima em outubro 17, 2009 às 15:15
    #1

    Sacred Ground é do disco Collideoscope.

  2. Marcos Bragatto em outubro 17, 2009 às 17:21
    #2

    Corrigido! Obrigado!

  3. Marcellinho em outubro 19, 2009 às 15:27
    #3

    Agradeço a banda por me proporcionar esse momento de louvor ao verdadeiro rock. Um salve para a banda Living Colour. d+!

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