O Homem Baile

Espetáculo visual dançante ao cubo

Em nova turnê pelo Brasil, que passou ontem pelo Rio, no Citibank Hall, Pet Shop Boys reafirma que a música dançante do grupo não sobrevive sem projeções e dançarinos extraordinários; público apenas razoável pouco colaborou. Foto (do show de setembro, em Nova York): Carlos R/Reprodução internet.

Neil Tennant canta entre os dançarinos, já na parte final do show, o mesmo de toda a turnê

Neil Tennant canta entre os dançarinos, já na parte final do show, o mesmo de toda a turnê

O novo álbum do Pet Shop Boys se chama “Yes”, mas a turnê que o grupo faz para divulgá-lo diz sim é para o espetáculo visual, dançante e ao cubo. A figura geométrica ocupa o palco por todos os cantos, desde a composição de enormes paredões brancos que recebem as onipresentes projeções, até o figurino de quatro dançarinos que se multiplicam no palco, mudando as performances a cada música. Tudo para turbinar o duo paradão e compensar a falta de integrantes tocando músicas com instrumentos de verdade. E funciona muito bem.

Até nas músicas do último disco, que a platéia, em número apenas razoável, demonstrou pouco conhecer. Nem as mais agitadas como “Did You See Me Coming?”, que antecedeu o “boa noite” tipicamente inglês de Neil Tennant, conseguiram arrancar palmas ou aplausos em quantidade, exceto quanto um detalhe do cenário ou do figurino dos dançarinos realçava no palco. Estes até tinham a tarefa de fazer os backing vocals, que, em volume bem mais baixo quer o da voz de Tennant, pouco eram notados. A excepcional vocalista que estava na turnê de 2007 fez falta, sobretudo em “Suburbia”, que dessa vez ameaçou um sambinha, mas chamou a atenção ao revelar que duas das dançarinas eram loiraças gêmeas típicas do norte europeu.

Outro momento em que a dança salvou o espetáculo aconteceu na fraca “Jealousy”, quando um casal representou uma típica briga de relacionamento, salientando os figurinos vermelhos sobre o fundo branco. Impressiona, também, a velocidade com que a troca de roupa acontece, e como os quatro dançarinos parecem ser ao menos uns dez. O primeiro grande momento do show acontece com “Go West”, depois de uma grande parede de cubos ir abaixo. No fundo, roadies caracterizados como engenheiros, de capacete e tudo, vão rearranjando o cenário, de acordo com um roteiro meticulosamente ensaiado. Mas é em “Always On My Mind” que o púbico, enfim, se solta, num dos melhores momentos de interação, muito devido a – de novo – a sincronia entre os dançarinos, dessa vez como “homens cubo” coloridos.

A cover para “Where The Streets Have No Name”, feita em 2007, foi substituída pela de “Viva La Vida”, numa prova de que até o duo pop dançante sacou que o Coldplay é o novo U2. Pena que ela foi emendada num pout-pourri junto com “Discoteca” e uma reles citação ao super hit “Domino Dance”, totalmente desperdiçado. O artifício é usado em várias partes do set, abreviando o show que dura cerca de hora e meia. Em “Se a Vida é (That’s The Way Life Is)”, uma dança latina dá tons caricaturais ao show, num momento “tem alemão no samba” constrangedor, em que pese a perícia dos dançarinos.

A caída que o espetáculo tem em animação, proporcionada por músicas mais lentas como “King’s Cross” (que o público gosta) e a nova “The Way It Used to Be”, é substituída pela animação na parte final. “It’ a Sin” encerra a noite com os cubões sendo alçados por cabos quase invisíveis, e no bis Chris Lowe volta com cocar à Carmem Miranda e Neil Tennant com chapéu da polícia britânica redecorado com plumas.

No gás, eles pagam a dívida de dois anos ao tocar “Being Boring”, omitida da última vez, e finalizam com “West End Girls”. Já quem esperava por “We’re All Criminals Now”, feita em homenagem ao brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia de Londres em 2005, ficou na saudade. “Obrigado, Rio, vocês foram demais como sempre”, diz o generoso Tennant. Vocês também, rapazes, vocês também.

Set list completo:

1. Heart
2. Did You See Me Coming?
3. Pandemonium/Can You Forgive Her?
4. Love Etc.
5. Integral/Building a wall
6. Go West
7. Two Divided By Zero/Why Don’t We Live Together?
8. Always On My Mind
9. New York City Boy
10. Closer to Heaven/Left to My Own Devices
11. Do I Have To?
12. King’s Cross
13. The Way It Used To Be
14. Jealousy
15. Suburbia
16. All Over The World
17. Se a Vida é (That’s The Way Life Is)
18. Discoteca / Domino Dancing / Viva La Vida
19. It’s a Sin
Bis
20. Being Boring
21. West End Girls

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