O Homem Baile

Sem músicos, Pet Shop Boys agrada, mas não arrebata

Em show apenas razoável, duo inglês se vale de recursos visuais e de da performance de dançarinos para conquistar público; poucos hits crescem ao vivo.

Um show do Pet Shop Boys é basicamente um espetáculo visual, e isso não estamparia a manchete de nenhum jornal. Mas ontem, no Citibank Hall (ex-Claro Hall), no Rio, às vezes o duo formado por Neil Tennant e Chris Lowe parecia mera figuração entre ágeis dançarinos e projeções de dimensões espetaculares. O telão no fundo do palco era tão grande e interagia tanto com os artistas que em muitas situações quem olhava para as imagens geradas ao vivo nos telões laterais tinha melhor noção do que se passava no palco. Ao menos quando Tennant não iniciava um hit esmagador, ou ainda um meia boca, caso de “Suburbia”, no qual a boa vocalista de apoio, com penteado à Benedita da Silva, quase entra numa de roubar a cena.

Apresentadas em dupla, a razoável “Minimal” e “Shopping”, chatinha que só ela, ganharam sobrevida graças às projeções que formavam seus respectivos títulos no fundo do palco. O clima ficou pesado quando “Dreaming of The Queen”, em homenagem a Lady Di, foi executada com imagens do enterro dela; se valeu o tributo, errou-se na medida e na forma. Neil Tennant canta bem e a plenos pulmões, mas no meio de tantos recursos eletrônicos, pré-gravados ou acionados por Lowe, fica a dúvida se é tudo feito ao vivo mesmo. Ainda mais em “Where The Streets Have No Name”, quando Tennant canta juntinho com uma imagem gigante da cabeça dele, na tela.

A música do U2 nem precisaria figurar no repertório do Pet Shop Boys – e é até lamentável que essa desvirtuação tenha acontecido, mas há que se valorizar a capacidade de Bono e sua turma de fazer músicas tão senso comum que até um duo que mal toca instrumentos consegue tirar proveito. Lugar comum são ainda as cenas de torcida filmadas no Maracanã e na Argentina, projetadas em “Paninaro”, mas que funcionam que é uma beleza.

Os dançarinos são uma atração à parte, trocam de figurino praticamente a cada música: são street boys, generais russos, soldados americanos (a guerra foi criticada ao menos uma vez, em “I’m With Stupid”), chicanos floridos e assim por diante. Com agasalhos esportivos eles lembram os Beastie Boys, no hit “Domino Dancing”, que ganhou uma versão mais lenta e foi incapaz de levantar o público como prometia. A tarefa coube, então, a “Always On My Mind”, que, enfim, sacudiu a platéia pra valer. Retirada do fundo do baú, “West End Girls” se juntou a “boring” “Sodom And Gomorrah Show” para fechar o set. E nada de “Being Boring”.

No bis, ”So Hard” veio fria e foi salva pela cantora (de novo), anticlímax ideal para “It’s a Sin” levar o público aos píncaros da animação, de forma definitiva. No final, as sempre dispensáveis apresentações dos integrantes – ainda mais quando só dois é que importam. Depois de um show quase sem músicos no palco, o que fica é a certeza de que, se música mecânica agrada e faz dançar, não arrebata como o rock, tocado com alma e suor. Nem quando se tem um punhado de boas músicas como o Pet Shop Boys.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Marcos Azevedo em outubro 16, 2010 às 2:59
    #1

    “não arrebata como o rock, tocado com alma e suor.”
    Infeliz e ingênuo o comentário, é de ficar abismado quando alguns roqueiros olham de lado e com ar de desprezo para bandas eletrônicas como a dupla acima e depois procuram o “suor e a sinceridade roqueira” dentro da ingenuidade carrancuda que só o metal pós Judas Priest pode proporcionar, por exemplo. O que pode ter de diferente uma dupla que “quase não toca” e um “Yahhh” em cada final de frase em quase todas as musicas do Metallica. Se existe por parte dessa garotada medo de parecer ridículo, ultrapassado ou até com sérias intenções de mostrar algo intelectualizado e anti social (que coisa mais ultrapassada), eu recomendaria Leonard Cohen, Bob Dylan, Paul Simon ou quem sabe um Miles Davis ou Coltrane para aqueles que não têm saco para entender o que uma letra diz, e tantos outros que tem muito mais a oferecer do que uma pretensa sinceridade, e eu falo isso como fã de Stones e Flamin Groovies da vida, só que a adolescência é curta e quando amadurecemos, não há mais espaço para pequenos grupos ou tribos e passamos a ser ecléticos. Mas como diz Kid Vinil, “não devemos deixar de ouvir algo apenas por rótulos”. Os Pet Shop Boys não são os Fab Four, mas garantem a diversão com discos que valem a pena se ter em casa.

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