Imagem é Tudo

The Who/The Greatful Dead

Classic Albuns
Who’s Next/Anthem to Beauty
(ST2)

thewhogreatfulclasicPara começar a contar a história da composição e gravação de um álbum clássico feito o “Who’s Next” foi preciso arrastar o roteiro do programa no tempo até o seu antecessor, o não menos antológico “Tommy”. Como pioneira ópera rock, fez o chefão Pete Townshend se esforçar para bolar uma sequência, que deveria girar em torno da história de uma clave musical(!). É claro que a coisa não deu certo, e o grupo partiu para um disco “normal”, se é que se pode usar o termo para um dos melhores álbuns da história do Who.

Como o especial apresentado nesse DVD foi finalizado em 1999, John Entwistle ainda estava vivo e repete, em estúdio, as sequências galopantes quer impunha em seu baixo. As imagens são entrecortadas com videoclipes clássicos que mostram que, durante as filmagens, ele não estava representando. No de “Won’t Get Fooled Again”, por exemplo, é impossível acompanhar o movimento dos longos dedos de Entwistle, e isso numa música aparentemente simples de se tocar. O baixista ainda manda uma versão acústica pra “My Wife”, que sobrou do disco solo, cantada por ele no álbum. O vocalista Roger Daltrey aparece em outro estúdio, relembrando grandes momentos das gravações, com saudades do fenomenal batera Keith Moon, e mostrando detalhes como o da gravação de um violino – que mal aparece – em “Baba O’Riley”.

A figura central, no entanto, é mesmo Townshend, que volta e operar os gigantescos sintetizadores nos quais treinou horas a fio pra chegar aos efeitos que aparecem no disco. É o caso da indefectível introdução de “Baba O’Riley”, e ainda em “Won’t Get Fooled Again”, duas marcas registradas do Who. Hoje seria fácil usar um pro tools da vida pra tirar um som parecido, mas ele quebrou a cabeça de modo exemplar para obter uma sonoridade única, que perdura até os nossos tempos. A inclusão desses teclados (e de outros mais convencionais) representava a busca do grupo, quase contemporâneo dos Beatles, em se atualizar no início dos anos 70, sem perder a pegada.

Além dos teclados, outra atitude de vanguarda, reforçada nesse especial, é o uso dos raios lasers que hoje podem parecer démodé, depois de tanto serem aplicados na década de 80. Só que o Who brincava com eles nos shows já no início dos anos 70. Por isso as imagens dos clipes – na verdade gravações de shows do grupo – são importantíssimas no desenrolar da história da feitura desse disco, que mostram artistas perseguindo o novo no rock, coisa relativamente rara nos nossos tempos.

Um pouco antes quem buscava a vanguarda do rock e da música pop era o Greatful Dead, se arriscando ao máximo em experimentações musicais e químicas, bancadas pelo uso de drogas, um must da psicodelia gerada pelos hippies no final dos anos 60. É hilário ver um executivo da Warner descrevendo as intermináveis pelejas que teve com o grupo, em estúdio, para conseguir tirar dos integrantes viajandões o álbum “Anthem Of The Sun” (1968), destrinchado aqui, no segundo DVD, junto com “American Beauty” (1970). Enquanto um queria músicas prontas para finalizar, os outros precisavam experimentar cada variação que os equipamentos da época poderiam oferecer, antes de chegar ao take final.

O Greatful Dead era o símbolo do vale tudo, do sexo, drogas e rock’n’roll pré-Aids que reinou nas esquinas das ruas Haight e Ashbury, em São Francisco. Era lá que eles tinham uma república na qual quem quisesse chegar para levar um som e fumar um era bem vindo. As imagens – na maioria recuperadas de documentários antigos – passam pela tela como fundo dos depoimentos, incluindo as obscuras conversas do guitarrista Jerry Garcia, que na época da feitura do vídeo, em 1997, ainda estava vivo, mas obviamente com as sequelas de quem curtiu muito bem a juventude.

Diferentemente do Who, nesse caso a capa de “American Beauty” carece de uma explicação, e os amigos desenhistas que a criaram mostram como fizeram para a palavra “Beauty” também ser lida como “Reality” – podem testar, sem fumar nada, que dá certo. As palavras circundam, segundo eles, a “rosa socialista”. Já em “Anthem Of The Sun” foi a vez de um Buda de inúmeras cabeças ganhar forma. As duas imagens refletem muito bem o visual psicodélico adotado na época, que até hoje se espalha pelo mundo, em revivals sazonais, ou mesmo recriados por novos artistas. Robert Hunter, um dos grandes poetas da contracultura, é outro de fora da banda que aparece tentando da sentido às letras que escrevia para Garcia, fechando o conceito psicodélico do Greatful Dead.

Por sorte ou por azar, o que resultou nos dois álbuns – revela o documentário – foi a edição final dos produtores e executivos da gravadora, que alegaram ser essa a única maneira de os discos serem concluídos. Ainda assim, há momentos que emocionam os integrantes, de volta ao estúdio para contar tudo, como a lembrança do baixista Phil Lesh, que compôs “Box Of Rain” em meio ao eminente falecimento do pai. Ou como “Sugar Magnolia” traçou uma espécie de crossover entre o rock e a música folk, num estágio mais avançado, segundo Bob Weir, guitarrista e colaborador do Greatful Dead. Por fim, não há muitas histórias – não que eles se lembrem –, mas vale pelo resgate de um momento, sim, histórico, objetivo da série “Classic Albuns”.

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