Rock é Rock Mesmo

Hora de organizar

Com a programação de shows no Brasil vinculada às datas livres no Hemisfério Norte, urge que se crie um calendário de festivais, ainda mais quando existe uma entidade como a Abrafin

Meus amigos, o que é a natureza. Não sei se os que acompanham essas linhas gostam de futebol, mas parto da premissa que, sim, adoram o esporte bretão. Assim como eu, tanto é que decidi, por um monte de razões e mais esta, criar a vizinha Bola é Bola Mesmo neste site que vos pertence. Digo isso porque, lá na cartolagem, querem igualar o calendário do futebol brasileiro ao do europeu. Pois, no mundo dos shows internacionais, nosso calendário já segue o europeu de futebol. Basta acabar o verão no Hemisfério Norte – Estados Unidos incluído, claro – para a temporada com as bandas de fora começar no Brasil.

E aí vamos até maio, junho e começa a seca de novo. Ocorre que o inverno lá é rigoroso pacas, e os caras fazem igual à formiga da fábula. Saem de casa para o trabalho/escola e da escola/trabalho pra casa por causa do frio. Assim, vão guardando grana pra bancar os inúmeros festivais de verão que acontecem religiosamente a cada final de semana, entre o término da primavera e o início do outono deles. Às vezes até mais de um por finde, sempre tem mais festival que data. E, também, lá se ganha mais dinheiro. Como sempre digo, o mendigo de lá é menos pobre que o daqui, se veste com muitas roupas e se chama homeless. Chique, né não?

Falando em festivais, aqui no Brasil, se não há, em geral, inverno tão rigoroso, também falta grana, de modo que sobram datas e falta público. Mas já passou da hora de se organizar a coisa, de modo a não coincidir eventos num mesmo final de semana – caso infeliz do Planeta Terra e do Maquinária desse ano, que ainda coincidem com o Dosol, lá em Natal. Eventos concomitantes não ajudam a ninguém. Perde o público que eventualmente iria aos dois, mesmo que, em tese, a gama de atrações seja planejada para públicos diferentes; perde a produção que deixa de faturar e perde espaço na mídia; perdem os patrocinadores e até a tal cadeia produtiva citada em dez entre dez projetos de patrocínio apresentados.

No caso dos festivais independentes, que hoje têm a Abrafin - vi o embrião nascer em 2005 – como representante, urge que se crie um calendário nacional de festivais para tentar organizar a coisa, de um modo minimamente possível para evitar-se um segundo semestre congestionadíssimo com este de 2009, que tem vários eventos afiliados acontecendo simultaneamente, num mesmo final de semana. Digo isso e já apresento a justificativa. Como a Petrobras se enrolou toda por conta dos estilhaços da crise mundial, demorou mais do que o previsto para a Comissão de Seleção de Patrocínio (da qual, diga-se de passagem, fui um dos integrantes neste ano) apresentar os resultados. E como obviamente todo mundo ficou esperando pra ver no que dava, e não havia, por parte da empresa, verba para os 89 projetos apresentados, só na área de festivais, embolou o meio de campo.

Esse ano já era, mas a Abrafin tem que começar a pensar ao menos num esboço para emplacar esse calendário o mais rápido possível. Senão, os festivais vão voltar para o gueto, até pela grande quantidade, um em cima do outro, como, aliás, já tem acontecido. Faz tempo, por exemplo, que não leio uma matéria nos quatro grandes jornais, nem em seus respectivos sites. Explicações, todos devem tê-las, mas há que se resolver isso logo, porque o tempo hoje é outro, passa rápido demais.

Falo disso e já volto para a Europa. Lá, muitas vezes, mal acaba uma edição de um festival e já são anunciadas as primeiras atrações do ano seguinte e o início praticamente imediato das vendas. É assim no Wacken Open Air, que começou discretamente numa fazenda no interiorzão da Alemanha e hoje é o maior festival de heavy metal do mundo. No Glastonbury, na Inglaterra, mas de 100 mil ingressos por dia são vendidos em questão de horas, sem que nenhuma atração seja confirmada. Ok, eu sei que é cruel fazer comparações com eventos de lá com os de cá, mas precisamos de um parâmetro, não é? Ademais, há novos festivais por aí, mas muitos já estão a caminho das vinte primaveras de existência. Mãos à obra, pessoal!

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. McCoy em outubro 29, 2009 às 18:54
    #1

    Bom Marcos.
    É sempre um prazer ler um artigo assinado por você. (Mesmo com o pesar do conteúdo da matéria). Já que não é a primeira vez que estou postando um comentário aqui, volto a dizer que o que falta no Brasil é união.
    Os empresários não se unem, as bandas não se unem, os politicos (bom, é melhor nem comentar).
    Concordo que faltam os festivais, mas, nem só de patrocínios vivem os festivais.
    É preciso união, organização, planejamento, e, principalmente coragem.
    Tudo bem, tudo tem custo.
    Mas nem tudo tem preço.
    Sou músico há tanto tempo e parece que vou morrer e não vou ver a minha classe unida. É uma pena, conheço bem uma quantidade de bandas que não deixam a desejar para nenhuma outra do “stranja”, mas não tem, e do jeito que vejo, jamais terão um grande festival prá tocar.
    Até qualquer dia desses. “Rock, é Rock mesmo e sempre vai ser”.

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