Imagem é Tudo

Kiss

Kissology
The Ultimate Kiss Collection
Vol. 1 1974-1977
(ST2)

kissoloy1“Vocês acreditam no rock’n’roll?”, perguntava um possesso Paul Stanley durante um show do Kiss em 1975, em Los Angeles. O guitarrista queria saber se todos ali na platéia tinham a mesma fé que ele naquilo que escolheu para viver, dentro da banda que representou como poucas o espírito “é rock, vamos nos divertir pra valer e o resto que se dane”. O que inclui as fantasias boladas pelos próprios integrantes, com peças adquiridas em lojas de apetrechos sado masoquistas, maquiagem feita por cada um deles, fogos de artifício, plataformas móveis, bateria deslizante, vômito de sangue, sopro de fogo e tudo o mais que fez a fama do Kiss ao longo dos últimos trinta e tantos anos.

Em três discos (2 + 1 de bônus) este DVD traz praticamente a íntegra de cinco apresentações do quarteto em sua formação original, entre 1975 e 1977. Só nesse período eles lançaram quatro discos de estúdio e um ao vivo, o famoso “Kiss Alive”, que foi tema da turnê que passou pelo Brasil em abril. Nessa altura o Kiss já era um “fenômeno”, como bem notou o apresentador de TV Don Kirshner em seu programa. O tal show de Winterland, filmado do meio do público, aparece em imagens em preto e branco que, se escondem muito da iluminação de um show do Kiss, dá contornos históricos interessantes, sobretudo em relação às apresentações subsequentes, se compararmos o repertório e as sutis mudanças de cenário e do figurino bizarro do grupo. O som – como na maior parte das mais de sete horas de material – é sofrível, mas isso, aqui, é o que menos importa.

No show de Detroit, em 1976, ouve-se pela primeira vez a apresentação que se tornaria clássica: “the hottest band in the world: Kiss!”. É também quando aparece “Rock And Roll All Nite”, espécie de música tema do Kiss, sempre acompanhada, ao vivo, por chuva de papel picado. Outro efeito incorporado é o da bateria, erguida a uns três metros de altura durante o solo de Peter Criss, mostrando que nessa época o grupo já começava a ganhar alguma grana. No encarte, Paul Stanley relembra a época em que ele e Peter tinham que cozinhar para todos, em quartos de motel alugados em dias entre shows que eram marcados na mesma cidade. Sem verba para voltar pra casa, permaneciam na cidade levando a vida. “Black Diamond” aparece no set e revela as qualidades vocais de Peter Criss e como é importante todos cantarem no grupo; quando não fazem as vozes principais, Gene Simmons e Paul Stanley se revezam em backing vocals essenciais para o conceito do hard rock diferenciado do Kiss.

kissspringtourPela primeira vez no Japão, com tratamento típico da Beatlemania, nossos heróis se viram numa situação inusitada. Os fiscais locais exigiram que todos retirassem as maquiagens para verificar se eram eles mesmos nas fotos dos passaportes. Como na época o Kiss só era visto em público com a indumentária dos shows, tiveram que retirar toda a maquiagem para passar na alfândega e depois colocar tudo de novo, sem que ninguém os visse. Já no local do show, milhares de japoneses com caras pintadas iguais às dos ídolos curtiam o espetáculo sentados. As imagens são todas coloridas e de qualidade um pouco melhor, mas sempre estouradas e com cores berrantes, marca da época, talvez. O disquinho extra traz um show nos Estados Unidos na véspera do Natal de 1977, e aniversário de Peter Criss, durante a “Love Gun Tour”. Junto dele, um “passe adesivo” de imprensa que reproduz o original, da “Spring Tour ‘75’”, cobiçado pelas meninas que queriam visitar o camarim dos mascarados.

O primeiro volume dessa série “Kissology” enfatiza os shows e praticamente não há documentários, mas se destacam passagens do grupo por programas de TV e momentos insólitos. Um deles é o registro de quando os quatro mascarados passaram o dia numa escola de segundo grau do interior dos Estados Unidos. Além do show, no ginásio, no dia seguinte o grupo desfilou em carro aberto pela cidade e maquiou vários senhores de respeito da comunidade, assim como suas esposas e filhos. De repente, numa cidade no Estado de Michigan, todos eram integrantes do Kiss, numa prova de popularidade em pleno 1975. Outro é a passagem por Londres, onde um anônimo Tony Wilson, totalmente envergonhado, apresenta o Kiss numa TV britânica, com direito a cenas no camarim. Wilson fundaria a gravadora Factory, que revelou a cena de Manchester para o mundo na década de 80, e iria dirigir e atuar no filme “A Festa Nunca Termina”. Na matéria aparecem trechos de um show no Marquee, e no encarte a célebre foto feita na London Bridge.

A “Love Gun Tour” vê as maiores mudanças de palco e nas roupas. A bateria dessa vez anda para frente e é erguida desfraldando um pano gigante com dois gatos impressos, numa referência à personagem de Peter Criss. No pedestal do microfone de Gene Simmons há uma serpente que cospe fumaça e Ace Frehley faz sua guitarra explodir no palco, quando já tem outra empunhada para tocar. Paul Stanley aparece com uma capa ladeada em plumas e destrói a guitarra no final, partindo-a em duas. Nada disso, no entanto, teria a menor importância se o Kiss não tivesse boas músicas. Até o período coberto por esse DVD elas encheriam facilmente um CD duplo. Embora interessante a histórica sequência de shows, o fato de várias músicas serem repetidas a cada apresentação pode cansar o espectador que não é necessariamente fã do Kiss. A dica é ver um pedaço de cada vez, uma vez por dia, que os resultados são ótimos.

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