Imagem é Tudo

Therion

Live Gothic
(Rock Brigade/Laser Company/Nuclear Blast)

therionlivegothicA imagem semicongelada no final desse show do Therion bem que poderia ser a do início. Quatro vocalistas (duas mulheres e dois homens) segurando bandeiras negras, dois guitarristas, um baixista e um baterista lá atrás, à frente de um cenário que inclui grades de cemitério e um painel de fundo que mais parece a parede de uma igreja e seus castiçais com velas acesas – não por acaso o título do DVD é “Live Gothic”. Pioneiro por fundir música erudita com metal extremo, Christofer Johnsson, o dono da boca, é um dos responsáveis por tudo que derivou disso nos últimos 10, 15 anos, e nessa turnê optou por um conceito com ênfase na parte vocal, tanto que por vezes parece que é a banda quem dá suporte aos vocalistas, e não eles um coro que acompanha o Therion.

O rodado Snowy Shaw é um deles, e atua praticamente como ator, seja lendo escrituras já em “Schwarzalbenheim”, a segunda do show, gravado em Varsóvia, na Polônia, em 2007, ou empunhando um martelo no bis, (obviamente) em “Thor (The Powerhead)”. Shaw tem uma variação vocal impressionante e é o encarregado de apresentar, primeiros as moças, antes de “The Falling Stone”. São elas a americana Lori Lewis e Katarina Lilja, que dão o tom nessa música, uma das cinco do disco “Gothic Kabbalah”, de onde saiu a espetacular turnê. Mas é quando as duas se misturam com o próprio Snowy Shaw e com Mats Levén que resultam os momentos de maior inspiração, caso de “An Arrow From The Sun”, com todos cantando juntos, realçando o contraste ente os timbres. Lá atrás está o simplório Johnsson, que não se furta em participar de um belo momento da noite com um riff colante.

Ele aparece tocando como nunca, ao lado de Kristian Niemann, em todo o set, mas, em particular em “Son Of The Staves Of Time”, junto com vocalizações extraordinárias; em “The Son Of The Sun”, colante, de veia pop e que também é realçada pelas vocalizações no final; e “Wine Of Aluqah”, em que uma dançarina surge com um objeto de tortura nas mãos que remete a outros dogmas do metal e inspira outro solo espetacular, dessa vez de Johnsson, sempre sustentado (e como contraponto) pelos vocais femininos, aqui em destaque. Ela volta com asas de pássaro em “Rise Of Sodom And Gomorrah” - um dos pontos altos do show - e é impressionante como uma música antiga como essa (é de 98) se funde tão bem no meio do repertório, numa alquimia musical que reúne o erudito, o metálico e o teatral com rara habilidade.

No solo de bateria, até comedido para um sujeito como Petter Karlsson, Shaw e Levén aproveitam para tocar tambores individuais à Sepultura em “Roots”. Nos extras do DVD aparece (sabe-se lá por qual razão) o mesmo trecho gravado durante a turnê, na Holanda. A íntegra do show, com cerca de duas horas de duração, vem direto no DVD, mas a embalagem de papelão, que parece um livro-tijolo, reúne duas caixas daquelas de plástico, com o áudio em dois CDs na segunda. Por causa da edição de imagens, alguns detalhes só são percebidos nos áudios, como apresentações e outras falas de integrantes, mas nada de prejudique o todo.

As grandes músicas que consagraram o Therion em toda a trajetória aparecem, em geral, mais para o final. O show é fechado com “Grand Finale”, uma instrumental que consegue brilhar num palco repleto de vocalistas fora de série. “To Mega Therion”, do álbum “Theli”, com seus sete minutos e turbinada pelas moças, é uma das mais aplaudidas, com o coro dividido com a platéia. Mas não fica atrás de “Lemuria”, do ótimo “Lemuria/Sirius B”, que ganha jeitão de balada, nem de “Thor”, encerrando a noite em destaque, tudo isso num bis arrasador. Um registro como esse, com o show num formato que certamente não deve se repetir tão cedo, ao menos no que depender do inquieto Christofer Johnsson, é desde já obrigatório. Ao menos para quem se interessa por boa música.

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado