Rock é Rock Mesmo

Festival é o que há

Apelos classemedianos de meia idade por conforto não podem tirar do rock a sua essência; é num festival que o rock tem encontro marcado com si próprio e com a eternidade

Meus amigos, como o tempo passa. Parece que foi ontem que escrevi sobre um colunista quarentão que deixou às pressas o show do Coldplay para saborear um bom bife num restaurante classemediano. Mas não foi, não. Com este site remodelado e todo atualizado pude ir na “busca” e descobrir que tudo aconteceu em há quase seis anos. E a sensação é dúbia, se divide entre “eu escrevi isso?” e “é isso mesmo!”. Porque o mundo, as opiniões e o rock mudam ao sabor do tempo - o texto é que deve (ou, no mínimo, pretende) ser eterno.

Mas falava do Coldplay, do bife e do colunista classemediano. Escrevo isso e me lembro que devo estar em falta com boa parte dos leitores. Isso porque fizeram aniversário a morte de Raul Seixas, grande ícone do rock no Brasil, e Woodstock, o maior e mais emblemático festival de rock em todos os tempos. E, aqui, nada. Mas, acreditem, não passou despercebido. Li e acompanhei matérias em todo o tipo de mídia, de vários tamanhos e importância relevante. E não vou esperar 40 anos para falar de Woodstock nem outros 20 para tocar em Raul. Rock, aqui, meus amigos, não é só em data cheia, é todo dia, um dia após o outro.

Não era isso, contudo, que eu queria dizer. O fato é que o nosso colunista classemediano, contratado para causar polêmica barata (tal qual seu antecessor, demitido ao vivo, no próprio jornal) decidiu dar um pitaco em Woodstock. Ou, por outra, aproveitou o “gancho” da falação sobre o festival para dizer que, embora seja fã de rock, não gosta deles – os festivais. Acha um saco ter que esperar pelas bandas que realmente quer assistir, não suporta filas para banheiro, a comida ruim, com pouca variedade, o local aberto, onde pode chover, a distância de casa, o estacionamento caro e ruim, e blá blá blá.

Ora, meus amigos, não é possível o rock sem os festivais. Um festival é o encontro pleno do rock com ele próprio e com a eternidade. É onde o fã de rock passa a maior parte do seu tempo envolto àquilo que mais lhe apetece no mundo, quando fica cercado de rock por todos os lados. Seja pelos diferentes palcos, com bandas tocando ao vivo, pelas barraquinhas vendendo tralhas ou pelo público em si, tudo gira em torno do rock. É como se, em estando lá dentro da área do festival, o mundo fosse rock de verdade, o tempo todo, desde o alvorecer até o último acorde da madrugada. Seja em Reading, no Acre, em Wacken ou no raio que o parta. Um festival de rock é a síntese de que o sonho não acabou, de que é possível um mundo rock, sim, ao menos enquanto durarem aqueles três dias de festival.

Num contexto desses, vamos e venhamos, como é possível pensar em banheiro, comida, filas, enfim um pouco de conforto? Ora, meus amigos, conforto temos em casa. Um banheiro, uma TV com tela gigante acoplada a um DVD, estantes cravadas de CDs e DVDs, uma cozinha abastecida, um telefone pra falar com os amigos… e só. O rock está ali fora, no terreno distante na periferia, no circo armado para durar só um, dois ou três dias, com todas as bandas que queremos ver, conhecer ou aproveitar um ou outro show para descansar, porque ninguém é de ferro. Se chover, molha. Se o dinheiro não der, passa-se fome. Se precisar, ta lá o banheiro químico, grande achado da humanidade. Se cansar, descansa. Só o rock é que não pode parar.

O curioso é que escrevo essa linhas e toca na rádio “Rock And Roll All Nite”, do Kiss. Rock a noite toda e festa todo dia, diz a letra. E não é assim um festival de rock? Reparem que pouco estou me importando em citar essa ou aquela banda, um ou outro gênero. Porque jamais um festival é, de todo, ruim. Ou, por outra, sempre há alternativas e motivos para se estar num festival de rock. Seja curtir a banda preferida, conhecer novos artistas, rever apresentações já experimentadas, assistir àquela turnê de reunião do grupo que você pensou que nunca conseguiria ver, deixar o rock te absorver, enfim. Como então aventar-se a possibilidade de isso ser ruim? Francamente.

O único palpite é que, o sujeito que assim se autoproclama, seguramente já perdeu o trem da história. Ou, na verdade, nunca gostou mesmo de rock, e agora começa a ser dar conta disso. Pensou que gostava quando era jovem, e ajuda a eternizar, com esse comportamento blasé, o clichê de que rock só é bom pra quem é jovem, no sentido literal da palavra. O pior é que espalha esse pensamento carregado de preconceito e pessoalidade em nome da formação de opinião, justamente numa época em que isso é o que menos importa. Só lhe resta um bom restaurante, com uma boa comida, um bom vinho, uma música de fundo de qualidade e um cartão de crédito para pagar a conta.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. omar em outubro 8, 2009 às 16:19
    #1

    Caro Bragatto,
    estou aqui tirando o atrasso da leituras do seu site e concordando contigo sobre a matéria em questão.
    Durante minha adolescencia, preferia ir nos shows do que ficar em casa escutando os discos, sempre gostei de ficar perto do palco!!
    Grande abraço!
    Omar

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