Você pode não se dar conta, mas houve um período em que o hardcore melódico dava as cartas no segmento do punk rock, lá nos idos dos anos 90. Foi nessa época que o Bad Religion fez sua história, e, se abrirmos mais o leque, tínhamos Green Day e Offspring no topo do mundo. Pois dentre as milhares de bandas que vieram a seguir estava o Face to Face, habitante de honra do segundo escalão do gênero, mas muito querida, sobretudo no Brasil, onde, curiosamente, só veio tocar depois do fim, no ano passado.

Um final de carreira de 13 anos que foi celebrado como o show “The Only Goodbye”, gravado em 2004 e que saiu aqui no Brasil justamente na esteira da turnê que trouxe o grupo de volta. Vamos e venhamos, não é toda banda que termina assim, num show excepcional tocando todos os seus grandes sucessos para uma platéia enlouquecida que não parou de agitar um só minuto, como bem manda a cartilha de um show de punk, seja a qual subtendência pertencer. E o Face to Face pode se orgulhar de ter feito hinos do hardcore melódico com sotaque bem pop, caso de “Disconnected”, uma de muitas em que o público mais participa, cantando à capela e tudo, antes de o couro comer.

Um sutiã jogado no palco é a deixa para o vocalista Trevor Keith avisar que “esse não é um show do Faster Pussycat”, deslocando a cena para os tempos em que o hard rock quase se vestia de mulher lá na mesma Califórnia onde o Face to Face e todo o hardcore melódico nasceram. Outra das boas é “You Could’ve Had Everything”, cujo título vira um refrão pegajoso e movimenta mais ainda a platéia ensandecida. O curioso é que o local, de planta retangular, palco relativamente baixo e com mezaninos, se parece muito com o Namastê Clube, onde o FF tocou no Rio, em dezembro. Podem chorar de saudades, cariocas.

Já “I Won’t Lie Down”, que sobressai nos videoclipes que aparecem nos extras, passa batido no show, que é encerrado com outra mais ou menos, “Ordinary”. No bis o antigo guitarrista da banda, Chad Yaro, reaparece para tocar “1.000 X” e “Bikeage”, resgatando a formação clássica, de quarteto, e o grupo se despede de vez com “It’s Not Over”, espécie de profecia que se realizaria de verdade. Os outros sete clipes dos extras são o tosco, mas real “Disconnected”; “Debt”, com os rapazes fazendo trapalhadas numa loja de fast food; uma versão alternativa para “I Won’t Lie Down”; “I’m Trying”, com imagens gravadas ao vivo; “The Devil You Know (God Is a Man)”; “Disappointed”, onde o grupo é substituído por pessoas comuns; e “The New Way”, outra feita com imagens de show.

Embora tenha o mesmo nome, a versão em CD não traz o áudio do show de 2004, mas uma coletânea com 21 músicas que cobre toda a carreira do grupo. Em relação o repertório do DVD, sete faixas não estão lá, e “Disconnected” aparece duas vezes, na versão do álbum “Don’t Turn Away”, que marcou a estréia do FF em 1992, e em outra, idêntica à do show do DVD, de 2004. Um bom apanhado para quem não conheceu o universo do grupo. Na dúvida, fique com o DVD, um belo retrato do hardcore melódico dos saudosos anos 90.

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