Como em fevereiro o Little Joy tocou em um Circo Voador lotado, natural que para uma volta no mesmo ano fosse escolhido um lugar maior como a Fundição Progresso, que reuniu um bom público, embora não tenha atingido a lotação máxima de 5 mil pessoas. Pena que o grupo, com repertório escasso, tenha feito um show tão curto – cerca de 50 minutos – para um público que estava ali disposto a tudo para se derreter em aplausos sob qualquer pretexto. O mínimo que se esperava era que o único álbum fosse tocado na íntegra, e umas duas músicas dos Hermanos e dos Strokes cairiam bem, segundo os pedidos que espocavam na platéia. Somados os shows de abertura – com os americanos Adam Green e The Dead Trees - o tempo de bola rolando não chegou a duas horas.

Embora não se perceba o mínimo esforço para cortar o cordão umbilical que une o Little Joy aos grupos que lhe antecedem e são a razão de sua notoriedade, o som do grupo aparece mais encorpado, até pela inclusão de um mini naipe de metais e pelo esforço do guitarrista Matt Borg, que tocou nos três shows. Borg parece ser o único músico de verdade na troupe e se arrisca a colocar um pouco de melodia e (às vezes) peso no remi-remi de Rodrigo Amarante. Foi assim, por exemplo, em “Don’t Watch Me Dancing”, de início vagaroso, que ganhou um crescente instrumental excepcional ao fim.

Ao menos o grupo não sonegou as novidades. “Quando soubemos que voltaríamos não queríamos repetir o show, então fizemos umas músicas”, disse Amarante, antes de tocar duas delas em primeira mão – ou em segunda, se consideramos o show de quinta, em Porto Alegre. Uma pode ser anotada, mesmo desconhecida, como a melhor do curto repertório. Foi talvez a única vez em que as três guitarras funcionaram pra valer – Fabrizio Moretti na terceira. Com o título provisório (e talvez incompleto), “I Agree” tem uma veia pop interessante e que de certa forma mostra, pela primeira vez, que há vida para o Little Joy sem buscar referências nas duas bandas que lhe deram vida.

Outra foi “Sambabylos”, uma mistureba curiosa de ritmos latinos e que tem um sotaque de big band bem instigante, com sutil troca de instrumentos entre os músicos. Entre as covers, “Midnight Voyage”, do Mamas & The Papas, apropriadamente cantada por Binki Shapiro, ganhou um “up grade” que faria a música se passar por própria com facilidade. Binki, aliás, parece estar entrando – agora sim – para o ramo musical, já que é integrante da banda por questões meramente circunstanciais. Acaba fazendo contraponto às terríveis vocalizações de Amarante, notadamente em “With Strangers” e “Evaporar”, que abre o bis solitariamente.

No outro cover, uma homenagem em que Amarante fez questão de mencionar que a gravação original foi feita com Os Mutantes como banda de apoio. “Procissão”, de Gilberto Gil, caiu bem no repertório, mas não perdeu o sotaque “gringo tocando mpb”. No fim das contas o que fica mesmo são as músicas que se parecem com Los Hemanos e Strokes, caso de “Next Time Around” e de “Brand New Start”, guardada para encerrar a noite com a participação das bandas de abertura e um gostinho de quero mais.

Entre elas, o Dead Trees mostrou ser um grupo interessante, com boas levadas de guitarra e um baterista que se impõe sem repetir clichês oitentistas, o que tem sido uma tônica no chamado “novo rock”. Já Adam Green, com vozeirão de Elvis Presley e requebrado à Iggy Pop, divertiu o público. Ele toca à frente dos integrantes do Dead Trees, que não paravam de rir. Bebaço, Adam mostrou que está curtindo adoidado as férias pelo Brasil. Os três grupos voltam a se apresentar hoje, em São Paulo. Mais detalhes aqui.

Set list completo Little Joy:

1- No One’s Better Sake
2- How To Hang a Warhol
3- Unattainable
4- Shoulder to Shoulder
5- All The Hours
6- Midnight Voyage
7- With Strangers
8- I Agree
9- Sambabylos
10- The Next Time Around
11- Don’t Watch Me Dancing
12- Keep Me In Mind
Bis
13- Evaporar
14- Procissão
15- Brand New Start

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