Rock é Rock Mesmo

Retorno do Faith No More alça Mike Patton do ostracismo

Além de fortalecer a conta bancária dos integrantes, turnê de reunião cessa, ao menos por um período, os projetos bizarros nos quais o vocalista se meteu desde o fim do grupo; o bom gosto agradece

Meus amigos, o que é a natureza. O mundo gira e a Lusitana roda, mas, por vezes, somos obrigados a voltar ao mesmo assunto. Há tempos tinha decidido não mexer mais com as inefáveis viúvas de Mike Patton, mas eis que, de uns tempos pra cá, elas é que não querem me dar um único segundo descanso. Desde que foi anunciada via twitter e repercutida nesse site a turnê de retorno do Faith No More que tenho sido arguido sobre o que eu vou fazer de agora em diante. Com a confirmação de ao menos um show no Brasil, lá nos cafundós de São Paulo, aí é que a coisa piorou.

Digo isso não que considere ruim a participação de leitores do que escrevo a torto e a direito - muito mais a torto do que a direito, diga-se -, mas porque é preciso ir devagar com o Faith No More porque Patton é de barro, se é que vocês me entendem. Envergonha-me aqui a proclamação do óbvio, mas é preciso dizer que a melhor coisa que poderia acontecer para Mike Patton foi o regresso do Faith No More, ainda que sem sua figura principal, o guitarrista Jim Martin. Porque como sempre digo, Patton é um looser de carteirinha, enquanto o Faith no More é uma banda excepcional, que, como muitas outras, teve início, meio e fim, e agora tem a sensacional volta. Aconteceu até com Pixies, lembram?

Explico. O Faith No More encantou o mundo e arrebanhou um sem número de fãs em todo o planeta numa década plena e diversa como os anos 90, ao trazer certo suingue para a música pesada, misturando groove com guitarras pesadas e um vocal porralouca capitaneado por Mike Patton. Só depois da entrada dele na banda, no lugar de Chuck Mosley, é que o grupo desabrochou para se tornar um dos ícones do funk o’metal, junto com o Red Hot Chili Peppers, ambos herdando ensinamentos do Killing Joke, despejados lá no pós punk oitentista.

No Brasil, a maciça exibição de clipes desses grupos na então estreante MTV, numa época em que isso fazia diferença, converteu milhares de fãs que se deliciaram com o bater de cabeça de Patton durante a segunda edição do Rock In Rio, em 1991, no Maracanã. A revelação do festival, que teve Judas Priest e o fabuloso Guns N’Roses ainda no auge, foi o momento alto do grupo junto ao público brasileiro, que comprava aos montes os discos “The Real Thing” e “Live At Brixton Academy”. Era, assim, o início do fim.

Digo isso baseado, inclusive, na desedificante apresentação deles no Monstros do Rock, versão carioca indoor do Monsters Of Rock de 1995, realizado em São Paulo. Um show patético no qual se via que a banda já tinha ido pro saco, e Patton, entrado em parafuso. Aí é que começaram os problemas. Com o grupo em franca decadência, seus integrantes, após o previsível fim, em 1998, decidiram sair de cena para arejar a cuca e pensar no que fazer. Todos, menos Patton, que iniciou uma insaciável jornada em busca do fracasso. O vocalista pirou e se meteu em inúmeros projetos bizarros, gastando a grana que ganhou (e não para de receber) com direitos autorais aos quais tem direito junto ao FNM. Como se anunciara, fracassou em todos, seja em suas próprias bandas e parcerias ou num selo que criou para enterrar grupos e artistas que com ele tem em comum o apreço pelo mau gosto.

Nesse caminho sem volta, por incrível que pareça Patton arregimentou um exército de fãs no Brasil que costumam andar de olhos (e ouvidos) vendados de modo que adoram tudo que ele faz de imediato, muitas vezes antes mesmo de saber exatamente do que se trata. Mas ainda. Costumam enxergar, em tudo o que gostam ou tem destaque na mídia, uma irrefutável influência de Patton, criando assim o universo paralelo das viúvas de Mike Patton, que em outras colunas eu tanto desenvolvi, para deleite de parte a parte.

Acreditam as tais viúvas, por exemplo, que Patton é o grande impulsionador daquilo que veio a se chamar de nu-metal, e que hoje quase nem existe mais. Acreditam que tudo que saiu da caixola de Ross Robinson e foi parar em discos do Korn e até do Sepultura, veio do álbum “Angel Dust”, talvez o mais fraco da carreira do Faith No More. Ignoram ainda, as tais viúvas, as bandas do metal bate-estacas (Helmet, Clutch, Prong), em prol de dar todo o crédito do metal alternativo produzido nos anos 90 para uma única pessoa: Mike Patton. E o que fez Patton, ele mesmo, sozinho? Nada, meus amigos, nadica de nada.

Não sei se me faço entender, mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. O Faith No More é uma banda das mais respeitáveis e esse retorno é muito bem vindo, apesar – repito – da ausência de sua figura central, o guitarrista Jim Martin. Já Mike Patton, sem o FNM, é uma figura apagada, desprezível e irrelevante no mundo da música. Por isso, a única forma para Patton voltar a ter o mínimo valor artístico é junto com o Faith No More. E, claro, é o caminho das pedras para conseguir se reerguer financeiramente, uma vez que torra dinheiro com seus projetos de fracasso vocacional. Sim, meus amigos, Patton pirou e joga dinheiro fora, mas sabe muito bem como e onde conseguir mais.

Gosto do Faith No More, mas abomino Patton. Eis o que eu queria dizer. O que significa que aguardo com ansiedade a marcação de um show aqui no Rio para poder, mesmo no meio de um enorme coletivo de inconsoláveis viúvas, curtir uma das melhores bandas dos anos 90. Como não gosto de ficar vendo vídeo minúsculo com qualidade de som sofrível no youtube, do show espero que o grupo faça o óbvio, que é tocar tudo que o povo quer. E que Patton não entre numa de ser maior que a banda, mais realista do que o rei. Não descarto a ida a São Paulo, mas o problema é que até os caros paulistanos reconhecem que o local escolhido para o evento fica num fim do mundo colossal, além dos gênios terem programado dois festivais (Maquinaria e Terra) para a mesma data. Pode isso?

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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Comentários enviados

Existem 6 comentários nesse texto.
  1. Bruno Eduardo em agosto 24, 2009 às 2:31
    #1

    Marcos Bragatto.
    Eu sempre acompanhei seus textos em algumas publicações antigas e finadas. Mas não conhecia essa sua síndrome anti-Patton. Não é possível que essa sua reação seja apenas por não gostar de um trabalho musical de determinado artista.

    Esse tipo de texto, é típico de jornalistas que abandonam a isenção de alguma forma, para poder retaliar alguma ação passada. Algo, que nós que estudamos Comunicação Social (jornalismo), sabemos que possa vir a acontecer, mas que nunca deveria.

    Mas visto que hoje, “qualquer um” possa vir a ter um blog, e brincar de jornalista, então você que já é antigo na praça, sabe, e tem total direito de mostrar a sua visão.

    E se a sua ira é apenas contra as “viúvas” ou “fãs-exagerados”, então posso te dizer: Pessoas assim temos aos montes, de todos os artistas possíveis, até dos menos talentosos.

    Não é só o Mike Patton, que venha a ter essa legião. O que solidifica cada vez mais a minha opinião, que você tem muito mais prazer de meter o malho no determinado artista e em seus fãs, do que relatar a sua opinião técnica de especialista musical.

    O que deixa a pura sensação de alguma retaliação, devido à mágoas passadas.

    Lembre-se: Do jeito que há as “viúvas”, há os “cornos” também.

    Abraços e Parabéns.

  2. Vital em agosto 24, 2009 às 14:58
    #2

    Fala velho brother, deixa eu meter um pouco a mão nessa cumbuca rs..
    Gosto muito do Faith no More, e acho que não me enquadro na sua definição de “viúva”, porque não sou assim fanático pelos trabalhos avant-garde do Patton. Acho os três discos do Mr. Bungle bons e do Fantômas, só curto aquele com trilha de cinema. Acho sim que Patton fez muita barulheira sem sentido e muita coisa chata fora esses projetos aí que citei. Acho os dois CDs solo dele inaudíveis. Também acho que tem uma galera que é fanática, gosta de qualquer coisa dele. Não é meu caso.
    Tendo isso posto, deixa eu discordar de algumas coisas.
    Não concordo que a figura central do FNM era o Jim Martin não. Você mesmo cita que a banda “desabrochou” com Patton, então nem preciso dizer mais nada. Os dois discos antes de Patton eram muito mais ou menos, e já tinham Jim Martin.
    Acho que ce dá uma exagerada, Bragatto! Tudo bem não gostar do Angel Dust, mas acho que o FNM ainda lançou o King For a Day, que nem tem nada a vercom nu-metal, e é um puta álbum.
    É claro que não foi só o FNM qeu ajudou a criar o Nu-Metal, todas essas bandas que você citou também, e mais um monte de outras. Mas dizer que Patton e o FNM não tem nenhuma influência nessas bandas é desmentir os próprios caras do Korn, Slipknot, Deftones e tantas outras que já declararam publicamente a influência. Inclusive o Korn planeja um CD de covers que vai ter NIN (outra influência) e “We Care a Lot”, que é um funk-metal de 1985!
    Pra terminar, uma última discordância: que Patton tenha fracassado nos seus projetos fora do FNM. Acho que aí é questão de considerar “sucesso” apenas o sucesso no mainstream, o que não acho que era a intenção do cara com 100% do que fez na sua gravadora. Apesar de não gostar de 99% do que ele fez fora do FNM, acho que o cara tem direito de fazer o que bem entende. Só porque o cara quis fazer outras coisas depois do FNM não quer dizer que o cara seja um merda, acho que tem uma distância muito grande… pra mim é simples. Isso eu gosto, isso não.
    Bragatto, foi mal, mas a peça central do FNM foi Patton sim, a influência da banda nos anos 90 e 00 foi enorme sim e Patton, na minha humilde opinião, é um cantor excepcional, maluco, gosta de fazer uma bizarrices sonoras, mas não deixa de ser um artista talentoso.
    Abração, rapá!

  3. Marcos Bragatto em agosto 28, 2009 às 17:46
    #3

    Bruno,
    Não tenho “prazer em meter o malho”, não, rapaz. Tu me conhece e sabe disso. Mas tenho opinião. Agora, tu faltou aquela aula em que explicam a diferença entre os textos jornalísticos, né?

    Vital,
    Seja bem vindo ao rol das viúvas! Tua vocação é essa!
    O exagero (a hipérbole) sempre foi parte integrante dessa coluna - e do rock em si. Assim como artistas citam as influências que lhe são convenientes. Daí bastar ouvir as músicas para desmenti-los.

    Abraço a todos e obrigado pela participação!

  4. Pink em novembro 27, 2009 às 17:24
    #4

    Meu caro Bragatto,
    Antes de você expor a sua opinião sobre um determinado artista, não se esqueça de ter boas informações sobre ele.
    Como abominar Patton e gostar do FNM ao mesmo tempo, visto que a banda teve uma transformação considerável após sua entrada? Jim Martin podia ser bom, mas, a figura central da banda nunca foi ele.
    Além de seu texto haver controvérsias, ainda tem coragem de dizer que o album “Angel Dust” é fraco? Que nenhum projeto do Mike é bom fora do FNM. Nunca ouviu o Mr. Bungle antes?
    Se você não souber o que é Experimental Rock jamais escreva o que não sabes pois dará um ar de “tô boiando no assunto”.
    Ah, e mais respeito ao artista pois jamais Mike Patton é “apagado, desprezível e irrelevante” como dito por você. Ele é sim muito talentoso e de uma categoria vocal raríssima.
    Agora, eu tô aqui imaginando você no show do Rio e cantando as músicas com letras feita pelo Mike. Estranho, né?
    Abraços, meu caro!!!
    Mas escolheu a pessoa errada para falar mal.

  5. Natanael em dezembro 6, 2010 às 6:57
    #5

    Angel Dust é fraco, parei de ler ai

  6. Romulo em dezembro 29, 2010 às 2:21
    #6

    Esse Marcos Bragatto deve ter uma dor de cotovelo enorme do Mike Patton pelo visto, pelo teor do texto que ele escreveu!
    Não falou nada com nada, e desconhece a história do próprio Patton, falou muita besteira, quem disse a você que Mike Patton queria sucesso com seus projetos paralelos? Ele já é um ícone do rock, o projeto dele, Fantomas, em parceria com o Melvins, é muito bom! Você pelo menos escutou esse álbum? E ainda chama a gente de viúvas, querendo chamar atenção. Esses ”críticos” musicais me dão ânsia, por isso não compro revistas de rock há muito tempo!

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