O Homem Baile

Solo, Nasi flerta com a decadência

Ex-vocalista do Ira! revê altos e baixos de sua carreira para um público que podia se contado a dedo, ontem, no Rio. Moptop e Vivendo do Ócio fizeram a abertura.

Como artista solo depois do imbróglio com empresário-irmão e ex-integrantes do Ira!, o vocalista Nasi mostrou ontem, no Circo Voador, no Rio, o que pretende com sua carreira solo. Acompanhado de uma banda formada por veteranos da noite paulistana, Nasi, trajando um modelito em preto e vermelho no mínimo brega, mandou um apanhado de tudo o que já fez nas andanças do rock. É como se o ex-vocalista do Ira! tivesse parado para pensar em sua própria trajetória, não só (muito menos, na verdade) com sua ex-banda.

Assim ressurge, do primeiro álbum que ele gravou, em 1983, com o Voluntários da Pátria, a solitária “Verdades e Mentiras”, num dos melhores momentos do show. Noutros menos inspirados, Nasi vai fundo na geração dos nos oitenta que o revelou, aproveitando sucessos da Legião Urbana, quando dedica “Será” aos “órfãos da Fluminense FM”, já no bis, incluída de surpresa. De Renato Russo, tocou ainda “Música Urbana” e uma patética releitura de “Teorema”. Sem piedade, transformou “O Tempo Não Para”, a música mais emblemática de Cazuza, numa baladaça de arena com direito a solos e backing vocals de fazer inveja à Bon Jovi.

Poucas lembranças do Ira! entram no repertório do show, como a bela “Tarde Vazia” e a inspiradora “Núcleo Base”, ambas com um sotaque classic rock inexistente em sua ex-banda, cuja sonoridade era comandada - diga-se e passagem - pela guitarra de Edgar Scandurra. Da época em que se chamava Nasi & Os Irmãos do Blues, veio coisas como “Blues do Assobio”, e a insuspeita inclusão de “Hoochie Coochie Man”, de Willie Dixon, no início do bis. Em “I Feel Good”, quando dubla uma performance de James Brown, no encerramento de um bis que teve nada menos que seis músicas, testa o cansaço de um público que podia ser contado a dedo, mas que, dado o avançar da hora, ganhou honrarias de herói.

Apesar de uma versão com letra em português de gosto duvidoso para “Train In Vain”, do Clash, a pior parte ficou, sem dúvida, num bloco inteirinho dedicado a Raul Seixas, incluindo um solo de bateria e desabafos de Nasi em “Mosca na Sopa”. Com um tom de “vocês vão ter que me aturar” o vocalista citou o “empresário ladrão”, numa referência ao irmão que ocupava a função no Ira!, e bradou: “balanço, mas não caio!”. Resta saber se essa é só uma fase de transição para uma carreira solo que tenha algum valor artístico, ou se Nasi vai mesmo enveredar pelo caminho do cover retrospectivo. Se der mole, periga acabar numa Festa Ploc da vida.

Antes, o Moptop fez um dos melhores shows de sua carreira. O grupo está conseguindo fundir bem as músicas do primeiro e do segundo discos, fazendo o repertório ficar bem arredondado. Com o guitarrista Rodrigo Curi cada vez mais solto e ousado, o quarteto prova ter o rock na veia e que não é só mais hype anunciado aos quatro ventos. A hora agora é de começar a mostrar as músicas novas para o fiel público, que dessa vez – diga-se – decepcionou. Menos gente ainda viu o baiano “Vivendo do Ócio”, uma boa banda que aposta no novo rock, mas não abre mão de um olhar ao básico. Mostraram potencial, mas ainda precisam comer muito angu para crescer no mercado.

Nota: alguém precisa fornecer um martelo e um maço de pregos 18×27 aos roadies do Circo Voador, senão a bateria vai acabar saindo pra tomar uma cerveja na Lapa.

Tags desse texto: , , ,

Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. JOSEPH em agosto 3, 2009 às 14:18
    #1

    Pra quem diz que os outros enganam, o Wolverine semi-aposentado deveria parar de enganar a si mesmo e voltar a fazer o que sabe de melhor…

    E usar Raul para destilar esse (já mais do que vencido, diga-se) pseudo-ódio patético ao irmão e aos ex colegas da banda é mais deprimente ainda…

    Parabéns pela bela resenha, Bragatto!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado