Fazendo História

Nunca desafie o heavy metal

Atravessando décadas, o rock mais pesado de que se tem notícia até hoje se diluiu ao longo de sua trajetória em subgêneros e tornou-se indestrutível. Laboratório Pop livrou-se das lantejoulas e mergulhou nas profundezas do metal. Matéria de capa da edição número 6, de setembro de 2005. Entrevista System Of A Down por Bernardo Araújo. Fotos: Divulgação.

system-of-a-downEm 1969, Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Bill Ward e Geezer Butler se encontraram num pub em Birmingham e traçaram, entre brindes de cerveja, os pilares do que viria a ser chamado de heavy metal; um rock pesado, energético, veloz e gutural, flambado pelo blues, temperado por teores góticos e aditivado com muita distorção. De lá para cá, gêneros outros passaram e quiseram soterrá-lo, do punk ao grunge. Mas o heavy metal jamais agonizou – ou morreu, como já quiseram muitos. “Mesmerize”, novo disco do System Of A Down, é uma prova maior de sua resistência. Agrega elementos de Metallica, do próprio Sabbath, mistura elementos da música praticada na Armênia, flerta com o pop e esta aí, no topo das paradas européias e americanas, na contramão do Coldplay, do White Stripes ou de qualquer outro mainstream. Com vocês, o heavy metal.

O INIMIGO DENTRO DE CASA
Contra Bush, contra as corporações e contra a obviedade, o System Of A Down, grupo de descendentes de armênios radicados nos EUA, transforma-se na banda de heavy metal mais pop do mundo e ganha o topo das paradas.

Descendentes de armênios, Serj Tankian (voz e teclados), Daron Malakian (guitarra e voz), Shavo Oladjian (baixo) e John Dolmayan (bateria) meteram o pé na porta dos Estados Unidos e não há quem os tire de lá. Instalados na Califórnia desde 1995, os quatro fundaram o System Of A Down, que, três anos depois, espalharia agressividade e letras contundentes contra as injustiças e a política humanitária da América no disco homônimo, às quais varreu com atitude e boas canções. Em “Toxicity”, de 2001, o quarteto irradiou-se mundo afora com canções como “Chop Suey!” e “Serials”. O CD que lançariam em seguida foi para na internet. O que os fez colocá-lo ns lojas com um mínimo de promoção e o nome “Steal This Album!” (“Roube Este Disco!”), logo em seguida. Com o recém lançado “Mesmerize”, o SOAD já ultrapassa a marca de 11 milhões de discos vendidos. O disco é a primeira parte de uma dualogia que deve ser encerrada no fim do ano com “Hypnotize”. Em entrevista à Laboratório Pop, Oladjian e Dolmayan contam, entre outras coisas, como é viver num país cujo governante, George W. Bush, odeiam com todas as forças.

Por que vocês vão lançar um disco seguido de outro?

John Dolmayan: Ficamos muito tempo no estúdio, cerca de um ano, aperfeiçoando as músicas. Foi um processo divertido e gratificante, mas muito cansativo também. Quando terminamos, achamos que tínhamos canções em número suficiente para dois discos. Resolvemos, então, lançar “Mesmerize” agora e, daqui a seis meses, “Hypnotize”. Se lançássemos um disco duplo, seria informação demais para os fãs absorverem, além de encarecer o preço do CD.

“Steel This Album!” também teve um lançamento diferenciado…

John: Acho que sim. Como aquele era um disco que tinha vazado para a internet, quisemos competir com os downloads com o lançamento mais barato possível, sem capa, sem singles, clipes ou outras frescuras.

Como a Sony vê a estratégia de lançamento de “Mesmerize”?

John: Para eles, quanto mais produtos lançados, melhor, né? Eles só reclamam se você não lança discos. Que companhia se queixaria de ter produtos demais? Além do mais, nós não somos uma banda típica de rádio americano, então temos que tentar mostrar nossas músicas de outras formas.

Vocês realmente estão o tempo todo preocupados com a política do governo Bush?

John: Claro que não. Sabemos o quanto o Bush é ruim para o povo americano e para o mundo, mas o problema é muito maior, é global. Votamos em John Kerry, mas não sei se um governo dele seria melhor ou tão ruim quanto o de Bush. Temos características diferentes da maioria das bandas, como o enfoque político e a ascendência armênia. Temos consciência política, mas não sei se essa é a nossa característica mais marcante. É claro que queremos marcar a nossa posição contra Bush, por exemplo. Até porque são raras as bandas que fazem isso. Os EUA só mudariam de verdade com uma revolução. Hoje em dia tudo é comandado por lobby, através das graves corporações.

Shavo Oladjian: Ninguém mais tem essa coragem! Mas também não estamos nem aí para o que outras bandas fazem.

Por que vocês resolveram tocar para menos pessoas nessa turnê?

Shavo: É muito mais divertido tocar pra mil pessoas que te vêem bem, olhar nos olhos deles e ouvi-los cantar. Mas sabemos que a demanda pelos nossos shows é grande. Essa primeira série de shows, em lugares menores, foi apenas um aquecimento. Os próximos shows, com a abertura do Mars Volta, já serão em grandes arenas.

E o Brasil?

John: Desta vez fazemos questão de ir até aí. Não importa se receberemos menos, mas impusemos isso ao nosso empresário. Além disso, temos brasileiros na equipe que sempre nos dizem como o público daí é apaixonado.

Vocês vão à Armênia também?

John: Estive dias vezes na Armênia. Gostei muito de ver a terra de meus antepassados, inclusive a parte ocupada ilegalmente pelos turcos. Também temos que tocar por lá. Devemos à Armênia grande parte do que nos torna uma banda diferente de todas as outras no rock atual.

ESTÃO TODAS POR AÍ
Fundamentais na história do heavy metal, bandas do gênero resistem ao tempo empurradas pela força de seus fãs

Volta e meia dizem que elas estão acabadas, que o tipo de música que tocam está esgotado blá blá blá. Entre opiniões desconjuntadas, porém, há um público fiel que se recusa a decrescer. Alheio à moda, o heavy metal continua bem, obrigado. Laboratório Pop também mostra como andam as bandas mais atuantes no mundo da história do heavy metal desde que ele começou a ser moldado no fim dos anos 60.

Black Sabbath

O Black Sabbath foi a banda que melhor encarnou o metal enquanto conceito, incluindo aí as roupas de couro, cruzes invertidas, além de ser a grande referência no rock. Com a formação original, com Ozzy nos vocais, o grupo prossegue sua jornada e é o headliner da décima edição do Ozzfest, nos Estados Unidos. O Black Sabbath é a banda que mais vende discos, sejam eles relançamentos dos clássicos ou coletâneas. As últimas músicas “novas” foram incluídas no duplo ao vivo “Reunion” (98), que marcou o show com a formação original em Birmingham, sua natal deles.

Ozzy ficou até 78; Dio, entre 80 e 82, e depois entre 92 e 93; e até o Deep Purple Ian Gillan já assumiu os vocais (“Born Again”), como também o esforçado Tony Martin.

Seis discos moldaram o heavy metal através das larvas do BS: “Black Sabbath” (70), “Paranoid” (70), “Master Of Reality” (71), “Volume 4” (72), “Sabbath Bloody Sabbath” (73) e “Sabotage” (75). O último ao vivo da banda é de 2002, com gravações feitas nos anos 70. A esperança é de que os quatro cavaleiros – Ozzy, Tony Iommi, Geezer Bulter e Bill Ward – aproveitem esta nova reunião e consigam compor juntos.

judasJudas Priest

Também nasceu em Birmingham, ainda em 70, e foi uma das primeiras bandas da época a usar dois guitarristas e apostar numa velocidade até então inédita. O vocalista Rob Halford personificou as roupas de couro e os acessórios do metal. O JP cristalizou-se na new wave of british heavy metal, no final dos anos 70/início dos 80. Álbuns como “Stained Class” (78), “Hell Bent For Leather” (79) e “British Steel” (80) viraram clássicos. Em 90, um outro grande sucesso: “Painkiller”, a última participação de Halford à frente da banda. A turnê desse disco passaria pelo Brasil em 91 durante a segunda edição do Rock In Rio, e em seguida, Rob Halford assumiria sua homossexualidade e deixaria a banda para se dedicar a projetos solos. Em seu lugar entra Tim “Ripper” Owens, um vocalista de banda cover.

À frente do Fight, do Two - uma banda “tecno-gay” - e de sua própria carreira solo (que esteve no último Rock In Rio), Halford retornou ao Judas no ano passado, na turnê que passou pelo Ozzfest. Em janeiro último saiu “Angel Of Retribution”, o espetacular disco que marca seu retorno. Também está no mercado “Metalogy”, a primeira caixa retrospectiva da banda, com quatro CDs e um DVD com um show gravado em 83. A turnê de “Angel of Retribution” passará pelo Brasil em setembro.

Slayer

Da geração thrash metal nascida na Bay Area californiana nos anos 80, sem dúvida o Slayer sempre foi a banda mais extrema. E, mesmo nos momentos em que lançou discos mais acessíveis, esteve longe de ser taxada de “vendida” ou de ter mudado o rumo de sua música pelo sucesso. Enquanto o Metallica enfatizava a técnica incluindo trechos instrumentais em suas músicas, o Slayer buscava a velocidade. Não que seus integrantes não fossem bons músicos, mas essa não era a prioridade. A brutalidade, sim. O álbum “Reign In Blood” é o clássico da banda, seguido de perto por “Seasons In The Abyss”, este último mais “pop” - levou o Slayer à MTV, onde o clipe para a faixa-título fez morada no comecinho dos anos 90.

Mesmo desde 2001 sem lançar um disco de músicas inéditas - último foi “God Hate Us All” - a banda continua em alta rotação. Nesse período, lançou dois DVDs: o sensacional “War At Warfield” e “Still Reigning”. O grupo deve lançar um material de inéditas ainda em 2005.

Metallica

Após o sucesso estrondoso do “Black Album” (91), o grupo mais representativo da geração do thrash metal bateu cabeça atrás de uma fórmula para se manter em alta, sem, entretanto, renegar o passado glorioso, construído nos guetos do underground. Foi assim que os discos “Load” e “Re-load”, com o mesmo material, saíram em 96 e 97, e mantiveram a banda no topo.

Para harmonizar seus integrantes, foi contratado um psicólogo que recebeu US$ 40 mil por mês para que as gravações do último álbum, “St. Anger”, chegassem ao fim. Essa história é contada no longa-metragem “Some Kind Of Monster”, exibido no Brasil e lançado em DVD. O disco só aumentou a polêmica em torno da banda. O motivo? “St. Anger” é um disco de metal, mas suas músicas praticamente não têm solos de guitarra e a bateria foi gravada com uma sonoridade excessivamente aguda. Tudo muito diferente dos anos de ouro do Metallica, quando os três primeiros álbuns, “Kill ‘Em All”, “Ride The Lightning” e “Master of Puppets”, ajudaram a dar a cara ao thrash metal.

Outras polêmicas nasceram da revolta de Lars Ulrich contra o Napster (programa criado para baixar músicas gratuitamente na Internet, hoje agregado à uma grande gravadora), e o cancelamento do show que a banda faria no Brasil no ano passado. Motivo de chacota até para Bruce Dickinson, quando o Iron Maiden esteve no País no mesmo período do cancelamento. Atualmente, a banda está parada e não há previsão para a gravação de um novo disco.

Motörhead

A banda liderada por Lemmy Kilminster (ex-roadie de Jimi Hendrix) já fez o rock pauleira dos anos 70, metal extremo, thrash metal e até baladas à Ozzy Osbourne, fazendo dueto com o próprio Ozzy. Se você perguntar para Lemmy, ele vai dizer que sua banda faz simplesmente rock’n’roll.

E ele tem razão. Só que um rock alto, barulhento, com guitarras distorcidas e o típico baixo detonado que Lemmy não deixa de usar nos shows, assim como a própria indumentária de caubói, usada na capa do clássico “Ace Of Spades” (80) e que ele nunca mais tirou. Recentemente, por um descuido, Lemmy teve o chapéu roubado por um fã e chegou a oferecer uma recompensa para que o recuperasse.

Quando Lemmy completou 50 anos, em 95, por exemplo, o Metallica fez um show inteiro só com os clássicos do Motörhead, em Los Angeles. O detalhe: os quatro integrantes fantasiados de Lemmy, com direito a costeletas, verruga e tudo.

“Inferno” é o disco mais recente do trio, que só conta com Lemmy da formação original. Mas é fácil encontrar, a toda hora, relançamentos de discos clássicos e necessários para e entender a história do metal, como o já citado “Ace Of Spades” (80), “Iron Fist” (82), “Overkill” (79), “Orgasmatron” (86) e “No Sleep ‘Till Hammersmith” (81).

Andreas Kisser

Andreas Kisser

POR QUE NÃO AGONIZA NEM MORRE
Andreas Kisser diz que o metal é o gênero que mais se abre a outros estilos; Kiko Loureiro credita renovação à defesa da essência

A defesa do metal é incendiária. Basta passa algumas horas nos corredores da Galeria do Rock, em São Paulo, onde mais de 200 lojas atraem adolescentes ávidos especialmente por heavy metal, e verificar que há um universo paralelo além do mainstream do rock. “O metal é o estilo que mais abre as portas para estilos novos. Existem várias vertentes que englobam outras e eu não vejo isso em outros estilos musicais. Cresce tanto porque é uma música que está sempre se renovando, é o estilo mais aberto e no qual é possível fazer coisas novas. Há a idéia de que é radical, mas a antena do povo do metal tá sempre ligada com tudo o que tá acontecendo”, começa a defesa Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura.

Não é esse, entretanto, o que diz a imprensa especializada. Desde que o Black Sabbath, um dos grupos fundadores do metal, surgiu no final dos anos 60, o gênero sempre foi taxado de primitivo e reacionário. “O heavy metal tem uma estrutura básica de guitarra, distorção, baixo, bateria e vocal, e essa estrutura pode ser aplicada e adaptada a quase qualquer circunstância. Música clássica, regional, mais veloz, balada, o que você imaginar. E por isso o público se renova e cresce com a readaptação desses elementos, sem perder as características básicas”, analisa o guitarrista do Angra, Kiko Loureiro. Ele próprio, no Angra, toca músicas inspiradas em temas de origem na música brasileira, sem perder uma grama de peso, além de ter usado referências do tipo no primeiro álbum solo, “No Gravity”, recém lançado.

“O metal é uma espécie de religião, uma coisa que contagia as pessoas e quem entra nesse mundo acaba pirando mesmo”, avalia Max Kolesne, baterista do Krisiun, no dia em que embarcaria para os Estados Unidos e Europa, onde o Krisiun deve passar todo o verão tocando nos grandes festivais. Vitão Bonesso, produtor e apresentador do Backstage, programa especializado em heavy metal de São Paulo, e um dos que estão no ar há mais tempo, vê uma certa cumplicidade entre o gênero e seus fãs: “É uma troca de fidelidade, o estilo também é fiel aos seus fãs. No heavy metal uma banda pode até ter lançado um álbum ruim, mas dentro do estilo, o que não significa que ela esteja abandonando o barco”. Kiko Loureiro vai mais longe, e acredita que essa fidelidade pode estreitar a relação entre músicos e fãs: “Os fãs de metal tornam-se músicos, mantendo o legado vivo. Há um orgulho de pertencer a esse estilo de vida, e essa comunidade não morre”.

A pluralidade de referências e elementos incorporados ao metal é realmente grande, e o resultado é a criação de subgêneros os mais diversos, tantos que, às vezes, fica difícil até de distinguir uns dos outros. Ou, ainda, arriscar o que pode acontecer daqui pra frente. Vitão Bonesso crê no revival do thrash metal; Kiko verifica a ascensão do gothic metal e aposta na fusão de vários subgêneros do metal; Kolesne, claro, acredita no metal extremo; e Andreas Kisser joga as fichas numa volta às raízes: “Já rolou tanta mistura que é hora de segurar um pouco, dar uma digerida nisso, escutar realmente o que aconteceu nos últimos anos e fazer uma coisa um pouco mais tradicional”.

ELES DERAM MOLHO AO HEAVY METAL
Bandas como Korn e Nightwish reciclam o gênero e levam à frente a filosofia do rock pesado

Nos anos 90 o heavy metal teve seus dias de glória com o sucesso das bandas que nasceram do thrash metal californiano. O surgimento de um novo subgênero – o nu-metal –, porém, iria causar um racha no estilo em todo o mundo. Enquanto o mercado americano mergulhava de cabeça nas bandas produzidas pela nova onda e confinava as demais tendências ao underground, na Europa uma nova cena se consolidava, resultando num sem-número de tendências. A renovação do heavy metal começava aí Conheça alguns dos nomes que fizeram o gênero se reciclar.

In Flames

O death metal melódico tem como ponta-de-lança o sueco In Flames. O grupo é de Gotemburgo, e era mais uma banda de death metal. Mas logo seguiu a pista deixada pelo At The Gates, pioneira do chamado “Gothenburg sound”, termo precursor do death melódico. O In Flames nasceu ainda no final dos anos 80, mas só se consolidou mesmo em torno de 99, quando saiu o álbum “Colony”, já com o carismático vocalista Anders Fridén à frente. O disco, ainda um pouco tímido no que diz respeito à nova tendência, levou a banda para uma pequena turnê pelos Estados Unidos, fato nada comum ao death metal. O disco seguinte, “Clayman”, ratificou a banda como um dos ícones do death melódico. O próximo CD, “Come Clarity”, deve sair no mês que vem.

HIM

Se o som praticado pelo HIM – His Infernal Majesty – fosse feito por qualquer banda do pós punk inglês, lá no início da década de 80, não ficaria deslocado. A receita aqui é mais abrangente: parte do doom metal, que se funde com bandas de death metal do norte europeu, e o gothic metal desaguou nas lojas. Primeiro foi o inglês Paradise Lost, depois o Sentenced, Tristania e o HIM, que já vendeu mais de três milhões de discos na Europa em quatro álbuns, sendo o último, “Love Metal”, de 2003. A fórmula é juntar guitarras pesadas a melodias dramáticas e letras com histórias de amor tristes. Entre os grandes sucessos do grupo está a regravação de “Wicked Game” (Chris Isaak). O HIM está em estúdio preparando o novo álbum. A produção é de Tim Palmer (Ozzy, Sepultura).

Black Label Society

O Black Label Society nasceu em 99 para ser a banda de Zakk Wylde, e teve, desde o início, uma temática à hells angels, muito couro, barba por fazer, e bebida, muita bebida: cerveja, uísque, o que for. O som atualizou o hard rock setentista, com ênfase nos riffs, distorções, andamentos ultrapesados, vocais rasgados e andamentos thrash. O Black Label representa a síntese do metal feito nos últimos tempos, e, na banda, embora seja o centro das atenções, Wylde não se perde em virtuosismos: parte logo para o peso e a grosseria. Várias formações diferentes foram usadas a cada álbum, e o grupo sempre teve a ajuda de Ozzy. Zakk Wylde, aliás, é um dos guitarristas que mais tempo ficou na banda dele, e o BLS já está tocando pela terceira vez no Ozzfest.

Edguy

O alemão Edguy tinha tudo para ser mais uma banda a seguir a cartilha do metal melódico – e, a rigor, nos primeiros álbuns, até seguiu. A banda, de 97, e foi formada por jovens adolescentes, mas as coisas só começaram a mudar a partir do álbum “Mandrake”, de 2001. O vocalista Tobias Sammet logo depois lançaria a primeira parte de “Avantasia – The Metal Opera”, um projeto que mesclava ópera com heavy metal, apresentando uma história com personagens épicos. Em 2002 a segunda parte é lançada. Após uma grande turnê mundial, em 2004 chegava a hora de um novo álbum do Edguy. É aí que a banda se renova e renova também a acomodada cena do metal melódico. “Hellfire Club” adota uma postura agressiva, tornando o repertório bem mais pesado.

killswitchKillswitch Engage

O Killswitch Engage lidera uma nova corrente no metal americano, que nasceu da mistura de thrash metal com hardcore - muito comum em Nova Iorque –, e que mixa, ainda, certas melodias, flertando também com o death melódico made in Europe. Tudo com vocais que se alternam: ora gritados, ora limpos e cantados. A banda nasceu mais ou menos em 99, reunindo ex-integrantes de outros grupos do underground americano. O primeiro disco, independente e auto-intitulado, saiu no ano seguinte. Depois da assinatura com a Roadrunner, em 2002, lanço “Alive or Just Breathing”. No ano passado, foi a vez de “The End of Hearteach”, o primeiro a sair no Brasil, via Sum Records.

Rammstein

Calcado do rock industrial oitentista, o Rammstein faz letras em alemão. O sexteto faz sucesso com várias tribos e tem músicas tocadas até nas pistas de dança mais radicais. O último disco, “Reise, Reise”, encantou pela já tradicional mistura de música eletrônica com guitarras pesadas e vocal abafado, mas também por uma ácida crítica à Guerra Fria, nas músicas “Amerika” e “Moskau”. Boa parte dos integrantes foram criados na Berlim oriental. Formado em 93, o Rammstein tem entre seus membros ex-operários da indústria alemã e já lançou quatro discos. A banda ganhou fama pelas arrojadas performances de palco, nas quais o vocalista Till Lindemann chega a urinar no público (de mentira) e atear fogo em si próprio (de verdade). O quinto álbum deve sair em setembro.

Nightwish

O Evanescence desencadeou um interesse do mercado por bandas de heavy metal com vocais femininos. O finlandês Nightwish, entretanto, não é só mais uma banda com mulher à frente. Embora faça heavy metal, não são as guitarras o forte da banda, já que a grande maioria das músicas são de autoria do tecladista Tuomas Holopainen, também responsável pelos arranjos. Tal como a vocalista Tarja Turunen (uma soprano de formação erudita), ele também não tem origem no meio metálico. O achado foi a mistura de heavy metal com a música erudita. Idealizado por Holopainen, O Nightwish ganhou notoriedade com “Once”, lançado ano passado. Antes saíram “Oceanborn” (98), “Wishmaster” (2000) e “Century Child” (2002). Foi lançada recentemente a coletânea “Highest Hopes - The Best Of Nightwish”.

kornKorn

Enquanto o thrash metal ascendia com Metallica e Sepultura, em 1994 saía o primeiro disco de uma banda que iria inaugurar um novo subgênero no metal. Fazendo o que inicialmente se chamou de alternative metal, o Korn iniciou uma verdadeira revolução num gênero considerado conservador. Nascia ali o nu-metal. Com músicas de levadas quebradas, vocais gritados, guitarras com afinação baixa, misturas com rap e hip hop e um visual fashion, o Korn chocou. As letras escritas pelo vocalista Jonathan Davies, um ex-empacotador de cadáveres, falavam justamente de traumas da infância e juventude. Os álbuns “Life Is Peachy” (96) e “Follow The Leader” (98) se tornaram clássicos. Grupos como Linkin Park e Limp Bizkit seguiram o líder. O Korn lamenta a saída do guitarrista Brian Head Welch, que se converteu a uma igreja, e prepara as músicas que estarão no sexto álbum da banda, previsto para novembro.

Dimmu Borgir

Junto com o inglês Cradle of Filth, o Dimmu Borgir foi o responsável pelo renascimento da cena black mundial. Voltaram à tona o corpse paint (a maquiagem defunta), os enormes spikes com pregos e toda a indumentária do gênero. Musicalmente falando, o DM agregou mais sofisticação, utilizando arranjos intrincados e teclados, no que chegou a ser chamado de um dos grandes propagadores do black metal sinfônico. Formado em 93, gravou os dois primeiros álbuns inteiros em norueguês, o que impediu o crescimento internacional. O primeiro disco com letras em inglês, “Enthrone Darkness Triumphant” (97), foi produzido pelo líder do Hypocrisy, Peter Tägtgren, que viria a ser tornar um dos maiores produtores do metal extremo europeu. O álbum mais recente é “Death Cult Armagedon”, de 2003.

Therion

O Therion partiu do metal para fundi-lo com a música erudita. O grupo sueco conseguiu alquimia perfeita entre os dois gêneros, em princípio imiscíveis. Nem sempre foi assim. Como boa parte das bandas de metal da Suécia, nasceu fazendo death metal. Capitaneado por Christofer Johnsson, guitarrista, vocalista e principal compositor, o grupo foi criado ainda em 89, mas só no terceiro álbum, “Symphony Masses: Ho Drakon Ho Megas” (93), começaria a mostrar a face erudita, em geral usando samplers de coros e orquestras. A partir de “Theli” (97) fez concertos com orquestras inteiras. Os discos “Vovin” (98) e “Deggial” (2000) são bom exemplos dessa fusão. O último álbum deles saiu em dois CDs, separados, em 2004. “Lemuria” e “Serious B” geraram um DVD, a ser lançado até o final do ano.

VINTE ANOS DEPOIS…
AC/DC vira nome de rua na Austrália; Iron Maiden faz concurso para eleger novo vocalista; Scorpions embarca na música eletrônica. Lembre dos tropeços e das voltas por cima dos heróis do heavy metal no emblemático Rock In Rio, em 1985

Ok, o heavy metal em si já existia há muito tempo, e mesmo no Brasil nossos ouvidos já eram abalados pelo metal pesado. Mas foi durante o primeiro Rock In Rio, em 85, que nos deparamos com uma nova tribo, vestida de preto, com correntes e outros símbolos “from hell”. Batizados de “metaleiros”, os fãs se multiplicaram após assistirem a shows de Ozzy Osbourne e Iron Maiden. A Laboratório Pop volta no tempo, mais precisamente há 20 anos, e conta o que aconteceu com as maiores estrelas naquele festival.

ozzyrirOzzy Osbourne

Ao aportar no Rock In Rio, Ozzy Osbourne encontrava-se em franca decadência artística e pessoal. Era a turnê do álbum “Bark At The Moon” (84). Em 86, foi a vez de “The Ultimate Sin”, ano em que Ozzy se viu acusado pelo suicídio de dois adolescentes americanos, supostamente sugestionados pela música “Suicide Solution”. Acabou absolvido. Em 91, com “No More Tears”, que o Madman, “limpo” e atlético, ele conquistaria o grande público com um empurrãozinho da MTV. O clipe da faixa-título foi exibido à exaustão, e, aproveitando a boa fase do metal no início dos anos 90, Ozzy voltaria às grandes turnês, prometendo deixar os palcos de vez. Era a “No More Tours”, registrada no álbum e vídeo “Live & Loud”, de 93.

Sempre escudado pela esposa e manda-chuva Sharon Osbourne, Ozzy criou, em 96, o Ozzfest, festival itinerante que tem apresentado as novas bandas no metal, sempre com o próprio Ozzy (ou o Black Sabbath) como atração principal. Antes, em 95, Ozzy voltou ao Brasil para dois shows, um em são Paulo, no Monsters Of Rock, no Estádio do Pacaembu, e outro no Rio, no chamado “Monstros do Rock”, versão carioca do evento, realizado no Metropolitan (hoje Claro Hall). Era o início da turnê do álbum “Ozzmosis”.

O último álbum de Ozzy, “Down The Earth”, é de 2001, ano em que estreou a série “The Osbournes”, espécie de reality show que mostrava o dia-a-dia da família do músico e se tornou um sucesso na TV americana, transformando Ozzy Osbourne numa celebridade. Ele chegou a ser condecorado por George W. Bush, ao ser recebido no tradicional almoço de final de ano da Casa Branca, em 2002.

Ozzy deixou o palco e tascou a lançar coletâneas e gravações ao vivo. O último é a recém lançada caixa “Prince of Darkness”, com 52 duas músicas e várias participações especiais, sendo dez novas versões de clássicos de outros artistas, como David Bowie, Beatles e Rolling Stones.

Whitesnake

O Whitesnake passava por sua melhor fase naquele ano de 85. O disco “Slide It In”, lançado no ano anterior, trazia a música “Love Ain’t No Stranger”, hit que virou tema de um dos famosos anúncios do cigarro Hollywood, sempre abordando os esportes radicais. O álbum trazia o equilíbrio entre o hard/blues rock de origem e o hard rock que se iria se popularizar na década de 80. Na formação da banda, além do fundador e líder David Coverdale, estavam o guitarrista John Sykes, o coringa Cozy Powell, baterista número 1 das bandas de rock pesado, que viria a falecer em 98, num acidente de moto, e o baixista Neil Murray. O show do Rock In Rio entrou para a história da banda, e até hoje uma gravação pirata da apresentação, em CD, circula entre os fãs.

Já no disco seguinte, homônimo, de 87, a mistura desandou e o Whitesnake se viu no meio do hard rock típico dos anos 80, achincalhado por aqui como “farofa”. Coverdale adicionou laquê nos cabelos e o resultado não poderia ser melhor, em termos de vendas: seis milhões de cópias só nos Estados Unidos e mais de dez milhões mundo afora, catapultadas pelo hit baba “Is This Love”. O disco trazia, de outro lado, regravações de clássicos do grupo, devidamente adaptados para a nova fase, como “Here I Go Again” e “Crying In The Rain”. Para o disco seguinte, “Sleep Of The Tongue” (89), David Coverdale mudou a formação da banda, agregando Steve Vai, guitarrista virtuoso tocara com Frank Zappa e foi aluno de Joe Satriani. Depois desse disco, cansado das turnês, Coverdale decidiu colocar a banda em repouso.

Ele voltaria à ativa em 93, num projeto com Jimmy Page, ex-guitarrista do Led Zeppelin, que resultou no álbum “Coverdale/Page”. Coverdale aparece com um tom de voz diferenciado, mais rouco, e cantando diferente. Foi alvo de críticas de que estaria querendo imitar Robert Plant, vocalista do Zeppelin.

O retorno do Whitesnake veio em 98, como o álbum “Restless Heart”, um disco que procura um certo retorno às raízes. O único remanescente da formação anterior é o guitarrista Adrian Vanderberg, e, com ele, Coverdale gravou o álbum acústico “Starkers In Tokyo”, no Japão. Em 2000, Coverdale volta solo, com “Into The Light”, disco de classic rock.

Atualmente, a grupo está com vários shows agendados em todo o mundo. É a “Whitesnake The Rock & Roll, Rhythm & Blues Show”, que aproveita o lançamento de um CD/DVD gravado ao vivo em Londres, no Hammersmith Apollo. No Brasil, o show deve acontecer em setembro, ao que tudo indica, abrindo para o Judas Priest, na turnê que marca o retorno de Rob Halford.

AC/DC

Para tocar no Rock In Rio, o AC/DC teve que fazer uma pausa nas gravações do álbum “Fly On The Wall”, que sairia em meados de 85. O grupo australiano também teve seu lado folclórico salientado pela imprensa especializada, por causa da música “Hell’s Bells” (sinos do inferno), que no palco era executada com um sino gigante sendo gongado ao fundo, além dos tiros de canhão, inspirados na capa do álbum “For Those About To Rock… We Salute You” (81). Os dois shows também foram marcados pela catártica performance do guitarrista Angus Young, que se debatia sem parar pelo palco, sempre vestido como um estudante ginasial.

Dentre as atrações voltadas ao peso no Rock In Rio, o AC/DC talvez tenha sido aquela que, dali em diante, menos tenha ousado, tendo se aproveitado do sucesso e da fama conseguidos no passado. Nos álbuns seguintes, mesmo se valendo da inserção de vários videoclipes nas emissoras especializadas, a banda passou a andar em círculos. A exceção foi o álbum “The Razor’s Edge”, que fez o single “Thunderstruck” vender feito água, já em 90. Ao vivo, entretanto, a banda continuava arrastando multidões em estádios em tudo o que era canto. Assim, o ano de 92 viu o lançamento de “AC/DC Live”, um dos melhores álbuns gravados ao vivo em todos os tempos. Em 2003 foi lançado em DVD.

“Ballbreaker” trouxe a banda de volta ao Brasil em 96, para um show único no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. O último álbum do AC/DC é “Stiff Upper Lip” (2000). Há um disco prometido para este ano, mas até agora nada. Enquanto isso, uma chuva de relançamentos povoa as lojas. Além do DVD duplo, “The Family Jewels”, contando toda a história do grupo, uma super caixa com todos os 15 álbuns da banda, em vinil, também está disponível. Uma rua no centro da cidade de Melbourne, na Austrália, desde outubro do ano passado se chama oficialmente “AC/DC Lane”, uma homenagem da prefeitura. Na inauguração, uma orquestra de gaitas de foles mandou “Long Way To The Top”, clássico do grupo.

Iron Maiden

Era a turnê do disco “Powerslave”, e o quinteto inglês trouxe ao Brasil todo o cenário inspirado em temas egípcios, com várias trocas de palco. A procura pelos shows da banda em todo o mundo era tanta, que o Iron foi a única banda do festival a fazer somente uma apresentação, na noite de abertura. A turnê gerou o álbum/vídeo “Live After Death”, e nos dois discos seguintes (“Somewhere In Time” e “Seventh Son Of A Seventh Son”), o grupo atingiu o máximo da perfeição técnica, abusando de guitarras dobradas e até de sintetizadores, fato inédito até então, e nem sempre bem assimilado no meio do heavy metal, passando a soar mais progressivo.

A saída do guitarrista virtuoso Adrian Smith fez de “No Prayer For The Dying” um disco mais cru e básico. No lugar de Adrian entraria Janick Gers, da banda solo do vocalista Bruce Dickinson. Mas a grande tacada da banda veio com “Fear Of The Dark” (92), na época um vinil duplo que fez da faixa-título um grande sucesso, atraindo novas gerações de fãs e recolocando a banda novamente no topo do heavy metal. A turnê desse disco trouxe o Maiden para o Brasil.

A saída de Bruce Dickinson, em 94, descontente com o baixista Steve Harris, que controla tudo, para seguir carreira solo, pôs a banda numa encruzilhada. Após um concurso mundial para a escolha de um novo vocalista - no qual se classificaram os brasileiros Sérgio Vid (Vid & Sangue Azul) e Andre Matos (Shaaman) - o escolhido foi Blaze Bayley, vocalista do Wolfsbane. A fase com Blaze começou até bem. Contudo, os dois álbuns com ele – “The X Factor” e “Virtual XI” – não vingaram. Ao mesmo tempo, desentendimentos durante as turnês e o crescente sucesso da carreira solo de Bruce Dickinson, que passou a ter Adrian Smith em sua banda e a voltar a praticar o bom e velho heavy metal, levaram ao inevitável: ambos votaram para o Iron Maiden em 99, que passou a atuar com três guitarristas, formação que permanece até hoje.

O disco que marcou o retorno da clássica formação foi “Brave New World”, cuja turnê passou pelo Brasil no Rock In Rio III, onde a banda gravou um álbum/vídeo. Em 2003 foi a vez de “Dance of Death”, disco no qual a banda volta a mergulhar em melodias complexas e músicas longas, como que se retornasse ao álbum “Seventh Son…”. No início desse ano, o relançamento do single de “The Number Of The Best” pôs a banda no terceiro lugar da parada inglesa. Em agosto, sai o álbum/DVD “Death On The Road”, gravado ao vivo na Alemanha, em 2003.

scorpionsrirScorpions

O Scorpions veio ao Brasil pela primeira vez no Rock In Rio já com status de banda veterana. Os alemães tinham acabado de lançar “Love At First Sting”, um dos discos mais bem sucedidos da carreira, que mesclava o hard rock setentista típico com uma sonoridade mais acessível, mas sem perder o punch rock do grupo. Isso se não contarmos as clássicas baladas, como “Still Lovin You”, que tocava sem parar nas FMs brasileiras naquele verão de 85. A banda registrou a turnê daquele ano num álbum ao vivo: “World Wide Live”.

Um longo período de hibernação acometeu a banda nos anos seguintes, e só em 89 é que saiu um novo álbum de estúdio, o discreto “Savage Amusement”. O sucesso voltaria bater à porta do Scorpions dois anos mais tarde, com, pra variar, mais uma balada. “Winds Of Change”, do disco “Crazy World” (90), de refrão fácil e assoviável, captou o clima de mudança proporcionado pela queda do muro de Berlim e o fim do regime socialista no Leste Europeu.

Mais uma vez a banda se retirou das paradas a partir de 93, não por opção. Era a época em que o grunge explodia mundo afora, e o metal vivia o auge das bandas thrash. O cúmulo foi a tentativa de soar pop e eletrônico no álbum “Eye II Eye”. No ano passado, o guitarrista Mathias Jabs chegou a reconhecer publicamente o equívoco. Em 2000, a saída foi apostar num disco com hits da banda tocados por uma orquestra, assim como o Metallica havia feitio em “S&M”. “Moment Of Glory” foi gravado com a Orquestra Filarmônica de Berlim, um disco metade instrumental que recolocou a banda na ordem do dia. “Rock You Like a Huricane” virou “Huricane 2000” e voltou a fazer sucesso.

O problema é que, no embalo de tocar só hits, a banda decidiu gravar um álbum acústico no ano seguinte. “Acoustica (Live)”, gravado em Portugal, ajudou a prolongar a temporada de shows e repetições na carreira do Scorpions. Só no ano passado é que a banda voltou com “Unbreakable”, um disco de hard rock que faz jus à sua biografia.

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