No Mundo do Rock

Repaginada, Megh Stock pega leve em carreira solo

Cantora deixa a ferocidade do Luxúria pra trás, tenta a sorte com repertório e visual retrô, mas continua com um punhado de boas músicas. Foto: Denise Alba/Divulgação.

Megh posa com o "look" da nova fase: menos barulho, mas ainda rock

Megh posa com o "look" da nova fase: menos barulho, mas ainda rock

A gravação do segundo disco é tão decisiva para uma banda que é comum os fãs cravarem a máxima “deveria ter mudado de nome”, quando o conteúdo traz modificações significativas. Foi o que aconteceu no caso do Luxúria. Tantas foram as mudanças na direção musical que o grupo optou pela troca do próprio nome: continuam os mesmos integrantes, mas agora a banda atende por Megh Stock, a vocalista. Parece carreira solo, mas não é. Ou é? “O Luxúria acabou, mas a banda continua me acompanhando”, conta Megh. “Sentimos que nossas composições começaram a tomar rumos diferentes e abandonamos a sonoridade ‘metal’ e ‘punk’ para assumir uma influência de jazz, blues e rock clássico”. Quando um artista já sai definindo o som que faz, fica mais fácil.

O fato é que o Luxúria, revelado após uma apresentação bombástica no festival Porão do Rock, em 2005, apesar de ter injetado garra, peso e composições cativantes no rock nacional, comercialmente não deu certo. Ao menos não para os parâmetros do empresário da banda, Marcelo Lobatto, acostumado a grandes investimentos e resultados substanciais com artistas como Marcelo D2 e Pitty. Se os números fossem os esperados, certamente o grupo continuaria firme.

Mudaram os arranjos, a velocidade das músicas e a forma de Megh cantar, mas o jeito de compor continua o mesmo, quase sempre a partir da parceria do baixista Luciano Dragão com a vocalista. Há até músicas feitas na época em que o antigo nome era usado. “‘Sofá Emprestado’ foi feita logo no início do Luxúria. Componho compulsivamente, por isso tínhamos material para escolher”, exemplifica Megh. Ela fala do repertório do álbum “Da Minha Vida Cuido Eu”, recém lançado, cujo conteúdo Megh define como “um link com a sonoridade anos 50 e 60”.

E com razão. Saem as guitarras pesadas e entra o naipe de metais. No lugar da velocidade, músicas com andamento cadenciado. Em vez de “Ódio”, “Lisos Abraços”. Sai o cabelo curto de cor berrante e entra o comprido, alisado e loiro. Um olhar mais amiúde, no entanto, mostra que a vocação para compor de Megh e Dragão continua lá, em músicas tão cativantes como as da fase anterior, só que, digamos, numa “nova embalagem”. E a comparação não incomoda. “Isso é inevitável, temos uma identidade que não queremos perder de jeito nenhum”, acredita a cantora. Cantora? Sim, ao arriscar uma carreira solo, Megh deixa o rol das vocalistas de banda de rock e entra no das cantoras, num país cuja música popular está entulhada delas. “Gosto da idéia de me enxergarem como uma cantora e sinto que o fato de eu cantar mais e gritar menos colabora para que isso aconteça”, avalia.

Apesar de ter abolido peso, distorção e certa atitude, “Da Minha Vida Cuido Eu” é um disco de rock, só que propositalmente mais leve, por conseguinte, com a direção pop que pode levar o grupo ao sucesso que o Luxúria não conseguiu. Em tempos de marketing, ao menos parece ser essa a estratégia, mesmo que a cantora discorde: “Nunca abandonamos o rock”, diz. “A inclusão de sopros, cordas e pianos foi completamente natural, como se as próprias músicas pedissem tais instrumentos”. Curioso deve ser ver os shows dessa nova fase, já que um dos grandes atributos do Luxúria era justamente a performance agitada de Megh, que pulsava junto com o andamento esporrento das músicas. “Acalmei os ânimos, mas ainda não me sinto ‘comportada’”, admite ela, que garante que músicas como “Lama” e as ótimas “Imperecível”, “Ódio” e “Cinderela Compulsiva”, do repertório anterior, continuarão sendo tocadas ao vivo, porque “têm a cara do novo disco”. Será?

Megh, ou melhor, Marjori Vieira Guarnieri Stock, parece encarar várias facetas nas letras que escreve. Não por acaso, o CD fecha com a música “Personagens”, talvez a única que poderia ser encaixada no disco de estreia do Luxúria. “É uma letra irônica, dançante e com um riff marcante que tem a cara do Pedro Nogueira, nosso guitarrista”. Ao mesmo tempo, pode ser a senha para o material do próximo disco. Será que Megh vai encarar outros papéis? “Impossível saber…”, ri a cantora, deixando algo no ar.

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Manuela Medeiros em maio 25, 2009 às 21:49
    #1

    Que texto bom! Ótimo.

  2. kátia venia em agosto 17, 2012 às 12:40
    #2

    A Megh é maravilhosa! as musicas dela são lindissimas, a voz é perfeita, independente se agora ele segue carreira solo, eu continua sendo fã dela!

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