Som na Caixa

Os Paralamas do Sucesso

Brasil Afora
(EMI)

paralamasbrasilDepois de tanta agitação, o Paralamas volta a usar seu método próprio de fazer música, e com uma simplicidade atroz. O trio parece estar se redescobrindo ao voltar a fazer a música que o consagrou na fase pós-boom do rock nacional dos anos 80, misturando referências diversas, mas sem perder uma linha “paralâmica” que lhe pauta. O título e a embalagem com as cores do Brasil podem levar ao ouvinte de primeira viagem a acreditar que se trata de uma ode à mpb, mas não é por aí.

O disco começa repleto de uma pegada reggae que, no entanto, não deixa de lado o feroz guitarrista Herbert Vianna. “A Lhe Esperar” é o exemplo mais que perfeito disso, enquanto em “Meu Sonho” os solos são só o prenúncio do que o disco vai apresentar nas músicas gravadas somente pelos três Paralamas de origem – sem metais e com eventual teclado. É longe das contribuições de outros parceiros que, nesse disco, o Paralamas tem sua principal riqueza. “El Amor”, versão de uma canção de Fito Paez, por exemplo, só faz sentido para quem enche a kombi de fãs do argentino. Por isso, é da metade para o final que o CD – curto, com pouco mais de meia hora – engrena na mais perfeita tradução do “rock brasileiro” praticado pelo grupo.

O destaque maior é “Brasil Afora”, uma paulada curta e precisa que fala, em poucos versos, de relações e de um país desigual, embora gigante pela própria natureza. Herbert lê o Brasil com uma capacidade de síntese sensível à guitarras e a uma pegada rock à Paralamas inigualáveis. “Aposte em Mim” carrega um riff leve e é um pop rock maioral, daqueles que colam nos ouvidos sem muito esforço. Deságua num refrão, no mínimo, encantador. O mesmo caminho segue “Taubaté ou Santos”, só que, mais lenta, revela que no rock nem sempre é preciso tanta urgência. No repertório do CD, ela dá o suporte para que “Brasil Afora” entre rasgando.

Só em “Tempero Zen” é que os teclados de João Fera (o quarto Paralama) tomam conta, dando um clima retrô/setentista que prenuncia a guitarra hendrixiana de “Tão Bela”. Arremate improvável para um disco que promete brasilidade, absorve inúmeras referências, transita pelo reggae e pela mpb e abraça a simplicidade do “rock de trio”. Pensando bem, tem como ser mais Paralamas do que isso?

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