O Homem Baile

Os bons tempos do rock pra dançar

De volta ao Rio depois de 24 anos, B 52’s faz espetáculo que mostra o quanto é possível dançar sem apelar para DJs, modernidades tecnológicas e afins; banda competente e boa forma dos integrantes garantem diversão para fãs de todas as idades. Foto: Joseph Cultice/Divulgação.

b521Noventa minutos de bola rolando foi o suficiente para o B 52’s lembrar ao público que nos bons tempos o rock era pra dançar. O grupo voltou ao Rio ontem, pela primeira vez depois das duas apresentações do primeiro Rock In Rio, há 24 anos. Essa turnê marca também o retorno da vocalista Cindy Wilson, que havia se aposentado em1992, mas voltou para o lançamento de “Funplex”, no ano passado. Para mostrar que não vive só de passado, um terço do repertório era de músicas desse álbum.

Numa dela, “Funplex”, o trio da formação original, Cindy Wilson, Fred Schneider e Kate Pierson dialogam entre si no meio das músicas como se o tempo não tivesse passado. “Pump”, que inicia o disco, era para proporcionar uma abertura bombástica, o que só não aconteceu porque boa parte do público mostrou que não conhece o repertório recente – talvez sequer soubesse que há um disco de inéditas. Com a cadenciada “Mesopotamia” e mais uma das novas em seguida, foi só com “Private Idaho” que a platéia veio a baixo, revivendo as danceterias dos anos 80. A performance do público foi reconhecida pelo guitarrista Keith Strickland. “Vocês cantam muito bem, não querem entrar para a banda?”, disse, em tom de brincadeira.

Sem querer, tocou num ponto fraco do grupo. No contraponto dos vocais femininos – estridentes – das meninas, e masculinos – graves – de Schneider, ficou faltando algo. Cindy Wilson, a mais velha a turma, com 62, já não segura tão bem a onda quanto Pierson. Em “Give Me Back My Man”, por exemplo, incluída de última hora no set graças à memória afetiva dos shows do Rock In Rio, Cindy não conseguiu repetir os agudos que até hoje reverberam nos ouvidos daqueles milhares de sortudos. Mas não compromete, sobretudo porque Kate manda muito bem – em “Planet Claire” abusa dos ecos pra manter a música fiel à versão original. Ela e Cindy, aliás, exibiram cinturas justas invejáveis para que já passou das 60 primaveras.

Embora descanse em duas músicas – a nova “Juliet Of The Spirits” e a sensacional “Roam”, último suspiro do grupo já nos anos 90 -, Fred Schneider mantém o rebolado e a boa e cínica voz que caracterizam o quarteto. Em “Quiche Lorraine”, anunciada como uma “canção muito triste” (como se isso fosse possível), ele comanda a platéia como um MC do bem, estabelecendo o diálogo com as vocalistas. Aditivado por uma banda com um excelente baterista, um tecladista que também toca guitarra e uma baixista, o quarteto ganhou o público – também – pela potência sonora. Méritos ainda para Keith Strickland, que consegue resgatar o mesmíssimo som de guitarra criado pelo B 52’s há mais de 30 anos.

Se as músicas novas esfriaram um pouco o set (embora muito boas e igualmente dançantes), os grandes hits do grupo levantaram a massa. “Rock Lobster”, no sensacional final do bis; “Planet Claire”, que assim como a recente “Love In The Year 3000” aposta no futurismo retrô, uma das sacadas históricas do grupo; a ótima “Love Shack” e “Private Idaho” garantiram a felicidade de todos. A única coisa que não fez sentido foi o público não ter pedido, em coro, “Legal Tender”. Mas bem que eles poderiam ter tocado mesmo assim.

O B 52’s se apresenta hoje em São Paulo. Mais detalhes aqui.

Set list completo:

1- Pump
2- Mesopotamia
3- Ultraviolet
4- Private Idaho
5- Give Me Back My Man
6- Funplex
7- Strobe Light
8- Quiche Lorraine
9- Juliet of the Spirits
10- Roam
11- Party Out of Bounds
12- Love in the Year 3000
13- Hot Corner
14- Channel Z
15- Love Shack

Bis

16- Planet Claire
17- Keep This Party Going
18- Rock Lobster

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

trackbacks

There is 1 blog linking to this post
  1. Rock em Geral | Marcos Bragatto » Blog Archive » Rock pra dançar

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado