Quem esteve nos shows que o B 52’s fez no Brasil em 2009 saiu com o gosto amargo de não ver o grupo tocar a música “Legal Tender”, o maior sucesso da banda por aqui, consagrado desde os tempos do Rock In Rio. Agora, a dívida foi paga. No show de ontem (4/10), no Vivo Rio, a banda não só tocou o hit como instalou uma pista de dança tipicamente new wave oitentista. Não houve quem ficasse parado e os mais empolgados repetiram as coreografias que eram inventadas no circuito de danceterias que também consagrou o rock nacional em sua melhor fase. Ah, o tempo…

Parece não passar para o trio cantante que começa juntinho no palco. Kate Pierson, com um vestidinho vermelho curto combinando com a cabeleira, é de longe a mais animada, aos 65(!). Não para de dançar um minuto sequer, abusando das coreografias que beiram o ridículo, mas são divertidíssimas. Tipo mimicamente jogar a corda, laçar e trazer para o palco alguém do público. Prossegue – o mais importante – com a voz praticamente intacta, abusando desde o início, sem amarelar na difícil “Planet Claire”. Cindy Wilson, de outro lado, demora para se soltar. A moça ficou fora da banda por um tempão e só voltou pra valer no lançamento do álbum “Funplex”, em 2008, o mais recente com inéditas do B 52’s. Ela parece nunca ter superado a morte do irmão Ricky, cujo último show foi justamente no primeiro Rock In Rio, em 1985.

Cindy canta sozinha a música “Girl From Ipanema Goes to Greenland”, uma das que não estava no repertório do show de 2009 (veja como foi), em homenagem ao irmão. Ajudada por efeitos fortuitos, também mostra boa forma vocal, e, a partir dali, cai na gandaia. Com público apenas razoável no Vivo Rio, cria-se um clima intimista entre a banda e a fila do gargarejo, incluindo aperto de mãos, troca de olhares e distribuição de autógrafos. Nada que comprometa o show, feito basicamente para colocar o público a dançar. Impressiona como a voz de Fred Schenider, o bendito fruto entre as mulheres, ainda cai tão bem nas músicas do grupo, tanto tempo depois.

E a explicação é simples. Por mais que sabichões do mundo pop tentem taxar isso ou aquilo de datado, música boa é música boa para sempre. Por isso o bornal de hits do B 52’s agrada de cara, em que pese a idade avançada também na plateia. Ou há quem não se sinta física e espiritualmente tocado nos primeiros acordes de “Private Idaho”, por exemplo? A música é uma das que o público se joga pra valer, provando que rock também é para dançar; aliás, é feito justamente pra dançar. A mágica também acontece na já citada “Legal Tender”, e cabe a explicação que a música só estourou pra valer no Brasil, dada à grande exposição por conta do – de novo – Rock In Rio de 1985. Em outras praças, apesar do videoclipe, a canção - das melhores, diga-se - quase passou batida.

O repertório é menor que o de 2009 – três músicas a menos – e também quase não traz nada do bom álbum “Funplex”, só a razoável “Love in the Year 3000”. A ideia é mostrar os sucessos do início dos anos 1990 para trás, e aí a coisa pega de verdade com “Roam”, um espetacular e afinadíssimo dueto entre Cindy e Kate; no final empolgante de “Is That You Mo-dean?”, registrando a pegada do batera Sterling Campbell, que já tocou com o Duran Duran; e no final com o rock arrebenta assoalho “Rock Lobster”, quando o público vê que é fim de festa e se acaba pra valer. Já pensou se eles ainda incluíssem “Monster”, da carreira solo de Schneider, e “Shine Happy People”, que o REM gravou com os vocais de Kate Pierson emprestados? Melhor não.

Set list completo:

1- Planet Claire
2- Mesopotamia
3- Private Idaho
4- Lava
5- Dance This Mess Around
6- Girl From Ipanema Goes to Greenland
7- Roam
8- Legal Tender
9- Love in the Year 3000
10- Is That You Mo-dean?
11- 6060 842
12- Whammy Kiss
13- Love Shack
Bis
14- Party Out of Bounds
15- Rock Lobster

O B 52’s se apresenta hoje em São Paulo. Mais detalhes aqui.

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