No Mundo do Rock

Keane troca indie rock por pop dançante

Grupo inglês enfim admite a guitarra, mas investe na tendência inglesa que aponta para as pistas. Íntegra da entrevista feita para matéria publicada hoje no Jornal do Brasil. Fotos: Soren Solkaer Starbird/Divulgação Universal

O trio britânico volta ao Brasil em busca de sua própria simetria

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Aqueles que se lamentavam por conta da falta de um guitarrista na formação do Keane não tem mais motivos para não aprovar o som do grupo inglês. Não que tenha entrado um novo integrante, além do baixista Jesse Quin, mas Tom Chaplin, antes só no teclado e vocal, assumiu o instrumento já em algumas músicas da última turnê, que passou pelo Brasil em 2007, e também no terceiro álbum, “Perfect Symmetry”.

Ocorre que a medida encorpou o som do grupo, mas não lhe deu tanto peso assim, uma vez que, a exemplo do Franz Ferdinand, eles optaram pelo pop dançante, tendência cada vez mais forte no rock britânico. O disco é assumidamente influenciado pela soul music dos anos 60 e pelo novo pop, afastando de vez a identificação com o indie rock e as incômodas comparações com o Coldplay.

Ás vésperas de aportar no Rio, na próxima sexta, para mais um show, o tecladista Tim-Rice-Oxley atendeu o Rock em Geral numa entrevista feita por e-mail – o batera Richard Hughes completa a banda. Ele revelou detalhes da produção do disco, o primeiro feito por eles mesmos, incluindo o uso de um serrote(!); das músicas e das referências dessa nova fase; e de produtores que deram uma forcinha, além de se rasgar em elogios pelo público brasileiro. Confira:

Rock em Geral: Desde que o Dominic Scott deixou a banda, vocês decidiram seguir em frente sem guitarras. Vocês não queriam guitarras no som da banda, ou na verdade não conseguiram achar a pessoa certa para se tornar um integrante do Keane?

Tim Rice-Oxley: Nós sentimos a falta da guitarra depois que o Dom saiu, mas a sua segunda hipótese está correta – não nos sentimos à vontade com a idéia de trazer alguém novo para a banda. Pelo mesmo motivo não admitimos um baixista até esse álbum, discutimos isso por anos! Mas nos conhecemos uns aos outros por um longo tempo e tememos quebrar nossa dinâmica. Ao trazer o Jesse para tocar baixo, no entanto, descobrimos que misturar um pouco é na verdade uma coisa boa.

REG: Antes desse disco, ao menos em algumas músicas, você não sentiu a necessidade de ter um instrumento de harmonia para gravá-las?

Tim: O Tom tocou guitarra em algumas músicas na turnê do álbum “Under The Iron Sea”, então estávamos começando a fazer uso das habilidades “guitarrísticas” dele. Acho que isso foi o que pavimentou o caminho para usarmos mais guitarras nesse álbum.

REG: No “Perfect Symmetry” foi a primeira vez em que vocês usaram guitarras nas músicas, mas, ao mesmo tempo, o álbum como um todo é bem “dance”, e distante do indie rock do início. O que você acha disso?

Tim: Eu concordo que é um álbum bem mais “dançável”, mais acelerado e com bases ritmadas, em geral. Não estou interessado em indie rock, e certamente não me identifico como uma parte de um gênero em particular. Enquanto estávamos fazendo este disco, estávamos muito inspirados pela exuberância e pelas cores da música pop grandiosa, desde Kanye West até David Bowie e The Ting Tings.

REG: Você concorda que algumas músicas têm inspiração na era disco, nos anos 70?

Tim: Provavelmente sim. Eu acho temos sido inspirados por qualquer música que é dançante. O Tom sempre foi um grande fã de trance music e house music. Eu estou bem interessado em qualquer coisa que tenha idéias rítmicas incomuns – de Talking Heads a MIA.

REG: Vocês são fãs de soul music? Há muito disso no “Perfect Symmetry” também…

Tim: Depende do que você quer dizer com soul music. Se você se refere à clássica soul music dos anos 60 e 70, definitivamente sim. Somos um grande fã da Motown e da Stax (gravadoras pioneiras da época), e eu acho que se pode ouvir isso em músicas como “Pretend That You’re Alone” e até em “Put It Behind You”. Se você se refere à soul music moderna, há menos coisas, apesar de pegarmos inspiração de tudo que ouvimos no rádio e gostamos.

REG: Durante muito tempo o Keane foi comparado com o Coldplay, isso chateia vocês?

Tim: Sim!

REG: Esse foi o motivo para vocês mudarem a sonoridade do Keane nesse disco?

Tim: Nós tentamos manter as coisas com certo frescor por nossa conta mesmo, então fazemos a música mais empolgante possível. Também tentamos ouvir as novidades da música o tempo todo e aprender coisas novas sobre o mundo, então se seguirmos nossos instintos – antes de se perder numa fórmula que se sabe que é certa –, eles inevitavelmente acabarão mudando.

As cores no fundo representam as novas tonalidades musicais do alegrinho Keane

As cores no fundo representam as novas tonalidades musicais do alegrinho Keane

REG: Um desses novos aspectos são os detalhes eletrônicos utilizados, especialmente na faixa “You Haven’t Told Me Anything”, que foi produzida por Jon Brion, produtor de trilhas sonoras. Como vocês o encontraram e decidiram trabalhar com ele?

Tim: Queríamos trabalhar com ele porque ele fez uns trabalhos com caras do hip hop (como Kanye West) e com o pessoal do rock (caso de Fiona Apple), assim como fez trilhas sonoras brilhantes, como a do filme “Embriagado de Amor”. Foi dele a habilidade de espalhar gêneros diferentes com os quais queríamos aprender. Ele foi muito inspirador porque nos persuadiu a abandonar temores e dúvidas para mergulhar em águas incertas de olhos fechados.

REG: O Stuart Price, que podemos chamar de um produtor da nova geração, assinou duas músicas. Como foi o trabalho dele, especialmente na faixa “Again And Again”?

Tim: Foi muito divertido trabalhar com ele, e também aprendemos um bocado. Ele funciona muito rapidamente e está sempre feliz em deixar de lado uma direção e partir pra outra sem nenhum senso de ego ou preciosismo. Nós especialmente quisemos uma força dele em “Again And Again”, porque essa era uma das antigas no disco. Sentimos que poderia ser um boa faixa, mas estávamos batendo cabeça para terminá-la com os novos sons como “Spiralling”, “You Haven’t Told Me Anything”, etc. Aí o Stuart nos empurrou pra um lado mais “synthy”, e nos ajudou a nos trazer o sendo de tirar as amarras da energia para a música.

REG: Ainda falando sobre produção, em vez de gravar um disco sozinhos, vocês não preferem sempre ter alguém de fora da banda fazendo Isso?

Tim: Dessa vez as idéias vieram muito rápido, e estávamos nos divertindo tanto juntos que não queríamos quebrar o encanto. Foi como se fôssemos moleques fazendo bagunça em sala de aula, e não queríamos trazer alguém crescido para restabelecer a ordem.

REG: Outro aspecto dessa fase é que o disco com um todo parece não ser tão triste como antes, e é até, digamos, alegre. Isso foi feito deliberadamente por vocês?

Tim: Simplesmente aconteceu. Estávamos nos sentindo bem, positivos e confiantes, e ainda foi uma grande aventura aproveitar Paris e Berlin. Foi um período especial para nós, e você pode sentir esse espírito jovial nas músicas.

REG: A música “Playing Along” é uma das melhores do disco. Conte como ela foi feita:

Tim: Obrigado. Eu escrevi essa faixa tarde da noite quando estava em casa. Eu lembro que já estava na cama, e então tive outra idéia para a música e tive que levantar de novo e gravar, senão iria esquecer. Trabalhei duro na letra para essa, já que eu queria muito escrever uma música articulada sobre o fato de que, mesmo com as melhores intenções, todos nós precisamos, às vezes, de nos afastar da realidade do mundo, se tivermos a sorte de termos essa opção.

REG: Sobre a bela e triste “Love Is The End” – que mais parece o Keane “old school” – fale sobre a inclusão de violoncelo e violino no arranjo final:

Tim: A demo estava bem legal, mas quando fomos ensaiar essa música, decidimos deixar tudo bem low-fi e esparso. Mas quanto mais trabalhávamos nela, mas ficava óbvio que ela pedia por um arranjo de cordas no final. Também usamos um serrote, que criou aquele belo som no início. Tiramos essa idéia de uma grande cena do filme “Delicatessen”, quando dois dos personagens fazem um dueto entre um violoncelo e um serrote.

REG: Essa é a segunda vez que o Keane toca no Brasil. Que impressões você tem da primeira turnê?

Tim: Todos os fãs brasileiros são absolutamente espantosos – generosos com o amor e o entusiasmo e forma como cantam. Mal podemos esperar para voltar, e eu posso prometer um show ainda melhor do que aquele que fizemos da última vez.

REG: Naquela turnê a abertura foi feita pelo Moptop. Vocês gostaram?

Tim: Tentamos aprender um pouco sobre a música de cada país que visitamos, então foi educativo para nós ouvirmos o rock and roll brasileiro, e outros gêneros daí. São ritmos inspiradores e sensuais.

REG: Naquela turnê vocês fizeram um set acústico, ainda fazem?

Tim: Como um fã de música eu acho que a variação é o aspecto mais importante em um show, para me manter interessado. Tentamos fundir essas coisas tanto quanto possível. Ter uma parte mais intimista e menos bombástica do show, quando podemos chegar perto das pessoas, e de nós mesmos, nos dá a oportunidade de mostrar algumas músicas num formato diferente. É como se estivéssemos num local pequeno, e eu adoro isso.

REG: Quais músicas novas vocês vão tocar? Podemos esperar por músicas antigas diferentes daquelas da outra turnê?

Tim: Será uma grande fusão das favoritas dos três álbuns. As músicas novas são especialmente divertidas de tocar ao vivo porque elas são muito dançáveis e energéticas. Mas eu não vou entregar nenhuma surpresa!

Não estou interessado em indie rock, e certamente não me identifico como uma parte de um gênero em particular

Não estou interessado em indie rock, e certamente não me identifico como uma parte de um gênero em particular

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Marcia em julho 16, 2009 às 20:17
    #1

    Adoro Keane. Entevista bacana!

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