Som na Caixa

U2

No Line On The Horizon
(Universal)

u2nolineSe chegar ao topo é difícil, a tarefa de se manter em alta é ainda mais árdua. Talvez por isso o primeiro single do novo álbum do U2, que foi divulgado com certa antecedência nas rádios e na web, não chega aos pés de seus antecessores, “Beautiful Day” e “Vertigo”, respectivamente. Não que “Get On Your Boots”, um número símbolo da fusão rock/eletrônica equilibrada, faça feio. A música tem a fórmula corretíssima de misturar uma batida forte e dançante com um riff pesado – hábito incomum para The Edge. É que a retomada rock do grupo, depois da hoje esquecida (pela própria banda) fase do “Pop”, sobretudo com o álbum “All That You Can’t Leave Behind”, foi algo realmente extraordinário.

Passada a novidade do single, chega-se a músicas que são o U2 genuíno. Na faixa-título, que abre o CD, Bono solta a voz como nos tempos de “The Joshua Tree”, num impecável “oh, oh, oh”. A música pode ser identificada à quilômetros de distância, assim como a bela “Magnificent”, que carrega a grandiosidade quase messiânica, marca registrada do U2. O início com efeitos típicos de produtores ganha a indefectível guitarra de The Edge, e faz a música remeter a várias fases do grupo de uma só vez: de “The Unforgettable Fire” a “Where The Streets Have No Name” está tudo ali.

A produção parece ter sido realmente o grande enigma da feitura desse disco. Primeiro porque, de início, o barbudão Rick Rubin havia sido o escolhido, mas o material feito com ele não agradou ao quarteto, que resolveu chamar a dupla Brian Eno e Daniel Lanois, parceiros das antigas. Eles ainda receberam a ajuda de Steve Lillywhite, outro velho amigo que fez “produção adicional” em quatro faixas e produziu ele próprio outras duas. A anotação não seria tão importante se Eno e Lanois não tivessem ido tão longe. Pela primeira vez eles co-assinam nada menos que oito das 11 músicas que estão no álbum, hábito freqüente em discos de música eletrônica, mas que nunca havia acontecido com o U2.

Isso explica a intervenção de efeitos de Brian Eno em “Moment of Surrender”, outra excelente faixa do álbum, a despeito dos suspeitos sete minutos de duração. A música é conduzida por uma linha de baixo que serve de cama para efeitos e texturas de guitarra, resultando num clima mezzo épico que realça a voz – de novo - de Bono. Oura faixa predestinada a ser um clássico do grupo, e que, aqui, encerra um início auspicioso. Porque a seqüência não é muito animadora, com destaque negativo para a “nada a ver” “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight”.

A redenção vem com duplinha “Get On Your Boots”/“Stand Up Comedy”, muito graças às belas intervenções da aclamada (e intangível) “guitarra The Edge”. Emendada na dançante “Get On Your Boots”, uma levada funk rock anos 70 garante o peso em “Stand Up Comedy”, que realça em todo o CD. Um solo raro em se tratando de U2 lhe dá um sotaque ainda mais rock, no melhor dos sentidos. Seria o final da melhor parte do disco se o ótima “Breathe”, parente bem próxima de “Magnificent”, não estivesse lá no encerramento do repertório. Nela Larry Mullen Jr. implementa uma bateria fortíssima (o que, aliás,ocorre em todo o álbum), e uma boa base harmônica de guitarra e teclado, além de passagens vocais marcantes, garantem o ingresso da canção no hall da fama das grandes canções do U2 em todos os tempos.

É sabido que é difícil manter, num único disco, um apanhado completo de boas composições, daí o computo geral de seis a três não ser tão ruim assim para Bono e acólitos. Isso porque, além de “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight”, “Unknown Caller”, “Fez-Being Born” (essa quase escapa) e “White As Snow” (feita em cima de uma cantoria tradicional), são bem fracas, passam batidas como aquelas músicas ruins que tocam nas rádios entre aquelas que queremos ouvir – caso das outras seis. Em “Cedars Of Lebanon”, que fecha o CD, Bono fala mais do que canta – logo ele que canta melhor do que fala. O que, no fim das contas – os números não mentem -, faz de “No Line On The Horizon” um disco de altos e baixos, ainda que esses “altos”, por si só, já valham à pena.

“No Line On The Horizon” pode ser adquirido em quarto formatos:

CD com um encarte de 24 páginas (R$ 34,90);
CD digipack com capinha de papelão e um encarte de 32 páginas, pôster e senha de acesso para o vídeo “Linear”, de Anton Corbijn, na internet (R$ 44,90);
Edição limitada de revista + CD, com imagens e entrevista exclusiva, em 64 páginas (R$ 160);
Box com o álbum em digipack, o DVD com “Linear”, um livro capa dura com 64 páginas e um pôster (R$ 390).

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