O Homem Baile

Humaitá Pra Peixe
Festival vira embaixada de Pernambuco no Rio

Vitor Araújo faz verdadeiro recital e platéia pede silêncio. Publicado na edição de ontem do Jornal do Brasil. Foto: Tomas Rangel/Divulgação.

A simpatia e o embalo das mulheres de Recife sacudiram o festival

A simpatia e o embalo das mulheres de Recife sacudiram o festival

A tribo de Santa Tereza desceu o morro com seus vestidos rodados, bermudas, chinelos e sandálias rasteiras para participar da festa pernambucana no final de semana no Humaitá Pra Peixe. Na sexta-feira, o pianista prodígio Vitor Araújo fez um espetáculo contemplativo, quase um recital, em que o silêncio era solicitado pelo próprio público. Além de exímio virtuose das teclas, Vitor dá uma de comediante quando sugere que Chico Buarque já plagiou Ray Charles e ao contar a história de como levou Radiohead do pop ao erudito. Uma sábia forma de transformar a enfadonha exibição técnica em algo divertido e despertar o interesse da platéia.

O mesmo êxito não teve a banda carioca Paraphernalia, que tocou antes de Vitor, sem cativar o público que ainda chegava na noite de sexta. O grupo faz um som de big band, Vitória Régia com Chick Corea e Carlos Santana, incluindo funk e soul dos anos 70, e chama mais a atenção por ter integrantes coadjuvantes de artistas de renome da mpb. Valeu pelas improvisações que acabavam rolando em algumas músicas, sobretudo quando o pouco criativo naipe de metais deixa espaço para as incursões de guitarra e teclado.

No sábado, o regionalismo folclórico do Comadre Fulozinha arrebatou o público da quase lotada a Sala Baden Powell. Não que o grupo pernambucano, formado majoritariamente por mulheres, seja uma novidade num festival conhecido por projetar novos artistas. Revelado no Abril Pro Rock de 2000, o Comadre só agora deu as caras no HPP. Diferentemente do mangue beat, que destacou a cena de Recife na década de 90, não faz conexão alguma com o pop e tem o repertório fincado no côco, frevo, forró e adjacências, com ênfase em cantigas de domínio público. Até o popular Reginaldo Rossi ganhou citação no show.

Foi o bastante para a animada platéia, que dançava nos corredores do Teatro, bater palma no ritmo pandeiro e na marcação da alfaia de Karina Buhr. Além do conjunto de instrumentos típicos da região, nos quais as quatro moças vão se revezando, realça a cantoria coletiva, cujo sotaque é um “must” entre os neo-hippies cariocas.

O conterrâneo Junio Barreto, que teve a difícil tarefa de encarar o que sobrou do público da Comadre Fulozinha, também é dado ao improviso. Nas suas palavras, sua banda, posicionada bem no fundo do palco, jamais toca uma música duas vezes da mesma forma. Também conhecido como fornecedor de canções para medalhões da mpb, Junio realmente não tem lá muita intimidade com o palco, mas curiosamente arranca aplausos justamente quando explica – como se fosse necessário – do que trata suas composições. Um artista que, no entanto, só tem espaço mesmo numa das piores escalações do Humaitá Pra Peixe em muitos anos.

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