Rock é Rock Mesmo

No show do Queen uma luz desceu sobre mim

Só um reflexivo show de rock para fazer as coisas ficarem mais claras, e os caminhos, mais traçados.

Meus amigos, as coisas não têm sido fáceis. Começando o mês que encerra o ano de 2008, só tenho que chegar à conclusão de que, num passado recente, tudo parecia melhor. Digo isso e já corrijo. Parecia, não. Era realmente melhor. Não deve ser este, no entanto, o pensamento do homem moderno. Nem do jogador de futebol, que, derrotado numa peleja, passa a pensar no próximo jogo. Se o esporte bretão é a síntese da vida, então que seja assim. Vamos pensar no próximo jogo. Se o ano foi difícil, ao menos, no último dia 29, no show do Queen, eu vi a luz.

Não sei se os amigos leitores gostam de cinema. Se são ligados em filmes. Se estão conectados ao que acontece no mundo da sétima arte. Posso falar por mim e por esta coluna de rock, que se interessa – de novo – por rock. Falo de cinema, mas quero chegar às locadoras de DVDs. Ou, por outra, como sou também uma pessoa do século passado, no bom e velho videocassete e no VHS. Não sei e vocês sabem, mas conservo, em meio a poeira, uma série de filmes gravados nesse formato, muito embora não possa mais assisti-los, já que meu videocassete de trocentas cabeças não funciona mais. Por isso a decisão de guardá-las: enquanto a preciosidade não me chega em DVD, não dispenso a que tenho, definitivamente incógnita pelo avançar tecnológico.

Mas falava de filmes para chegar em um em particular. “The Blues Brothers”, ou, se preferirem “Os Irmãos Cara de Pau”, em bom português, lançado em 1980. Dois marmanjos (John Belushi e Dan Aykroyd) criados em um orfanato – sendo um recém saído da cadeia – precisam arrumar uma grana para salvar a instituição da falência, pagando uma dívida com o fisco municipal. Eles decidem, então, remontar uma banda do passado, que dá nome ao filme. Isso depois de um deles ver “a luz” dentro de uma típica igreja americana freqüentada por negros, cujo pastor é interpretado por ninguém menos que James Brown. Além dele, outros papéis da trama, misto de musical e comédia, foram destinadas a artistas como Aretha Franklin, Ray Charles e Cab Calloway, entre outros. O filme é, também, segundo consta, o recordista de carros destruídos de Hollywood.

Não sei se os amigos que se arrastaram até aqui perceberam, mas o trama se desenrola depois da tal “luz” que fulano recebe dentro – por assim dizer – da igreja de James Brown. E eu contei essa história toda só para chegar o título desta Rock é Rock Mesmo. Sim, meus amigos, no show do Queen + Paul Rodgers, no último sábado, no Rio de Janeiro, eu vi a luz. Não que tenha girado em saltos mortais como o personagem do filme. Nem que tenha decidido montar uma banda para salvar a vida de quem me criou. Mas vi, através dessa luz, com cerca de um mês de antecedência, um final razoavelmente decente para 2008, e boas perspectivas para o próximo ano.

Há aqueles que acompanham mais de perto essas linhas virtuais que devem estar se contorcendo em suas cadeiras, posicionadas em frente aos monitores. Como uma coluna de rock visceral como essa pode se deixar levar por pieguices do tipo votos de ano novo? Ou, ainda, falar de luz, como algo divino e, até, religioso? No que eu explico. Primeiro, que passei grande parte da minha vida em frente a um palco com uma banda tocando. Sim, meus amigos, não há quem, como público ou velho homem da imprensa, tenha assistido a mais shows de rock que eu. Vejo movimentações de integrantes de bandas antes mesmo que elas aconteçam, como uma coreografia universal que faz do rock o próprio rock. Depois, não há momento mais reflexivo, intimista e “divã” do que quando estou ali, frente a frente com o rock, de verdade mesmo. E, ainda, que, particularizando a coisa para o show do Queen, trata-se de um evento com uma carga emocional/histórica que não pode ser medida nem pelo Inmetro ou pela ABNT.

Confesso que boa parte de decisões tomadas por mim aconteceu, de uma forma ou de outra, durante um show de rock. De frete para o palco, rola certa comunhão com o artista ou com tudo que ele representa, de modo a se chegar a um estado pleno, mais mental que físico, que coloca as idéias num outro patamar. Daí eu ser useiro e vezeiro em dizer que um show de rock rejuvenesce o público, porque alimenta a alma. Donde se conclui, que, sem o rock, este velho homem da imprensa estaria seguramente liquidado.

Não que as coisas estivessem boas três horas antes quando saí de casa para peregrinar até a Rio Arena, localizada, aliás, do ladinho da Cidade do Rock,onde aconteceu o histórico show do Queen no primeiro Rock In Rio, em 1985, com a clássica formação encabeçada por Freddie Mercury. Ou, por outra, as coisas sempre estão boas quando há um show como esse para ir. Show que, inclusive já havia começado semanas antes, uma vez que antecede a si próprio. Mas jamais imaginaria que fosse ver a luz justamente ali, entre um riff ou outro de Brian May, um falsete do excelente Paul Rodgers, ou uma virada de Roger Taylor. Sim, meus amigos, no show do Queen uma luz desceu sobre mim.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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