Fazendo História

Iron Maiden
Com ‘Dance of Death’, um degrau abaixo

Nos bons tempos da Rock Press, quando um artista relevante lançava um novo álbum, e não conseguíamos uma entrevista exclusiva, a saída era fazer “resenhões” como esse, em cima de “Dance Of Death”, do Iron Maiden. Publicado na edição número 53, em outubro de 2003.

ironmaidendanceofdeathExistem bandas fadadas a não sentir a passagem do tempo, e sempre se renovam. Outras mantêm o mesmo estilo fazendo álbuns que pouco diferem um do outro, e triunfam justamente por isso. Provavelmente o Iron Maiden pode ser enquadrar nos dois casos. Parecem ser incólumes ao tempo, como um monumento em homenagem ao gênero que eles mesmos ajudaram a fundar, e fazem o mesmo tipo de som em todos os álbuns, mas sempre se adaptando as circunstâncias pelas quais qualquer grupo com todo esse tempo de estrada passa, o que invariavelmente traz ares de renovação.

Em 1999, superada a pior fase, o retorno de Bruce Dickinson e de Adrian Smith, depois de trabalharem brilhantemente juntos na carreira solo de Bruce, proporcionou a possibilidade de a banda voltar ao topo do heavy metal mundial. O álbum anterior, o excelente “Brave New World”, confirmou as expectativas, e agora, o lançamento de “Dance Of Death” é a prova irrefutável de que o Iron realmente estava no topo. E agora, um degrau abaixo, dá sinais de que pode sair de lá. Não que “Dance Of Death” seja um álbum fraco, muito pelo contrário, mas, vamos e venhamos, seria impossível, mesmo para uma banda acostumada a se superar e a calar a crítica, fazer um disco ainda melhor que “Brave New World”. Ademais, se olharmos toda a carreira do Maiden, vamos ver discos brilhantes, mas dificilmente um bicampeonato. Mesmo no auge com a seqüência “Number Of The Beast”, “Piece Of Mind”, “Powerslave”, considerada quase uma tríade sagrada, que mostrou um crescimento espetacular da banda, é notória a supremacia de “Number Of The Beast” em relação aos demais. A análise pode até ser prematura, portanto, passível de ser revogada com o passar dos anos, mas é como os fatos se colocam.

Em “Dance Of Death”, o Iron mantém a tradição de fazer uma faixa de abertura num formato “música de trabalho”, ou seja, curta, rápida, com um solo singelo e um refrão colante. O que não quer dizer que “Wildest Dreams” será marcada como a música do disco, haja vista a faixa “Invaders”, que abre “Number Of The Beast”, hoje estar jogada ao ostracismo. Depois, paulatinamente a banda vai recomeçando do lugar de onde havia parado. Se com o retorno de Bruce e Adrian, em “Brave New World”, o Iron se emendou a partir do álbum “Seventh Son Of A Seventh Son” (daí a volta do guitarrista ser tão importante quanto a de Bruce), “Dance Of Death” parece ser a continuação natural no mesmo segmento. É um disco em que, novamente, o Iron trilha caminhos que acenam para o rock progressivo. É o bom e velho Iron, mas com uma inclinação para longas introduções e trechos narrados, longos solos, como Adrian adora, e muita sensibilidade na hora de fazer os arranjos. Não é a toa que músicas como a faixa título e “Paschendale” ultrapassam os oito minutos, e somente duas têm menos de cinco (“Wildest Dream” e “Rainmaker”). E também não é de se estranhar que o rodado produtor Kevin Shirley já tivesse experiências com bandas como o Dream Theater, grande ícone do prog metal, antes de ser recrutado por Steve Harris.

Uma outra novidade está na letra da já citada “Rainmaker”. Assim como na balada “Wasted Love”, do álbum “Fear Of The Dark”, ela abandona os temas épicos que fazem parte da temática Iron Maiden, para falar de relacionamento. Mas diferentemente de seu par, “Rainmaker” é uma das melhores desse disco, graças a uma bela evolução de guitarra. Agora, não há em “Dance Of Death” tantas músicas tão boas, cativantes e com bons riffs, a ponto de prender o ouvinte. Nem todas as músicas, sobretudo as mais longas, conseguem se sustentar, ainda que possuam riqueza técnica e criativa.

Simplesmente porque elas não são boas. “Face In The Sand”, apesar do coro, que deve crescer ao vivo, “Journeyman” e “New Frontier” são bons exemplos. Mas há também a parte boa, como “No More Lies”, pungente e com típica introdução, “Dance Of Death”, “Gates Of Tomorrow” e “Montségur”, com o tradicional andamento cavalar do baixo de Harris. No frigir dos ovos, “Dance Of Death” é um bom álbum, mas não brilhante como seu antecessor. Se consegue manter a boa fase, só saberemos quando sair o próximo.

Por fim, é obrigatório o registro de que o Iron Maiden conseguiu fazer a pior capa de toda a sua história. Além de o logotipo da banda seguir a linha “clean”, com as letras menores e sem os contornos, as figuras que aparecem na capa, geradas por computação gráfica, parecem ter sido feitas no fundo de um quintal, e não guardam a mínima unidade. Os “tapa-sexos” colocados nessa figuras são uma montagem grosseira, e o Eddie, vestido de morte, está escondido no fundo, e não passa de um mero coadjuvante. Isso sem falar nas páginas internas, onde um fantasma de uma mulher com a parte de baixo do biquíni, mascarada e de salto alto, aparece ao lado dos integrantes da banda nas poses mais estapafúrdias, numa outra montagem de gosto duvidoso.

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