O Homem Baile

Repertório irregular não atrapalha e R.E.M. faz apresentação convincente

Grupo americano apresentou cinco músicas do novo álbum, “Accelerate”, e reviveu grandes sucessos, mas quase pôs tudo a perder com set list mal concatenado. Fotos: Ricardo Nunes/Divulgação Inpress.

De braços estendidos, Michael Stipe agradece a participação do público carioca numa grande noite

De braços estendidos, Michael Stipe agradece a participação do público carioca numa grande noite

Na primeira vez em que veio ao Rio para um show só seu, o R.E.M. convenceu a platéia revivendo grandes sucessos a apresentando as músicas do álbum mais recente, “Accelerate”. Boa parte do público cantou todas a letras das cinco novas, sendo que “Supernatural Superserious”, que abriu o bis, já é praticamente um hit, e “Man-Sized Wreath” também agradou geral. O palco é montado com três telões, sendo o central, maior, todo reticulado e que reproduzia (na maior parte do tempo) temas associados à arte de “Accelerate” e imagens capturadas ao vivo por duas câmeras e tratadas visualmente quase que em tempo real. Além do trio remanescente da formação original, a banda tem um baterista contratado e um guitarrista/tecladista/baixista de apoio.

Stipe mostra o carisma de um grande performer

Stipe mostra o carisma de um grande performer

A primeira música que levanta os cerca de 4 mil fãs é “What’s The Frequency, Kenneth”, também a primeira em que Michael Stipe se solta e chega a fazer o “break do robô” na hora do solo. “Boa noite, somos o R.E.M. e estamos aqui para tocar música”, diz, depois de “Drive”, a quinta. Em “Exhuming McCarthy”, usa uma gravação levada ao microfone por um gravador portátil, quebrando um pouco o pique do show, que vinha com as saltitantes “Ignoreland” e “Imitation Of Life”, coisa que se repetiria durante toda a noite.

Michael Stipe é um sujeito soturno que sobe ao palco com uma expressão fechada e só vai se soltando aos poucos. Tanto que só no final relaxa a ponto de apresentar a banda e mostrar a alegria pela vitória do candidato Barack Obama, cuja imagem aparece no telão – resta saber se ele, em meio às turnês do grupo, votou na semana passada. No fim do show, mais relaxado depois de ganhar uma desnecessária “bituca” do animado baixista Mike Mills, aproveita para citar a presença de integrantes da Anistia Internacional e até para agradecer, num torto e gentil português, o show de abertura do guitarrista Fernando Magalhães.

O discreto Peter Buck preferiu a penumbra

O discreto Peter Buck preferiu a penumbra

Talvez esteja nesse perfil ensimesmado a explicação para a irregularidade do repertório apresentado ontem. É preciso ressalvar que a idéia de variar o set list de cidade para cidade é louvável, mas, a custa disso, o grupo acaba se dispersando do objetivo maior da montagem de um repertório: fazer um show o mais empolgante possível. Nesse quesito o grupo fracassa fragorosamente, interrompendo boas seqüências com músicas que impedem que o espetáculo engrene.

Como, por exemplo, depois da “Losing My Religion” e a inesperada “Nightswimming”, no auge do bis, fazer uma mini-reunião em volta do teclado de Mills para tocar “Animal” acústica, e com Stipe de costas para o público? Ou, ainda, colocar as intrometidas “Sweetness Follows” e “Let Me In” entre “The One I love” e o sensacional bloco final com “Bad Day”/“Horse to Water”/“Orange Crush”/“Is The End Of The World As We Know It And I Feel Fine”? Talvez dessa falta de cuidado é que venha a explicação para o R.E.M. ter como principal hit uma balada incapaz de sacudir a multidão e ainda se negar a tocar “Shine Happy People” (a “Anna Júlia” deles, disse um colega), só porque ela é “alegrinha”, como admitiu Stipe.

Mike Mills: um dos mais animados da noite

Mike Mills: um dos mais animados da noite

Não há o que se queixar, porém, da quantidade de músicas. Em quase duas horas foram 25, como momentos muito bons e outros nem tanto. Nos melhores, realçou o dueto vocal de Stipe e Mills – caso de “Orange Crush” e “Bad Day” -, ou a guitarra semi-minimalista de Peter Buck, na boa “She Just Wants To Be”, que teve como bônus uma dancinha do casal da noite (Stipe + Mills) e levou o público às palmas. Se “Losing My Religion” foi quase burocrática, em “Supernatural Superserious” Michael Stipe encheu os olhos d’água, depois de ter descido no fosso do palco para cantar “The One I Love” com o público, que lhe deu, em troca, uma vistosa bandeira brasileira. Só ficou faltando a bandeja com as caipirinhas daquelas que serviram para eles na última edição do Rock In Rio.

Set list completo:

1- Living Well Is The Best Revenge
2- These Days
3- What’s The Frequency, Kenneth?
4- Driver 8
5- Drive
6- Man-Sized Wreath
7- Ignoreland
8- Imitation Of Life
9- Exhuming McCarthy
10- Hollow Man
11- The Great Beyond
12- Everybody Hurts
13- She Just Wants To Be
14- The One I love
15- Sweetness Follows
16- Let Me In
17- Bad Day
18- Horse to Water
19- Orange Crush
20- Is The End Of The World As We Know It And I Feel Fine

Bis

21- Supernatural Superserious
22- Losing My Religion
23- Nightswimming
24- Animal
25- Man On The Moon

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