Fazendo História

Shows de heavy metal sedimentam público no Rio

No segundo semestre e 2002, essa matéria apontava um crescimento de público nos shows internacionais de heavy metal no Rio, após um período em que muitas bandas tocavam no Brasil e não se apresentavam por aqui. Publicado no Jornal Tribuna da Imprensa.

Enquanto Renata Sorrah e Otávio Muller estereotipavam o fã de rock em plena novela das sete, na Globo, o público de metal já estava se encaminhando para o Canecão, onde, na semana passada, cerca de 2800 pessoas compareceram para assistir o show da banda alemã Blind Guardian. Antes, no final de julho. Foi a vez do finlandês Nightwish levar 3300 pessoas para o ATL Hall, em outra demonstração de força do segmento.

Mas o que estaria mudando? No ano passado, bandas de nome e tradição como o Judas Priest, por exemplo, sucesso no Rock In Rio II, em 1992, não conseguiram o mesmo feito. E mesmo as duas que arrebanharam bom público dessa vez, em outras turnês ao Brasil sequer passaram pelo Rio. Para Alexandre Vilella, da loja Hard & Heavy, que produziu o show do Blind Guardian, “o comparecimento do público é resultado do trabalho que nós fazemos há 12 anos no Rio”. A loja foi uma das pioneiras no segmento que está na ativa, com uma filial em Ipanema, além da matriz no Flamengo. Mas em todo esse tempo, outras lojas se instalaram na cidade, como a Heavy Melody, no Méier e em Campo Grande, e Marquee e Headbanger, todas na Tijuca, entre outras.

Outra resposta pode estar no custo dos CDs, que, com a entrada das gravadoras especializadas em heavy metal, ou de suas representantes no Brasil, caiu consideravelmente. Não que estes preços estejam baratos, mas antes os CDs de metal consumidos pelo público brasileiro eram adquiridos em dólar. Na Hard & Heavy, por exemplo, segundo Vilella, para cada cinco CDs vendidos, apenas um é importado. Blind Guardian e Nightwish, por exemplo, são artistas de duas das grandes gravadoras, Virgin e Universal, respectivamente. A Universal comemora a pré-venda de 12 mil cópias de “Century Child”, o último disco do Nightwish, só nas duas semanas em que a banda esteve no Brasil.

Eric de Haas, holandês radicado no Brasil, há dois anos instalou no país a gravadora alemã Century Media, que representa outras tantas gravadoras de médio porte européias, como a famosa Nuclear Blast, e já colocou no mercado mais de 100 títulos, todos de heavy metal. Entre eles estão desde os badalados Manowar e Primal Fear, duas das bandas mais vendidas, e outras menos conhecidas, como o Entwine e o Sentenced, por exemplo.

Mais uma prova de que o trabalho a longo e médio prazo é determinante para a consolidação de uma boa fatia do público está no mercado editorial. Com o fim, no ano passado, da Revista Bizz, a publicação musical mais longeva do país passou a ser a Revista Rock Brigade, com mais 20 anos no mercado. Atualmente, a Rock Brigade também é uma gravadora que licencia CDs de artistas estrangeiros no país, além de produzir, em nível nacional, shows com o do Blind Guardian.

Dentre ao cerca de dez publicações voltadas para a música no país, pelo menos cinco são segmentadas em heavy metal, sendo que só duas, e ambas de metal, têm periodicidade mensal definida. Além da Brigade, a Roadie Crew, a revista que mais cresce no gênero, também conseguiu conquistar um público fiel.

Para Aírton Diniz, editor da Roadie Crew, “a mídia especializada ajuda a divulgar o show, e as bandas estrangeiras avaliam o mercado brasileiro através da mídia especializada, que ajuda a divulgá-las, de modo direcionado”. Segundo Aírton, o público do Rio consome cerca de 6 mil exemplares da Roadie Crew, o que representa 15% da tiragem total, distribuída nas bancas de todo o Brasil, mensalmente, desde 2001.

O surgimento de bandas locais também confirma a tendência, e mostra como elas ajudam a encorpar o público. No Rio, elas se apresentam principalmente no Garage, tradicional palco do estilo, que nos últimos anos ganhou o reforço de um movimento, aos sábados, de mais de 3 mil pessoas. É que a Rua Ceará, com a inauguração de outros bares, acabou se transformando numa espécie de “Baixo metal”. Entre as bandas cariocas de destaque no Rio estão Allegro, Mysteriis e o Dead Nature.

Se o Sepultura anda meio devagar depois da separação dos irmãos Cavalera, o Angra, a outra banda brasileira com renome no exterior, continua firme com sua nova formação. E o Shaman, banda formada por três ex-integrantes do Angra, já está lançando seu primeiro álbum, “Ritual”, pela major Universal, com direito à inclusão da música “Fairy tale” na trilha sonora da nova novela das sete, “O beijo do vampiro”.

É a primeira vez que uma gravadora multinacional de grande porte contrata uma banda brasileira de heavy metal. “Nosso engenheiro de som ao vivo, Guilherme Canaes, já havia trabalhado no passado com o Max Pierre, que atualmente é o vice-presidente da Universal. Ele ouviu o nosso álbum, que já estava pronto, e pirou! Em uma semana já estávamos assinando”, explica Ricardo Confessori, o baterista do Shaman.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Dilton Souza em junho 5, 2020 às 17:21
    #1

    Ainda está vendendo o ingresso pro show do Blind?

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