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RPM

Revolução! – RPM 25 Anos
(Sony-BMG)

rpmrevolucaoNo underground repousa o repúdio e deve despertar! Esse era o brado de Paulo Ricardo à frente do RPM. Ele só não esperava que as sua banda fosse chegar tão alto, e, uma vez lá, no topo, cair vertiginosamente. Mas como? É isso que este DVD + 4 CDs deveriam explicar, para fazer jus à pecha de “histórico”, afinal, a luxuosa caixa marca 25 anos do início da banda que, no meio do boom do rock nacional na década de 80, foi a que mais vendeu discos: 2,5 milhões de cópias, recorde mantido até hoje entre grupos musicais.

O que faltou no DVD é justamente um documentário que explique o tal fenômeno, feito nos dias de hoje, e com a participação de gente que viveu a época e da combalida crítica musical. É ela, a crítica, a principal ausente no “Globo Repórter” que aparece nos extras. Tentando entender jornalisticamente o que fazia tanta gente gostar do RPM, o então repórter Pedro Bial (hoje animador de auditório) parecia um acadêmico perguntando aos fãs aquilo que eles próprios não sabiam como responder. Ao entrevistar os integrantes do RPM, quase não falou sobre música; preferiu fazê-los passar por situações desassociadas ao trabalho deles. Paulo Ricardo teve que voar de asa delta, e Fernando Deluqui tentou pegar ondas junto com o próprio Bial. Jornalismo é isso aí.

Bial e a Globo não perceberam que o RPM era formado por gente que já tinha uma bagagem musical e cultural, que era mais velha que os demais neo-popstars do momento e que fizeram uma banda moldada para “dar certo”, em sintonia com o momento, político e musical. Que o RPM não era um fenômeno isolado, mas o resultado de um grande movimento de juventude ligada ao rock e ao fim da ditadura no País. Para entender a trajetória fulminante do grupo, é preciso contextualizá-la com tudo que estava à sua volta. Que a Globo, obcecada pelo entretenimento e pelos índices de audiência, não tenha sacado isso na época, ok, mas o mínimo que se poderia fazer para enriquecer o conteúdo dessa caixa era a produção – repita-se, hoje – de um documentário. O especial vale, porém, pelo mínimo de informação que passou, mostrando números e saudosas imagens dos vinis sendo prensados em quantidade cavalar, para atender à demanda de “Rádio Pirata Ao Vivo”.

São as imagens desse show, gravado no Palácio de Convenções do Anhembi, no início de 1986, o que mais interessa nessa caixa. Antes só lançado em VHS (ou “homevideo”, como se dizia na época), mostra o auge do show que correu o país em mais de 200 apresentações em 15 meses, quebrando todos os recordes de público, faturamento, quilometragem e afins. O lançamento do vídeo, e, antes, do disco ao vivo, se deu graças ao vazamento de uma versão pirata, gravada ao vivo em Porto Alegre, da música “London London”, de Caetano Veloso, incluída no show para esticar um curto repertório de uma banda que só tinha um álbum lançado. Mesmo cantada em inglês, chegou a ser executada 85 vezes por dia, crescendo o olho da gravadora que se apressou em lançar o ao vivo, de repertório quase idêntico ao do primeiro disco, para faturar alto. Só que não se pode esperar muita coisa do vídeo, que segue o tal “padrão Globo de qualidade”. Edição ruim, closes fora de sincronia com o som e imagens escuras escondem um espetáculo memorável para a época, que incluía figurinos exclusivos, raios laser e muita fumaça. Como único registro, vale pela história.

Nos extras, além do “Globo Repórter”, há a banda tocando três músicas na praia do Pepino, no Rio, no programa “Mixto Quente”, que era transmitido nas tardes de domingo, e uma apresentação no Chacrinha, metade sem áudio, outra metade em playback, como era a regra no programa, com a banda recebendo o disco de ouro. Faltaram os videoclipes oficiais. No final, uma entrevista feita na Globo mostra a banda às vésperas do lançamento do quarto álbum, “RPM” (conhecido como “Quatro Coiotes”), onde o próprio Paulo Ricardo admite que a “onda RPM” já havia passado, e que jamais se faria uma turnê que resultasse naqueles números extraordinários.

Entre os CDs, os três primeiros trazem a íntegra da discografia do RPM que interessa. “Revoluções Por Minuto” (1985), “Rádio Pirata Ao Vivo” (1986, com seis músicas a menos em relação ao DVD) e “RPM” (1988). Um quarto disquinho reúne os remixes feitos para as danceterias – febre nos anos 80 -, que chegaram às rádios e contribuíram para a febre RPM. Servem de exemplo para aqueles que acham que não é possível dançar ao som de rock. E para nos fazer lembrar como eram bons aqueles tempos em que o rock dominava as paradas e era escutado por todo mundo.

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