Som na Caixa

Michael Jackson

Thriller
(Sony-BMG)

michaeljacksonthriller25Numa época em que o (formato) álbum está quase em desuso, é interessante olhar para o mais bem sucedido de todos eles, com mais de 104 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. “Thriller” é o sexto álbum solo de Michael Jackson e o que o transformou definitivamente num astro global, em tempos em que a própria globalização ainda engatinhava – não havia internet em 1982. É o tipo de disco que, mesmo que o sujeito não tenha em sua coleção, conhece quase todas as faixas, uma vez que, das nove músicas do álbum original, sete tocaram maciçamente nas rádios. Essa edição comemorativa de um quarto de século do disco, além de uma nova capa – que, em mau gosto, conseguiu a façanha de superara original -, ganhou remixes com bam bam bans da música atual e um DVD bônus com os clipes que o ajudaram (e muito) a chegar nos tais 104 milhões de cópias.

Convenhamos que um disco que vende tanto assim não deve ser ruim. Deixando de lado todas as ações de marketing, jabá e outras falcatruas utilizadas pela indústria do disco em todos os tempos, e lançando um olhar para o trabalho artístico em si, há que se dar a César o que é de César. Primeiro que Michael, experiente músico que desde o berço cantava com a família no Jackson 5, com quem lançou 13 discos de relativo sucesso, já tinha a manha de fazer música em estúdio, e convocou ninguém, menos que Quincy Jones, um mago da música negra americana, para cuidar da produção. Também não faltaram recursos para contratar artistas que só trouxeram qualidade e “fama de bom” para o disco. Para um dueto vocal em “The Girl Is Mine”, o ex-Beatle Paul McCartney. Um solo de guitarra em “Beat It”? Eddie Van Halen. Uma voz cavernosa na faixa-título? Chamem o ator Vincent Price. E assim foi.

Mas Michael mostra, também, talento como compositor e arranjador. Quase todas as músicas do disco têm sua assinatura, incluindo as mais bombadas como “Beat It” e a pérola Billie Jean. Embora nunca tenha sido grande cantor, soube encarnar muito bem (ao menos durante certo tempo) o personagem “ídolo fake fabricado pela indústria do disco” com muito talento ao interpretar cada música de “Thriller”. Mas sua grande obra talvez não tivesse conquistado tamanho sucesso, não fosse a exposição proporcionada pelos videoclipes. Era a época em que os Estados Unidos – e à reboque, o mundo – tinha descoberto a MTV e a imagem associada à música, e Michael foi rapidamente consumido pela nova forma de vender música, e dela soube muito bem se aproveitar. Tanto que os clipes tiveram excelente produção, desde o de “Billie Jean”, de baixo orçamento, em que Michael salva a lavoura dançando, até o de “Thriller”, praticamente uma superprodução em forma de curta-metragem, ops, videoclipe. Os três que aparecem (“Beat It” incluído) no DVD, somados à extraordinária performance (ao vivo) de Michael na comemoração de 25 anos da gravadora Motown, são parte do imaginário pop coletivo de qualquer mortal.

Nos extras do CD, de raro mesmo só uma gravação de Vincent Price que não saiu no disco, e a música “For All Time”, que sobrou das gravações. Os remixes, além de tirar a magia das gravações originais, não acrescentam nada às músicas que não façam parte de fórmulas demasiadamente usadas. O vocalista e produtor will.i.am, do Black Eyed Peas, detonou “The Girl Is Mine” e “P.Y.T.”; o rapper Akon fez da dançante “Wanna Be Startin’ Somethin’” algo monótono; Fergie, também do Black Eyed Peas, cantando junto com Michael em “Beat It” tanto o imitou que sua participação quase passou batida; e “Billie Jean”, remixada por Kanye West, ficou a devendo para a versão feita há 25 anos.

Mas a grande pérola da versão nacional do CD ficou na contracapa, que avisa que o disco não é “recomendado para menores de 12 anos” e “contém consumo de drogas lícitas”. Vinte e cinco anos e 104 milhões de cópias depois, não precisava, né?

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