Rock é Rock Mesmo

Aqui não toca Madonna nem Michael Jackson

A antítese do rock nos anos 80 vira tema de colunista que decide seguir conselho de Ozzy Osbourne: nunca diga nunca.

Meus amigos, sou do tempo em que rádio rock não tocava Madonna nem Michael Jackson. Era essa, aliás, uma das vinhetas da saudosa Fluminense FM (que eu adorava), a pioneira das pioneiras das rádios rock no Brasil. Lá, Madonna e Michael Jackson eram o símbolo do contrário daquilo que eles queriam privilegiar: o rock em si. A duplinha que comandava o pop dos anos 80 era uma espécie de anti-rock, a antítese daquilo que iria dominar a década de 80, graças, inicialmente, à Flu-FM e ao Circo Voador. E, mais amiúde, por causa do fim da ditadura militar no Brasil. Mas isso, meus amigos, é outra história.

Digo isso porque já há uns dias estou aqui frente a frente com a versão comemorativa do álbum mais vendido de todos os tempos. Sim, a caixinha especial do “Thriller”, de Michael Jackson. Falei frente a frente por uma questão de plasticidade lingüística. O disco está, na verdade, um pouco à minha esquerda, à minha frente. Não sei se já contei a vocês, mas aqui na minha estação de trabalho (lindo isso, né?) tem, na mesa, um à minha esquerda, e outro à minha direita – um de cada lado do monitor – escaninhos daqueles feitos de barrinhas redondas onde se guardam CDs, de modo que eles fincam inclinados. No da direita, ficam os CDs que acabei de resenhar. Deixo-os ali até encher o escaninho (cabem 20) de modo que posso ainda ouvir uma outra vez e conviver mais um pouco com eles, antes da partida definitiva para a estante, que fica em outro cômodo da casa. No da esquerda, ficam aqueles CDs prestes a serem resenhados, a prioridade entre tantos em atraso. É ali, bem na frente, que há alguns dias o tal “Thriller” da edição comemorativa está a me encarar.

Desde que montei este meu site – na verdade um blog metido a besta – e dei-lhe o nome de “Rock em Geral”, decidi que, além de alocar ali todos os meu trabalhos, evitaria o que não fosse algo dentro do universo pop rock. Uma entrevista – por exemplo – que fiz para a Revista Bizz com Rômulo Costa, da Furacão 2000, e o DJ Marlboro, na época em que eles, desafetos antigos, haviam feito as pazes, jamais foi publicada em meu site, muito embora a própria Bizz também não tenha publicado, já que a matéria seria para o Entrevistão da edição de agosto, que nunca chegou a sair, porque a referida publicação já havia sido retirada de circulação.

Mesmo assim, decidi que faria a resenha de “Thriller” para este site. Afinal não é todo dia que se tem nas mãos o disco mais vendido de todos os tempos. Ouvi o disco e seus extras, vi (revi) os videoclipes que estão num DVD bônus, pensei inúmeras vezes o que falar, como começar o texto (coisa e jornalista) e tal, mas fazer mesmo que é bom, nada. Até a capinha do CD, que acompanha as resenhas do site, já foi devidamente preparada para entrar junto com o texto. Fazer que é bom, nada.

Nesse ínterim, recebo a missão de escutar, em primeira mão, “Hard Candy”, o novo disco da Madonna. Acontece assim: o sujeito vai até a sede da gravadora, se reúne numa sala com uma dúzia de jornalistas, todos escutam uma cópia do disco, fazem suas anotações e saem dali direto para as suas respectivas redações para escrever suas matérias/impressões sobre o disco. Já tive a oportunidade de participar de várias audições desse tipo no passado, mas esse tipo de evento, a bem da verdade, pouco tem acontecido nos últimos tempos. Na maioria das vezes, dava tempo de chegar e em casa e só depois fazer a tal matéria sobre o disco. Agora, em tempos de tudo on line ponto com, a matéria tem que sair na hora, direto de lá (ou de perto) de onde vai acontecer a audição do disco da fofa.

Disse isso tudo para chegar a este momento, mais de vinte anos depois, de ter os dois reizinhos do pop no meu entorno, querendo ou não. Como sempre digo, são os fatos, e não podemos da as costas a eles – até porque pode ser perigoso. E os fatos dizem que eles estão aí, não foram atropelados pela história como eu próprio já desejei tanto. Bem, mais ou menos. Se Madonna, no ano em que completa cinqüenta primaveras, continua lançando discos e posando de gostosa, Michael se transformou em algo freak, e só é notícia em páginas policiais ou de fofocas. É realmente outra pessoa aquela que aparece dançando no clipe de “Billie Jean”.

Sim, meus amigos, o mundo dá voltas, já diziam os caras do CPM-22. Devo admitir que hoje tenho nas mãos as carreiras desses dois 171s da música pop, e tenho que escrever isso ou aquilo sobre eles, seja no texto da audição do novo disco de Madonna, seja na resenha do disco mais vendido em todos os tempos – o de Michael. O que é a natureza. E o que é o profissionalismo. Nunca diga nunca, diria Ozzy. No que, de imediato, obedeço.

Até a próxima e long live rock’n’roll!!!

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