No Mundo do Rock

Sebastian Bach traz Axl Rose a reboque

Enquanto o novo disco do Guns N’Roses vira lenda, ex-vocalista do Skid Row abre espaço para o amigo, enfim, trazer de volta ao público a voz que marcou o hard rock dos anos 90. Íntegra da entrevista feita para matéria publicada no Jornal do Brasil no dia 22 de fevereiro. Fotos: Ron Boudreau e Sebastian Bach (com Axl)/Divulgação EMI.

Sebastian Bach promete voltar a mostrar a força de sua banda ao vivo no Brasil

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No início dos anos 90 eles eram os mandachuvas do hard rock e arrastavam milhares de fãs por onde passavam. À frente de duas bandas que lotavam estádios, se tornaram símbolos sexuais do rock - talvez os últimos, em tempos de mudança no jeito de se ouvir música. Hoje, voltam a uma cena que, na verdade, nunca deixaram para trás. Se Axl Rose vive tentando desencravar o novo disco do Guns N´Roses, “Chinese Democracy”, Sebastian Bach, fora do Skid Row, trabalhou bastante até chegar ao seu álbum solo, “Angel Down”.

O disco traz como um dos trunfos a participação de Axl em três das 14 faixas, a primeira gravação dele que vem a público em muitos anos. A façanha nasceu da camaradagem entre os dois vocalistas, após uma turnê mundial do Guns N’Roses, que teve como show de abertura a banda de Sebastian Bach, entre 2006 e 2007. Mas “Angel Down” é muito mais do que um disco que tirou Axl Rose do próprio umbigo. O álbum teve a produção de Roy Z, uma espécie de “ghost writer” do heavy metal, que além de saber operar todos os botôezinhos no estúdio, também fornece boas músicas para seus clientes. Só nesse disco foram quatro.

Entre a saída do Skid Row, em 1995, e o lançamento de “Angel Down”, Sebastian Bach não ficou parado. Lançou um álbum ao vivo do tipo caça-níqueis, “Bring ‘Em Bach Aive”, em 1999; gravou de ponta a ponta o segundo disco da banda de prog metal Frameshift, em 2005; participou de algumas temporadas da série de TV “Gilmore Girls”; e ainda cantou em vários espetáculos musicais da Broadway. Prestes a completar 40 primaveras, Bach não se preocupa com a voz. Tanto que fez questão de desafiá-la em “Angel Down”. O disco tem músicas com muitas partes altas, de difícil alcance, e o resultado é bastante animador. Veja mais detalhes nessa entrevista exclusiva, feita por telefone, direto de Nova Jersey, Estados Unidos:

Rock em Geral: Por que você demorou tanto tempo para lançar o primeiro disco solo?

Sebastian Bach: Este não é o meu primeiro disco solo. Meu primeiro disco solo foi lançado em 1999, o “Bring ‘Em Back Alive”, com músicas ao vivo, mas ele tem cinco músicas inéditas, e duas músicas gravadas em estúdio. Em 2005 eu lancei um disco chamado “Frameshift 2”, que era um disco de prog metal. James LaBrie, do Dream Theater, gravou no primeiro disco deles, e eu cantei no segundo. Mas o “Angel Down” é o meu segundo “próprio” disco solo, e é o meu melhor álbum em todos os tempos, desde “Slave to the Grind”, de 1991. “Frameshit 2” tem muitas músicas legais, mas o “Angel Down” é mais aquilo que vocês esperam de mim, eu estou muito orgulhoso do disco. É a melhor coisa que eu lanço em, no mínimo, 15 anos.

REG: Eu não contei o ao vivo e o disco do Frameshit como discos solos…

Sebastian: Não é chamado assim, mas eu canto em todas as músicas, e eu posso chamar de um disco do Sebastian Bach. Quero dizer, o Skid Row também não é um disco solo, mas “Angel Down” soa mais como o Skid Row do que o próprio Skid Row. Você pode chamar o disco como você quiser, mas se eu canto todas a músicas do disco, soa como sendo meu.

REG: Como você escolheu os caras que gravaram esse disco?

Sebastian: Eu era um grande fá do disco do Halford, “Ressurrection”, e quando o Rob halford resolveu voltar para o Judas Priest, eu pensei que ter esses caras na minha banda seria o melhor em termos de bons músicos.

REG: No show que vocês fizeram no Rio, em 2005, vocês não tocaram muitas músicas novas…

Sebastian: Eu não lembro, mas acho que tocamos alguma coisa do Frameshit, não me lembro exatamente do set list.

REG: E como está indo essa turnê, agora que o disco saiu?

Sebastian: Começamos em junho, fizemos três shows na Europa e então temos uma turnê nos Estados Unidos começando em julho, e esperamos ir ao Brasil de novo.

REG: Qual foi a importância do Roy Z. no disco?

Sebastian: Ele é um produtor inacreditável, muito talentoso como “produtor de discos de vocalistas solos de heavy metal”. Ele foi perfeito pra mim, porque também é um compositor inacreditável. Ele fez quatro músicas no “Angel Down”, e eu diria que a maior coisa que ele trouxe para esse disco foi ouvir as músicas que tínhamos e perguntar “o que esse álbum precisa?”. Ele esteve totalmente focado nas músicas que ele trouxe para o CD, “(Love is) A Bitchslap”, “By Your Side”, que é o single… Acho que o Roy é um compositor oculto muito bom e grande produtor.

REG: Essa foi a primeira vez que o Axl Rose entrou num estúdio em muito tempo, como você o convenceu a participar do disco?

Sebastian: Nós fizemos uma turnê juntos em 2006 e 2007 nos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, em todo o mundo, Austrália, nova Zelândia, Europa, em todos os lugares. Quando eu tive tempo de finalizar o “Angel Down”, no verão de 2007, eu testei o Axl, só de brincadeira: “Ei, quando você vai cantar no meu disco?” E ele disse: “Quando? Que dia? Que hora?” Eu disse que ele estava de sacanagem, mas apareceu e cantou muito bem no disco. A minha favorita é “Stuck Inside”, no final ele grita de uma forma muito legal, espantoso mesmo, tive muita sorte de tê-lo no disco.

Entre as gravações de "Angel Down", Sebastian Bach não titubeou: sacou do bolso a câmera digital e registrou a presença do amigo Axl Rose. Só faltou falar pra ele abrir o sorriso...

Entre as gravações de "Angel Down", Sebastian Bach não titubeou: sacou do bolso a câmera digital e registrou a presença do amigo Axl Rose. Só faltou falar pra ele abrir o sorriso...

REG: Como você decidiu em que músicas ele deveria cantar?

Sebastian: Ele decidiu. Ele adorou “Back in the Saddle”, porque é uma música famosa do Aerosmith. Nós dois somos grandes fãs do Steven Tyler, como cantor e do Aerosmith como banda, desde que éramos bem pequenos, e ele realmente gostou das guitarras tocadas pelo Metal Mike e pelo Roy Z. em “Back in the Saddle”. Ele fez essa primeiro, e então nós fizemos “(Love is) a Bitchslap”, e então depois fizemos “Stuck Inside”, que é a minha favorita. Eu adorei o som, “Back in the Saddle” foi desafiante saber quem cantou que parte, porque ele é espantoso, e eu sou muito bom também. Ficou difícil de saber quem canta o que, então eu olhei para as letras para saber quem cantaria. Quando ele canta (cantarola) “I’m calling all the shots tonight / I’m like a loaded gun”, eu disse: “Guns N’ Roses! Essa é a parte de Axl!”. Ou então em “I’m loading up my pistol”, é Guns N’ Roses!. As letras disseram quem cantaria o que.

REG: Falando sobre o Guns N’ Roses, você acha que esse ano o Axl finalmente consegue lançar o “Chinese Democracy”?

Sebastian: Eu acho que sim, eu realmente acho isso. Sei que ele estava pronto para esse lançamento no Natal passado, ele falava que o disco sairia antes do Natal, mas eu acho que isso é uma questão de negócios, muito mais do que do Axl. É uma situação maluca de mercado que não deixa esse disco sair, é isso que eu diria a essa altura.

REG: Como você compararia a sua performance como vocalista, com os velhos tempos do Skid Row?

Sebastian: Eu acho que está melhor agora, com o advento da tecnologia que permite termos o retorno dentro do ouvido. Quando eu canto no palco hoje eu tenho o monitor, tenho o som dentro do meu ouvido e posso sempre ouvir a música de um jeito muito melhor do que eu fazia no início dos anos 90. Quando eu vejo no you tube vídeos antigos do Skid Row tocando ao vivo, concluo que hoje as coisas são muito melhores. É só uma questão de tecnologia, os monitores no início dos anos 90 eram muito difíceis de se escutar a música. Em palcos gigantes como os de Rio e São Paulo, em grandes estádios de futebol, eu quase não ouvia o som de guitarra, porque ela estava a mil quilômetros de distância!

REG: Você acredita que as temporadas na Broadway fizeram de você um cantor melhor?

Sebastian: Definitivamente. Quando você canta oito horas por semana durante seis meses, há muito coisa cantada, é uma inacreditável quantidade de tempo em cima de um palco, num teatro. Então foi muito legal aprender coisas novas em cima de um palco de teatro e trazer tudo para um palco de rock.

REG: O “Angel Down” parece ser um disco muito difícil para um vocalista. Você encarou esse disco como um desafio para você mesmo, para provar que ainda é um grande vocalista, como antes?

Sebastian: Claro que sim, quero dizer, “18 and Life”, “I Remenber You”, “Living on a Chain Gang”, “Monkey Business”, “Quicksand Jesus”… Eu realmente acho que são músicas em que há um belo trabalho vocal. Mas em toda a minha vida eu sempre tentei fazer melhor do que aquilo que fiz antes, então eu estou muito orgulhoso dos vocais do “Angel Down”, especialmente músicas como “You Don’t Understand”, “Stuck Inside”… Eu tenho muita sorte porque Deus me deu uma voz que, se ouvir algo na minha cabeça e me concentrar, posso repetir esse som, fazer sair pela minha boca. Outra música que me dá muito orgulho é “Live & Die”, que foi desafiador cantar, tem versos altos e acordes limpos. Eu fiquei muito orgulho de todo o som do disco.

REG: Falando das músicas, “Negative Light” e “(Love is) a Bitchslap” são as que mais se parecem com os tempos do Skid Row…

Sebastian: Claro, sou eu, não há diferença naquilo que eu fiz no primeiro disco do Skid Row ou no “Slave to the Grind”, “Subhuman Race” e o “Angel Down”. Os discos do Skid Row são bons porque fazíamos tudo na garagem da casa do Rachel (Bolan, baixista do Skid Row), e tocávamos em jam sessions até a idéias aparecerem. E foi mais ou menos assim que fizemos o “Angel Down”. Não há realmente muita diferença no jeito em que fizemos esses álbuns.

REG: Já “You Don´t Understand” tem uma introdução colante e bem melódica, como nas bandas de heavy metal melódico…

Sebastian: Essa música me lembra, sim, essa coisa do Iron Maiden, o que é legal e eu gosto. Na verdade, originalmente seria um riff bem mais lento, do jeito que o Roy escreveu, era mais assim (cantarola), e aí eu disse, vamos fazer mais rápido, (cantarola mais rápido) e me acharam louco, que era rápido demais. E agora quando eu ouço essa música, nem parece veloz, parece normal.

REG: Quantas músicas do “Angel Down” vocês têm tocado nos shows?

Sebastian: Várias, fizemos a turnê junto com o Guns e tocamos muitas músicas, mas na verdade nem tocamos em nenhum show ainda, depois que o disco saiu, nem começamos a promover esse disco. Mas provavelmente vamos tocá-lo inteiro nas turnês. Temos uma turnê que começa em junho e julho, vamos lançar o vídeo para “By Your Side”. Tocaremos todas as músicas, mesmo as mais difíceis de se fazer nos shows, como “Falling Into You”, porque tem um piano.

REG: Você participou da série “Gilmore Girls”, gostou da experiência? Pretende repetir?

A julgar pelos belos vocais de "Angel Down", o tempo não parece mesmo passar para Sebastian Bach

A julgar pelos belos vocais de "Angel Down", o tempo não parece mesmo passar para Sebastian Bach

Sebastian: Eu gostei muito de fazer o “Gilmore Girls”, gosto de trabalhar com pessoas profissionais que gostam de fazer o que fazem, e se divertem com isso. E definitivamente “Gilmore Girls” tem muita diversão, foi muito legal aparecer no meio de pessoas contentes, com boas energias e totalmente profissionais. Foi uma grande experiência, e esse programa passa em tudo o que é canto, eu vi no Brasil, no México, Inglaterra, Itália, Canadá, Austrália, onde quer que eu vá ele passa, é incrível você poder ver Sebastian Bach num programa de TV familiar no Brasil, é muito bom!

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