No Mundo do Rock

Com menos integrantes e mais convidados, Korn muda e sobrevive ao nu-metal sem deixar de freqüentar as paradas de sucesso

Íntegra da entrevista feita para a matéria intitulada “Pop Korn”, publicada na Revista da MTV número 76, de setembro de 2007. Fotos: Travis Shinn (1 e 3) e Sebastien Paquet (2)/Divulgação EMI.

Fieldy (baixo), Jonathan Davies (voz e bateria eventual) e James "Munky' Shaffer (guitarra): a formação de trio do Korn

Fieldy (baixo), Jonathan Davies (voz e bateria eventual) e James "Munky' Shaffer (guitarra): a formação de trio do Korn

Podem anotar aí: se há uma tendência que pautou o rock americano – e mundial - na segunda metade nos anos 90, ela tem nome, endereço e banda chave. Nascido em Bakersfield, no interior da Califórnia, o Korn se tornou o principal ícone daquilo que veio a ser chamado de nu-metal. Uma subdivisão bizarra do heavy metal - muitas vezes renegada no próprio meio - cuja fórmula continha: a) Duas guitarras com afinação mais baixa e uma corda a mais; b) Mistura de rap, hip hop e eletrônica com guitarras pesadas; c) Vocais gritando letras que eram verdadeiras salas de terapia coletiva; e d) Visual notadamente fashion, onde agasalhos esportivos, piercings e cabelos coloridos substituíam a tradicional indumentária à base de couro e cortes de cabelos medievais do heavy metal. Estava feita a confusão dentro da música pesada, e depois do Korn vieram Limp Bizkit, Linkin Park, System Of a Down e Deftones, entre outros.

Amadurecido por conta das altas vendagens em todo o mundo, o Korn começou a esboçar sinais de mudança para se manter no mercado da música pop sem ficar preso ao glorioso, porém superado passado. A virada aconteceu em 2005, com o lançamento do álbum “See You On The Other Side”. Se antes a participação do produtor Ross Robinson foi vital para a implantação do nu-metal, dessa vez a banda trouxe para dentro do grupo produtores que ajudariam a dar uma nova cara para o Korn. Coincidiu de ser este o primeiro disco sem Brian “Head” Welch, que deixou a banda por conta de uma conversão a uma igreja protestante. Um guitarrista a menos foi a deixa para o predomínio de um som criado dentro do estúdio, com a ajuda de Atticus Ross (Nine Inch Nails) e do trio de produtores The Matrix, que passaram a dividir a autoria das músicas com o Korn. Em “Untitled”, o oitavo disco, a fórmula se repetiu. A idéia era voltar ao topo das paradas, já que o indeciso “Take a Look At The Mirror”, de 2003, produzido pela própria banda, não havia cumprido esse papel. Ao que parece a coisa deu certo: na primeira semana de agosto, “Untitled” ocupava o segundo lugar na Billboard e batia 125 mil cópias nos Estados Unidos.

Nessa entrevista exclusiva feita por telefone, o baixista Fieldy fala pouco sobre as músicas do novo disco, mas destrincha a forma com que a banda trabalha em estúdio, incluindo um rodízio de bateristas que contou até com Jonathan Davies, já que David Silveria decidiu dar um tempo para ficar com a família e cuidar de seus restaurantes. Fieldy conta ainda como enxerga o Korn no mercado da música pop, e aproveita para zoar Brian Welch, que escreveu um livro com a história de como foi “salvo” de sua ex-banda. Confira:

Rock em Geral: Por que vocês decidiram deixar esse disco sem título? Não pode confundir com o primeiro disco do Korn?

Fieldy: Todo mundo sempre quer que nós demos um nome a um disco, e dessa vez nós dissemos: Por que? E disseram: porque vocês têm que dar um. E nós dissemos: não, nós não temos. Resolvemos não por um nome no disco. Foi isso.

REG: Assim que o Brian Welch saiu da banda, vocês começaram a trabalhar com os caras do Matrix e ainda com Atticus Ross e Zac Baird. Como vocês chegaram a eles e o que você acha das mudanças que eles trouxeram para a trajetória do Korn?

Fieldy: Nós trabalhamos com Atticus Ross e Matrix no último álbum do Korn, “See You On The Other Side”, e o trabalho deles foi muito bom, então fizemos o mesmo neste novo álbum. É fantástico trabalhar com eles, gostamos da direção de Atticus Ross um pouco mais. Por causa do estilo que estávamos procurando para a banda o trabalho dele funcionou melhor para nós.

REG: Vocês estavam procurando algo mais próximo do pop, no sentido comercial da coisa, quando se juntaram a eles?

Fieldy: Para nós, para o Korn… Bem, nós estamos preparados para trabalhar com o Matrix. Porque nós não sabemos como compor coisas pop, então tanto faz se trabalharmos com produtores pop, ou produtores de r’n’b, ou hip hop, não faz a menor diferença, porque o Korn é o Korn.

REG: Vocês sempre disseram não pertencer a cena do heavy metal, e agora parece que a banda decidiu ir para fora da música pesada de vez…

Fieldy: Bem, eu respondo por mim mesmo, e se alguém vir até mim e perguntar… Se uma pessoa ente 40 e 50 anos de idade me perguntar: que tipo de música sua banda faz? Eu diria: heavy metal. Mas se um garoto chega pra mim, com 15, 17 anos e diz: que tipo de música sua banda toca, eu diria: bem, é um grupo pesado, com diferentes estilos, alguma coisa de nu-metal… A coisa varia de acordo com a idade de cada um, depende de quem faz a pergunta.

REG: Você acha que é mais difícil explicar que tipo de som o Korn faz para os mais jovens?

Fieldy: Não, é mais engraçado. Uma pessoa mais velha aceita a expressão heavy metal, porque não entende. Mas com um jovem você começa com os detalhes da coisa.

REG: Falando de músicas desse disco, “Bitch We Got a Problem” e “Evolution” são bem pops, se compararmos como passado do Korn…

Fieldy: Eu acho que são, sim.

REG: São músicas que você gosta, em particular?

Fieldy: Sim, são músicas boas.

REG: Fáceis de tocarem em rádio…

Fieldy: Tem várias assim, acho que “Starting Over” é uma outra, “Hold On” é outra, “Kiss” é outra…

REG: De outro lado há coisas experimentais, como “Ever Be” e “Innocent Bystander”. Vocês tentaram misturar esse tipo de coisa, músicas pop, fáceis de se tocar no rádio, e outras bem experimentais?

Fieldy: Eu sei lá…

REG: Está achando essas perguntas difíceis de responder?

Fieldy: Talvez, não sei como te responder isso…

REG: Eu li num site que o “Munky” disse que esse álbum coloca o Korn no âmbito do rock, fora do gueto do metal, você concorda com ele nisso?

Fieldy: Quer saber? Eu diria que somos o Korn agora, e somos “rock metal”.

Jonathan e "Munky" entre a turma da Family Values Tour

Jonathan e "Munky" entre a turma da Family Values Tour

REG: O Korn foi um grande ícone do metal alternativo por 10, 12 anos, e agora vocês converteram o som de vocês em algo mais pop e até eletrônico. Você acha difícil fazer essa transição?

Fieldy: Eu sei lá, nós na verdade nunca tentamos fazer ou ser nada, foi só o que aconteceu e nós estávamos ali no comando. Acho que a tecnologia também faz a parte dela.

REG: Você vê o Korn como esse ícone do nu-metal?

Fieldy: Acho que não me cabe dizer isso.

REG: Mas deve ouvir esse tipo de coisa…

Fieldy: É…

REG: Sobre as gravações, como foi a experiência de gravar com Terry Bozzio, e por que ele saiu antes de o disco o ficar pronto?

Fieldy: Trabalhar com Terry Bozzio foi algo completamente diferente, porque ele está na ativa há muito tempo, e é um dos melhores bateristas do mundo. Tocando com ele, no estilo dele, tão diferente, num tipo de música completamente diferente e fora do que nós fazemos, foi completamente influente para nós. Ele é mais um baterista de estúdio, tem uma série de projetos em andamento.

REG: Por que ele não terminou de gravar o disco?

Fieldy: Só queríamos fazer seis músicas com ele, porque queríamos trabalhar com bateristas diferentes, não só um de estúdio. Então trouxemos o Brooks Wackerman, do Bad Religion, porque gostamos e trabalhar com ele. Ele nos mostrou que era espantoso e queríamos fazer algo com ele, em músicas diferentes.

REG: Gostaram da experiência de troca de baterista durante as gravações?

Fieldy: Como um baixista, acho que seria divertido trazer um baterista diferente a cada música, porque são batidas de bateria, e é legal trabalhar com batidas diferentes, não importa o quanto diferente é o baterista, mas sim a batida que sai do instrumento. Posso trabalhar com um baterista em cada música, seria muito divertido e é para isso que a música serve, para diversão.

REG: E nos shows, vocês estão se dando bem com o Joey Jordison?

Fieldy: Ele está em turnê conosco agora, mas é só uma turnê, ele continua firme no Slipknot. Gostaríamos de gravar alguma coisa com ele no futuro, num novo álbum do Korn, porque ele é um batera espantoso.

REG: Qual a diferença de se tocar num Korn com dois guitarristas e num Korn com apenas um?

Fieldy: Nós nunca tocamos com um só guitarrista, sempre tivemos dois, temos o Clint Lowery, do Sevendust, tocando guitarra conosco agora. Espera aí, você fala sobre tocar ao vivo ou gravar um disco?

REG: Eu me referia aos shows mesmo, mas já que você falou, fale sobre as gravações. Como é gravar um disco com apenas um guitarrista?

Fieldy: Ao vivo sempre tivemos dois guitarristas, mas num estúdio de gravação foi legal sentarmos eu o “Munky” e escrevermos as músicas. Foi um desafio, uma coisa bem mais trabalhosa para o “Munky”, ele teve que cobrir duas partes, e eu acho que ele estava pronto para fazer isso. Ele deu o passo que tinha que dar.

REG: Em geral vocês fazem músicas dentro do estúdio? Como os caras do Matrix participam?

Fieldy: Acontece assim. Um produtor vem, eu e “Munky” sentamos e fazemos a música em mais de 20 partes musicais diferentes, e gostamos de tudo o que compomos. Aí gente chama: Hey, Atticus, por que você não pega três partes favoritas dentre essas 20? Ele identifica exatamente as três partes que precisa para encaixar numa música. Ele nos ajuda a tirar de nós o melhor daquilo que nós conseguimos compor.

REG: Contando com o acústico, esse é o segundo disco que vocês lançam no mesmo ano, foi algo que vocês planejaram?

Fieldy: Na verdade queríamos fazer algo acústico em algum momento. Então tentamos fazer, se ficasse bom, faríamos, se não gostássemos, deixaríamos de lado. Tentamos e as coisas saíram tão boas que decidimos lançar. Graças aos músicos que tocaram, às músicas todas re-arranjadas, colocamos um bocado de tempo nisso e é um disco bom para se comprar dentro do formato acústico. Mas se você não gosta de música no formato acústico, compre o novo disco do Korn.

REG: Foi difícil pra vocês? Porque o Korn é uma banda pesada e bem barulhenta…

Fieldy: Era o que queríamos fazer porque… O quanto de distorção há na música do Korn? Há muito som de guitarra dentro dela que esconde muitas nuances. Em muitas partes diferentes tiramos a tomada e ouvimos, e assim pudemos sacar todo o tipo de som que a nossa música esconde.

REG: Vocês chegaram a conversar com o Brian Welch sobre o livro que ele escreveu (“Save Me From Myself: How I Found God, Quit Korn, Kicked Drugs, and Lived to Tell My Story”, algo como “Salvo de mim mesmo: Como encontrei Deus, saí do Korn, me livrei das drogas, e vivi para contar a minha história”)?

Fieldy: Eu não falei com ele, mas li o livro, e estou realmente orgulhoso dele, é uma boa história, ele fez um bom trabalho, realmente me inspirou. Eu quero escrever um livro também, estou trabalhando um livro chamado “Got a Life”, mas não tive a chance de dizer a ele que estou orgulhoso do livro dele.

REG: Há algo no livro que vocês não gostaram?

Fieldy: Não, porque mesmo quando ele estava um pouco “off”, ele dizia que não se lembra de tudo porque estava se divertindo. Não dá pra lembrar de detalhes de tudo, mas tem muito a ver, ele esteve por perto em toda a minha vida, e eu acho que é um grande livro, concordo com tudo sobre o que ele está falando.

REG: Está tudo certo com o Jonathan agora (o vocalista do Korn descobriu que é portador de uma doença rara no ano passado)?

Fieldy: Ele ainda tem que verificar o sangue o tempo todo, para ficar certo de que tudo está bem. Ele tá bem, mas tem que continuar acompanhando só para ter certeza de que ele não vai quase morrer de novo.

REG: Vocês decidiram voltar, no ano passado, com a Family Values Tour, podemos chamar esse evento de “o festival do Korn”?

Fieldy: A Family Values Tour começou há dez anos, ficou sem acontecer por algum tempo, mas nós trouxemos o festival de volta. Sim, podem chamá-la de “a nossa própria turnê”.

Com muitos convidados, para os três integrantes do Korn menos, literalmente, é mais

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