No Mundo do Rock

Gotthard reafirma vocação retrô em ‘Domino Effect’

Novo lançamento da banda suíça consolida hard rock de raiz e encontra acolhida também no Brasil.

Marc Lynn, Leo Leoni, Hena Habegger, Freddy Scherer e Steve Lee: a força do hard rock contemporâneo

Marc Lynn, Leo Leoni, Hena Habegger, Freddy Scherer e Steve Lee: a força do hard rock contemporâneo

Desafiando o improvável, não é que o Gotthard está consolidando um bom público no Brasil? No ano passado a banda fez um dos melhores shows do Live’N’Louder e ainda tocou no Rio para um Circo Voador abarrotado. Sim, improvável mesmo. Ou alguém acha comum uma banda de hard rock clássico – aquele de raiz – surgir na Suíça e só se destacar quase vinte anos depois de formado, com ênfase no Brasil? Sorte deles. E nossa também.

“Domino Effect” é o novo disco deles, e vem repleto de músicas legais. Riffs bem sacados e matadores, e baladas irresistíveis dão o tom, num trabalho que se sustenta mais pela qualidade das músicas do que por apresentar algo de novo – é hard rock de raiz, repita-se. O desafio agora para o Gotthard, e como quase sempre, é ampliar os domínios lá na terra do Tio Sam, além de consolidar a cidadela na acessível Europa.

Nessa entrevista com o ítalo-suiço Leo Leoni, conversamos sobre como a banda encara este momento, os shows no Brasil, o coração roubado em um videoclipe meio sem noção, e, claro, o disco novo e suas baladas. Veja no que deu:

Rock em Geral: Da última vez em que vocês estiveram no Brasil fizeram um showzaço no Live’N’Louder. Vocês esperavam aquela recepção por parte do público?

Leo Leoni: A reação dos fãs? Foi muito bom, esperávamos isso, mas não que eles conhecessem tantas músicas nossas. Eles estavam aguardando com ansiedade o nosso show. Não foi uma surpresa, mas o que aconteceu superou as nossas expectativas.

REG: Sobre o outro show, no Rio, como foi?

Leo: Foi também muito legal, não grande como um festival, mas acho que o público foi atencioso e teve uma boa reação. Tocamos com o After Forever, que também teve um bom desempenho. Um estilo diferente, mas bom, e ainda tem uma bela vocalista. Estava bem cheio, não sei dizer quantas pessoas estavam lá, mas estava bem cheio.

REG: Depois de tanto vir ao Brasil, vocês já se sentem familiares por aqui?

Leo: Tem sido muito bom, mas para nos considerarmos familiares a algum lugar precisaríamos passar mais tempo, conhecer mais a cultura, o que seria muito bom.

REG: O que você diria sobre o novo disco, “Domino Effect”, depois de finalizado?

Leo: Terminamos a turnê no ano passado e a partir de outubro começamos a juntar as músicas, finalizar todas as idéias. Discutimos o que queríamos fazer, como o disco deveria soar, esse tipo de coisa. Dali saímos com todo o material pronto para as gravações.

REG: Era tudo música nova mesmo, ou havia sobras de outros tempos?

Leo: Na verdade não há nenhuma música antiga, essas músicas foram feitas recentemente.

REG: Algumas delas chegaram a ser testadas nos shows mais recentes?

Leo: Não, em geral não fazemos esse tipo de coisa.

REG: Você produziu o disco, você acha que é melhor fazer assim ou ter um produtor de fora da banda?

Leo: A banda decidiu que deveríamos fazer tudo, é uma decisão coletiva. Mas nem sempre essa é a melhor escolha. Às vezes é difícil retirar tudo que é preciso da própria banda, quando você é parte dela. Para mim é muito mais fácil produzir a banda dos outros.

REG: Você costuma trabalhar como produtor para outros artistas?

Leo: Não, já fiz alguns trabalhos, mas nada de grande relevância. E também, trabalhando e tocando com o Gotthard, sobra pouco tempo, a banda é a coisa mais importante para mim.

REG: Falando das músicas, “Heal Me” é uma que tem um grande e cativante riff de guitarra. Como essa música foi feita? Imagino que riff veio antes…

Leo: Sim, claro. Eu mostrei aos rapazes e eles gostaram. Na verdade essa foi uma das primeiras músicas que nós fizemos para este disco. Fizemos essa música no meio da turnê. Ela tem melodias colantes, fechamos a letra com o Steve. Mas essa música é definitivamente orientada pelo riff de guitarra, sim.

REG: Isso é uma coisa comum para uma banda de hard rock, pegar um riff e fazer a música a partir dele?

Leo: Nem sempre. Às vezes vêm as letras, das melodias vocais, de uma batida de bateria… Depende de cada caso, cada música é diferente.

REG: “Come Alive” parece ser um grande hard rock e ao mesmo tempo bom para pistas de dança. Como juntar essas duas coisas numa única música?

Leo: Você pode dizer que é dançante, afinal de contas é rock, e rock também é feito para dançar. Eu acho que é algo que a bateria é que dá essa impressão, e depois é que começam as melodias e algumas guitarras, e uma outra percussão, efeitos vocais… Às vezes é bom experimentar algo de diferente. Acho que essa é umas músicas na qual que nós quisemos experimentar um pouco mais nesse disco, o que acho que deu um resultado muito bom.

REG: Hás algumas boas baladas nesse disco, como “The Call” e “Letter to a Friend”. Você acha que é algo obrigatório, ter baladas certeiras em cada disco que vocês fazem?

Leo: Sempre fizemos baladas, desde o primeiro disco até agora, porque nós gostamos de baladas. Não ficamos com medo de fazer melodias dessa forma. Às vezes essas baladas nem são como música romântica, não falam de amor, mas são chamadas assim porque têm um andamento lento. Mas nem sempre é o tipo de balada que as pessoas geralmente ouvem. Você falou de “Letter to a Friend”, que é uma balada nesse sentido do andamento, mas há muitos elementos por trás dela, e isso é o que importa, não confundir uma balada com música romântica.

Steve Lee e Leo Leoni detonando ao vivo

Steve Lee e Leo Leoni detonando ao vivo

REG: Eu poderia definir balada com um tipo de música que começa com um andamento lento, vai crescendo e termina em alta velocidade…

Leo: Para mim uma balada é uma música que fala de amor, de sentimento por alguém ou algo do gênero, o que eu acho que é bem importante. E as pessoas gostam muito desse tipo de música, sobretudo quando tocadas ao vivo.

REG: “The Call” foi escolhido como primeiro single. Como está indo?

Leo: Está indo bem, dentro das nossas expectativas. Estamos no top ten das rádios em vários países da Europa, em alguns até em primeiro. Nós preferimos essa música porque achamos que era a mais representativa do Gotthard no momento, aquilo que nossos fãs, rádios e DJs estariam esperando de nós.

REG: Sobre o videoclipe de “The Call”, fale sobre a história. Há uma garota que come o coração do vocalista…

Leo: Eu sei lá… Só sei que depois dessa ele virou um cara sem coração, deixou com a garota… Foi só uma idéia de fazer alguma coisa diferente no clipe, que normalmente não se vê.

REG: Ouvindo o disco agora, como você avalia o som de guitarra, a sua participação e a do Freddy Scherer?

Leo: Eu e o Freddy sempre nos damos muito bem, dividimos as músicas, o trabalho nas músicas antigas, todos estão tocando bem as suas partes. É muito simples, ele toca a parte dele, eu toco a minha e decidimos quais partes vamos colocar no disco, onde entra o solo e quem vai fazer. Como produtor é claro que eu é que decido o tipo de solo, de vibe, que é aquilo que eu acho que ficará bom para aquela música. Há um espírito de colaboração muito bom entre nós.

REG: Você concorda que esse álbum soa mais como o hard rock tradicional de Deep Purple e Scorpions?

Leo: Eu acho que é um disco de hard rock clássico com um toque de moderno. O que, para mim soa muito moderno, feito para a data de hoje, 2007, não soa datado. Eu não ouvi ainda o disco novo do Scorpions para fazer esse tipo de comparação.

REG: É um disco muito bom… Você acredita que as bandas de hard rock estão voltando às raízes atualmente?

Leo: Nós tocamos aquele tipo de som que as bandas antigas tocam. O Gotthard decidiu tocar aquilo que fazia nossa cabeça no momento, e no momento achamos que era bom lançarmos algo como o “Domino Effect”, achamos bom voltar um pouquinho para as coisas do passado, de onde nós viemos, etc. Mas no fim das contas queríamos fazer um álbum, como eu disse, que soasse não como há dez anos, mas que fosse contemporâneo.

REG: Você acha que há uma grande cena de hard rock nos dias de hoje ou o Gotthard é só uma banda que fez sucesso isoladamente?

Leo: Eu sei lá… Certamente há muito trabalho que explica a projeção que conseguimos nos últimos tempos. Muito trabalho de marketing que tem sido direcionado para o rock e o classic rock. Sempre houve rock nas rádios, apesar de tudo o que domina a mídia, há emissoras de TV como a MTV que não tocava mais rock, mas nós sobrevivemos, passamos por isso, fomos tocando ao vivo, o que, no final das contas, especialmente hoje em dia, é muito importante. E isso certamente nos ajudou, foi uma das partes de um todo que nos ajudou a conseguirmos esse sucesso.

REG: Tocar ao vivo é então o principal para o Gotthard?

Leo: Não o principal, mas é claro que, ao tocar, uma banda pode mostrar exatamente o que é. Gravar um disco é uma coisa, mas tocar com sua banda é ter contato direto com o público, e ele decide o que é bom ou não. Isso é que decide o que vai ter sucesso ou não, em última análise.

REG: O Aerosmith tocou aqui em abril, num show muito bom. Vocês pretendem ir tão longe quanto eles, em termos de idade?

Leo: Não me pergunte isso… Eu não sei, certamente vou mudar de ramo quando ficar mais velho, quem sabe virar um médico… Espero tocar ao vivo e estar em evidência. Enquanto nós suportarmos os nosso shows, continuamos tocando. Acho que o Aerosmith está fazendo um bom trabalho, estão muito bem mesmo, então não devem parar tão cedo.

REG: Vocês estão com uma boa agenda na Europa e Estados Unidos, mas pretendem tocar de novo no Brasil?

Leo: A agenda do site não está atualizada no momento, mas claro que queremos voltar ao Brasil e tocar nos Estados Unidos, mas ainda estamos esperando por confirmações de empresas que querem nos contratar. Queremos voltar porque foi tudo muito bom, temos certeza que os fãs brasileiros nos aguardam. Espero que ainda nesse ano.

REG: O Gotthard tem um bom público nos Estados Unidos também?

Leo: Precisamos fazer uma turnê maior lá pra ver como a coisa está, mas acredito que não teremos problemas.

Leo Leoni faz da guitarra a grande força do Gotthard

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