O Homem Baile

Com formação incompleta, Keane agrada mais pelo entorno do que pelo conteúdo

Grupo segue a cartilha do rock inglês pós Radiohead, mas sente a falta de instrumentos de acompanhamento; público que foi ao Citibank Hall ontem, no entanto, gostou. Fotos: Marcelo Pereira de Souza.

Tom Chaplin e Tim Rice-Oxley evoluem durante o show do Keane

Tom Chaplin e Tim Rice-Oxley evoluem durante o show do Keane

“Essa é a última guitarra da noite”, disse Gabriel Marques, o vocalista/guitarrista do Moptop, ao anunciar “Leve Demais”, a última música de um animado show de abertura. Ele se referia a ausência do instrumento primordial do rock na formação do Keane, a atração principal da noite, e para quem o Moptop já abrira dois shows em São Paulo, durante a semana. A banda inglesa tem a formação inóspita que inclui, quando muito, dois tecladistas e um baterista. Não quer dizer que dessa mistura não saiam boas músicas, e, conseqüentemente, bons momentos ao vivo; muito ao contrário.

Tim também canta em muitas partes do show

Tim também canta em muitas partes do show

Primeiro porque a banda tem um frontman de respeito. Tom Chaplin já adentra o palco como se fosse um vocalista de bandas de heavy metal, indo para a borda do palco cobrar vibração do público. Em boa parte das músicas ele se mexe muito, com o microfone em uma das mãos e a outra erguida, com punho cerrado. Resultado: a platéia responde na mesma medida, com se fosse uma horda metálica. Mas não só por causa da agitação de Chaplin. O Keane tem a manha de fazer músicas com refrões facílimos de cantar – como os de “Nothing In My Way” e “Bend And Break” -, e, a bem da verdade, alguns hits entre seu público, caso de “Somewhere Only We Know”, uma das mais ovacionadas da noite, e “This Is The Last Time”.

O animado Chaplin convoca o batera Richard Hughes para agitar

O animado Chaplin convoca o batera Richard Hughes para agitar

A produção do espetáculo é apurada. Oito telas de plasma recebem imagens preparadas exclusivamente para cada música, e muitas luzes distribuídas no palco contribuem para um visual de chamar a atenção a cada número. O palco recebe uma passarela que leva a banda ao meio do público. Tudo isso chama tanto a atenção que subtrai do banquete aquilo que deveria ser o prato principal: as músicas. Sem músicos de acompanhamento, sobra pouco para o Keane, mesmo nos momentos em que são executadas as canções mais inspiradas. Para piorar, no meio do show, os integrantes vão para a ponta da passarela fazer um set mais intimista, como se fossem de bandas gigantes como Rolling Stones e U2. Péssima idéia para quem tem apenas dois discos no currículo.

Tom Chaplin, além de bom cantor, se mostrou um grande performer

Tom Chaplin, além de bom cantor, se mostrou um grande performer

A estrutura do palco, se bacana, serve para emular mais ainda o Coldplay (antes de virar U2), se levarmos em conta o belo show deles neste mesmo local, em 2003. No som, mesmo tentado evitar, é facílimo enumerar músicas que poderiam tranqüilamente ser de Chris Martin e cia.: “Try Again”, “A Bad Dream” “Bedshaped”, que fechou um bis de três músicas, e (de novo) “This Is The Last Time”. O esforço de Tom Chaplin – um menino branquinho de bochechas rosadas – não esconde tais deficiências; tampouco o discurso torto de quem “nasceu numa cidade do interior” e “considera o Rio uma cidade exótica e de reputação festiva”. Só que o público, em quantidade bastante razoável para uma banda de pouca projeção, não estava nem aí para considerações desse tipo e fazia sua parte. Cantando quase tudo e agitando o tempo todo (com direito até a um “olê, olê, quinê!”) deixou Chaplin emocionado por mais de uma vez. O vocalista prometeu voltar assim que puder. Vamos ver se, até lá, ele completa a formação do Keane. Ao menos para os shows.

Quanto ao Moptop, entrou bem cedo (quase uma hora antes do horário estampado nos ingressos) e encontrou um público reduzido, mas totalmente nas mãos. Tocando por cerca de meia hora, mandou oito músicas que certamente fariam o repertório do Keane capitular. Ah… Se o Brasil não fosse um país periférico no mundo do rock…

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

trackbacks

There is 1 blog linking to this post
  1. Rock em Geral | Marcos Bragatto » Blog Archive » Voltando às origens

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado