O Homem Baile

Voltando às origens

Em apresentação irregular, Keane deixa precocemente a fase “indie dançante” e retoma a trilha do britpop que marcou início da carreira. Fotos: Luciano Oliveira.

Tom Chaplin trouxe a bandeira do Brasil bem dobradinha no bolso: não esperava chegar tão longe

Tom Chaplin trouxe a bandeira do Brasil bem dobradinha no bolso: não esperava chegar tão longe

De volta ao Brasil três anos depois da última vez, o Keane paga o preço de não ter atraído grande público nas outras duas oportunidades, e tem como “punição” fazer a abertura para o Maroon 5. Ao menos o público – desta feita – é de três a quatro vezes maior. Com uma produção de palco mais enxuta (veja como foi em 2007 e em 2009), o show é exatamente o mesmo que o grupo tem apresentado nos festivais de verão no Hemisfério Norte, quando o tempo disponível para a apresentação é curto. Assim, apenas três músicas do novo álbum, o bom “Strangeland”, entraram no repertório. O disco resgata a fase inicial da banda, mais identificada com o britpop, e deixa de lado a aventura do seu antecessor, “Perfect Symmetry”, de 2008.

O concentrado tecladista Tim Rice-Oxley

O concentrado tecladista Tim Rice-Oxley

Nesse trabalho, o Keane enveredou pelo “indie dançante”, a exemplo de grupos contemporâneos como o Franz Ferdinand, e outros mais novos, como o Friendly Fires, só para ficarmos em dois nomes. Não por acaso, coube a solitária “Spiralling” representar essa fase. Assim como o U2 hoje acertadamente ignora o álbum “Pop”, talvez aconteça o mesmo com “Perfect Symmetry”, o que, nesse caso, não seria um bom negócio. Cinco anos depois, o grupo parece mais maduro e seguro no palco, embora sofra, graças a essa precoce retomada, com a heterogeneidade do repertório.

A expectativa inicial, porém, era de como o público do Maroon 5 receberia o Keane, mas o temor passou logo de cara, e a HSBC Arena, lotada, recebeu o grupo até com certa empolgação. O público, do tipo “eclético”, participou bastante, ainda mais depois que um grupo de fãs do Keane menos favorecidos puxou, das arquibancadas, o coro que ficou famoso quando a banda esteve aqui, em 2009. O “olê, olé, olê, quinê” se alastrou rapidamente por toda a arena. Não que as músicas pedissem grande participação. O repertório, repleto de canções lentinhas, é feito para que o auge não aconteça nem no início, nem no final, mas no meio da apresentação.

Tom Chaplin mostrou mais segurança no palco...

Tom Chaplin mostrou mais segurança no palco...

É o que acontece com a dobradinha “Silenced By The Night”/”Is It Any Wonder?”. A primeira, uma das belas canções do novo álbum, que ganha um viço especial ao ser tocada ao vivo. O teclado marca uma sequência das mais inspiradas de Tim Rice-Oxley, causando vibração no público. A segunda começa já com um riff de guitarra pré-gravado, mantendo a empolgação da platéia, ainda mais quando o “bochecha rosada” Tom Chaplin começa a se movimenta de lado a outro do palco. Por outro lado, a música evidencia uma velha deficiência do Keane: a falta de uma guitarra ou de um instrumento de harmonia que realce as boas composições do – agora oficialmente – quarteto. O problema se salienta também em “Crystal Ball”, na qual a platéia canta como se não houvesse o distante caminho de volta pra casa. É só lembrar o show de 2009 para ver como foi melhor (o tecladista Tim Rice Oxley fala sobre o assunto nessa entrevista).

Chaplin, por sinal, parece menos ansioso em tocar o público. Mais experiente e seguro, não deixa, no entanto, de fazer das suas para agradar. Já entra com uma bandeira do Brasil, guardada bem dobradinha, dependurada no pedestal do microfone. Conforme o show vai crescendo ele vira um frontman dos bons. O grupo teve a manha de incluir no set a bela “Sovering Light Café”. “É sobre o lugar onde crescemos, que é muito longe do Brasil”, reconhece Chaplin, sempre mostrando deslumbramento pelo fato de o Keane ter chegado – literalmente – tão longe. Pena que o final tenha sido com “Bedshaped”, que, apesar de ser um dos maiores hits do grupo, é de um anticlímax atroz, simbolizando bem uma apresentação irregular.

Keane e Maroon 5 volta a tocar hoje (25/8), em São Paulo; saiba mais aqui.

... e aproveitou o espaço para se movimentar bastante

... e aproveitou o espaço para se movimentar bastante

Set list completo
1- You Are Young
2- Everybody’s Changing
3- Bend and Break
4- Nothing In My Way
5- Spiralling
6- Silenced By The Night
7- Is It Any Wonder?
8- We Might As Well Be Strangers
9- Sovereign Light Café
10- This Is The Last Time
11- Somewhere Only We Know
12- Crystal Ball
13- Bedshaped

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado