O Homem Baile

Forgotten Boys prossegue tocando rock de verdade

Netunos fez a abertura dos shows e da nova temporada da Mini Loud!, ontem, no Teatro Odisséia.

A festa Loud! já existe há dez anos e é pioneira no Rio quando o assunto é rock. É lá que as novidades são tocadas nas pistas, mas o mais legal são os shows, sempre com boas bandas de fora do Rio marcando presença. Seu berço foi a Casa da Matriz, mas ela fez fama no Cine Íris. Com o advento do Teatro Odisséia, meses de férias como julho recebem a Mini Loud!, num formato menor, mas até mais legal para os shows, mais intimistas e sem as desagradáveis cadeiras do velho cinema pornô.

A Lapa estava fervilhando mais que o Saara em véspera de Natal, mas não havia muita gente dentro do Odisséia quando o Netunos começou a tocar. De cara uma novidade: no baixo, substituindo Tito, Marcelo Caldas, que no Cabaré responde como Myself Deluxe. O som começou mal equalizado, mas foi se acertando, assim como, uma vez iniciado o show, o público desandou a aparecer, já saltitante como a surf pop music do Netunos pede e as camisas floridas dos rapazes sugerem. O repertório, claro, foi traçado em cima de “Alto-Mar”, o primeiro disco do quarteto.

Quem ao caso nunca tivesse visto um show do Netunos poderia achar já na abertura que se tratava de uma banda que toca clássicos da surf music, mas a impressão se desfaz à medida e que as músicas vão sendo cantadas em bom português e as letras revelam um universo adolescente retrô dos mais interessantes. Boa parte delas é do tipo que pede palmas, o que só aumenta a agitação do público, que quase converte o show numa animada pista de dança. O guitarrista Dimitri, último a entrar, já está mais à vontade e a banda solta um petardo atrás do outro: “Bem-vindo Ao Clube”, “Dezembro”, a triste “Praia do Diabo”, como anunciou o vocalista Carlos Alexandre, e até “Aloha, Pancho”, a instrumental em clima de faroeste, empolgam platéia. No final do curto set – uns 40 minutos – uma mini jam session para deixar um gosto de “quero mais”.

O “mais”, entretanto, que viria a seguir, estava bem acima da expectativa do mais otimista dos que ali estavam. O Forgotten Boys surge no palco como se fosse uma banda internacional. Não só em termos de visual e approach no palco, mas no primeiro toque nas cordas das guitarras já se percebe que ali a coisa é séria. Não por acaso as amplificadores Orange importados pelo grupo estão ali atrás, e viajam com eles para todo canto. Também não foi coincidência a banda abrir o set logo com “Kick Out The Jams”, do MC5, no que foi acompanhada aos berros por uma turminha ali na frente – e também no mezanino – como se fosse aquele o show mais esperado dos últimos tempos. E talvez fosse mesmo.

A dupla de frontman do Forgotten sabe exatamente o que fazer sobre um palco. Chuck Hipolitho e Gustavo Riviera se alternam nos vocais, solam, duelam, fazem pose, se entreolham e percebem que aquilo ali é tudo o que eles mais gostam de fazer. É como se o rock’n’roll em toda a sua essência fluísse por aqueles corpos, fazendo neles as coreografias que uma dupla de guitarras exige. Lá atrás o batera Flávio Cavichioli, possesso, espanca pratos e tambores como se estivesse numa disputa de vida ou morte com sua bateria – sem qualquer vencedor que não seja a própria banda e o fortuito público, que a essa altura já é parte do espetáculo.

O show poderia ter sido só uma exibição das músicas do excelente “Stand By The D.A.N.C.E.”, mas a banda prefere fazer uma turnê sobre sua própria história, e isso num show curtíssimo, como costuma ser o objetivo do Forgotten: pegar o público de supetão num jorro de esporro e rock’n’roll, como já foi dito, em toda a sua essência. Assim, “R’N’R Band” é cantada em coro entre as novas “Watching Over You”, com refrão colante, e “Get Load”. “The Ballad Of”, uma das melhores, ficou de fora, mas isso é um detalhe reparado por poucos além do escriba ranzinza. Não existe uma música sequer em que a geometria das guitarras empunhadas e troncos inclinados não se imponha, em meio a solos que brotam um após o outro, muitas vezes – na maioria delas na verdade – saindo do óbvio que esse tipo de exercício em geral costuma oferecer. Nesse aspecto o encerramento, antes de um breve bis, é exemplar, e embora conclua a experiência com uma urgência voraz, deixa uma sensação de que tinha que ser daquele tamanho mesmo. Em suma: o Forgotten Boys continua fazendo rock de verdade.

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