Som na Caixa

The Stooges

The Stooges/Fun House
(Warner)

Quando aparece escrito em algum lugar que os Stooges são precursores do punk, pré-punk. proto punk ou algo que o valha, que dizer que a banda liderada por Iggy Pop foi punk antes mesmo de o punk existir. E esses dois discos, lançados completamente fora de época, representavam aquilo que hoje não existe mais e que virou um grande clichê na imprensa musical, mas que cai bem para os Stooges: o da banda à frente de seu tempo. Tosco, o quarteto que mal sabia tocar ou tinha repertório ganhou fama se apresentando ao vivo – poucas vezes, é verdade - até ser contratado por uma gravadora, mesmo que isso sequer passasse pela cabeça dos quatro integrantes.

thestooges“The Stooges”, o primeiro disco, é um trabalho cru e seco, fruto do primeiro contato com instrumentos de qualidade razoável e bons equipamentos. Duros, no início eles próprios “faziam” os instrumentos que usavam, antes de serem contratados na esteira do sucesso que o MC5 fazia, e só tinham quatro músicas prontas para gravar. Talvez por isso a versão da soturna “We Will Fall” que entrou no disco tenha mais de dez minutos. Antes dela, “1969” e “I Wanna Be Your Dog”, bem como “No Fun” viraram clássicos que foram reproduzidos por artistas de várias correntes dentro do rock ou por qualquer banda que apareça na esquina de sua casa. Isso já é meio disco. Da outra metade, reza a lenda, outras três faixas foram compostas literalmente de um dia para o outro para não atrasar as gravações. São elas “Real Cool Time”, “Not Right” e “Little Doll”.

Além de ser por definição um clássico do rock e da música pop, o disco ganha a pecha de atemporal porque causa o mesmo impacto da época aos ouvidos de quem o escute hoje pela primeira vez. Toda vez que um adolescente colocar este disquinho para rodar receberá a mesma carga de energia rocker que receberam todas as gerações desses últimos 37 anos. Se tentar adivinhar qual é o nome da banda, ele talvez cite inúmeros artistas que apareceram nesse período, e até outros bem novinhos, dada a influência do disco no universo pop. Gravado em poucos canais, percebe-se com exatidão a separação entre os instrumentos, o que favorece a identificação de como ele supera ileso o passar nos anos. Rock básico, cativante e pra sempre

thestoogesfunhouseEm 1970 foi a vez de “Fun House”, uma peça que – sorte - não apresentou nada de evolutivo para os Stooges. Se fosse aquela a época do CD, e lhes dessem mais tempo para ajuntar novas músicas, esses dois discos certamente seriam um só. Mesmo que riffs de guitarra apareçam mais, como o de “T.V. Eye”, a marca da banda continua sendo a base simplérrima e os solos de permeando todas as músicas. “Loose”, por exemplo, é assim e não deixa pedra sobre pedra. Dessa vez são “Dirt” (a frase “dirt, but I don’t care” é a cara de Iggy) e “Fun House” que se alongam para além dos sete minutos, sem que isso traga nenhum sinal de enfado. Nem o saxofone adicionado nas gravações consegue retirar a crueza do disco. A faixa-título, diga-se de passagem, mesmo com jeitão de jam session, é outro clássico atemporal do Stooges.

As versões relançadas no Brasil no final do ano passado, aproveitando a vinda do Stooges ao Brasil, são em CD duplo e vêm com encartes com histórias acerca das gravações e textos de Alice Cooper (“The Stooges”) e Jack White (“Fun House”). No primeiro CD de cada um vem a íntegra do disco original, e no segundo versões inéditas que sobraram das gravações para quase todas as músicas, espalhadas em várias faixas. Vale mais como curiosidade ou para os fãs mais devotos. Já os discos originais são definitivamente obrigatórios.

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