Som na Caixa

Television

Marquee Moon/Adventure
(Warner)

É difícil hoje explicar que o Television fez parte da efervescente cena rocker de Nova Iorque em meados dos anos 70, sendo também um dos grupos precursores do punk rock. Rebuscado, o grupo flertava com a antítese do punk – a virtuose – e se viu mais próximo do experimentalismo do jazz do que da crueza predominante no CBGB’s na época, berço do movimento, do ponto de vista essencialmente musical.

televisionmarqueeO grande clássico do quarteto que teve vida curta (cinco anos e esses dois discos) é “Marquee Moon”, o primeiro deles, lançado em 1977. Embora carregue a estética punk, do ponto de vista da estrutura das músicas, os dois guitarristas já se mostravam interessados em ir mais longe que os três apressados acordes que predominavam. Não por acaso a épica fixa-título ultrapassa os dez minutos, tempo suficiente para os Ramones mandarem umas cinco, seis músicas. “Venus”, “Prove It” e “See No Evil” são outras três menores, mas que também se destacam pelas intrincadas harmonias de guitarras criadas por TomVerlaine e Richard Lloyd. Talvez tenha sido a partir da dupla que os críticos tenham passado a usar a palavra “textura” para descrever uma sonoridade bem harmonizada por duas guitarras. Crítica, aliás, que na Inglaterra deu à banda a capa do (já) famoso semanário New Musical Express, numa matéria de duas páginas só para a resenha deste disco. É o que diz o texto desta re-edição que marcou a volta da banda aos palcos em 2003, e que saiu por aqui no final do ano passado, a propósito da vinda do Television ao Brasil. Já “Friction” ficou famosa pela versão feita pelo Echo And The Bunnymen na década de 80, nos shows e no tributo pirata “On Strike” – numa época em que tributos e pirataria não estavam na moda. Esta versão remasterizada traz também cinco faixas bônus, com versões alternativas para “See No Evil”, “Marquee Moon” e “Friction”; a maluca “Little Johnny Jewel”, tirada de um single, e uma instrumental sem título que deve ter sobrado na época. Tudo só para os fãs mais aguerridos mesmo.

Apesar do reconhecimento da crítica, “Marquee Moon” teve um desempenho bem modesto nas paradas americana e inglesa, e praticamente passou batido pelo punk que dominaria o mercado da música alternativa na Inglaterra, ou foi atropelado pela dance music americana. Só a partir do pós punk oitentista é que passou a ser referência para novas bandas, fato que ocorre ciclicamente até os dias de hoje.

televisionadventureMuita gente acha que “Adventure”, de 1978, nem chegou a existir, não que fosse um disco ruim, mas por causa da repercussão e do mito que envolvem seu antecessor. A clássica guitarra limpa da dupla Verlaine e Lloyd continua sendo o principal atrativo. O minimalismo gutarrístico que predominou no rock inglês do início da década seguinte certamente tem forte inspiração no Television. O tom soturno que a foto da capa apresenta revela realmente um conjunto de músicas mais intimistas, pouco identificadas com o disco de estréia e bem distante do que se desenrolava no primeiro mundo da música em 1978. É preciso lembrar também que a banda entrou em estúdio para gravar este álbum ainda em 77, ano de lançamento de “Marquee Moon”, e não tinha ainda absorvido, ao menos completamente, o impacto de sua música em meio à revolução punk que se iniciara a partir do Ramones.

Considerado menos viajante e mais um disco de canções, “Adventure” tem lá seus momentos de apoteose da guitarra, ainda que num nível menos extravagante. É o caso de “Foxhole” e seus riffs precisos, e a colante “Ain’t That Nothing”. No lado suave da coisa, “Carried Away”, e a enfadonha “The Fire”, quase uma balada pré-punk, com direito a solo emocionante e tudo, são de maior expressão. Aqui há três faixas bônus, entre elas aquela que seria a faixa-título do disco, mas que acabou limada porque Verlaine não gostava do sotaque blues que Lloyd dava a ela. Era o início das desavenças que lavariam ao fim precoce do grupo, meses depois do lançamento do disco.

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