O Homem Baile

Autoramas arremata Campeonato Mineiro de Surfe com altivez

Retrofoguetes também se destaca na noite em que o La Pupunã foi a grande decepção.

A última noite do sexto Campeonato Mineiro de Surf levou para o Lapa Multishow, no sábado, em Belo Horizonte, cerca de três vezes o público de cada uma das noites anteriores, que aconteceram no Bar Dançante A Obra, o berço do festival. Nada mal para a primeira investida do evento num público mais amplo.

A primeira banda a se apresentar foi a Proa, de Belo Horizonte, focada mais no rock instrumental do que na surf music propriamente dita. Um intrincado trabalho de guitarras (às vezes o trio é acrescido de um outro guitarrista) marca quase todas as músicas, mas isso nem sempre resulta em números cativantes, a não ser quando temas de desenhos animados, como o da Pantera Cor de Rosa, são utilizados. A melhor música foi a cover para “TV Eye”, dos Stooges, bem fiel à original, embora instrumental

Badalado como referência da guitarrada made in Belém, o La Pupuña mostrou um som instrumental retrô que fez lembrar nomes da mpb dos anos 70, como Armandinho e A Cor do Som – isso nos melhores momentos. Nos piores, enveredou por um devaneio brega dos mais questionáveis, quando a banda se assemelhou aos trios elétricos nordestinos. O jeito dito “diferenciado” de tocar guitarra não passa de dedilhados com efeitos que lembram o folclore da região. Aliás, bandas como o finado Carne de Segunda, do Rio, já investiam por esse perigoso caminho, que resulta em citações ora interessantes, ora de gosto duvidoso. Por isso, no meio do show era comum ver o público ensaiando passos de forró, música brega latina e outras patacoadas incompatíveis com um festival de surf music. Um fardo que a eclética escalação deste ano teve que carregar.

Se chamam a música do La Pupuña de guitarrada, o que dizer do que faz o Estrume’n’tal? Os guitarristas Guilherme e Lino tocam numa velocidade impressionante e se alternam em solos em cada uma das músicas, sem dar tempo para o público respirar. Recriando alguns títulos obscuros da mpb em versão surf, em meio as composições dos dois discos, o grupo, um dos que mais tocou em todas as edições do festival, mantém o público em dança quase frenética em todo o set. As músicas, emendadas umas às outras, resultam num show urgente e punk por si só, mas salpicado de solos como se fossem eles as bases de cada uma. O resultado? Pouca gente conseguiu ficar parada, numa bela amostra de como o gênero pode evoluir sem perder suas características.

O Autoramas também não chega a ser uma legítima banda e surf music, mas como negar as referências ao som dos anos sessenta no grupo, sobretudo nas músicas instrumentais? Atração principal da noite, foi quem reuniu o maior público em todo o evento. Com uniformes com as iniciais do nome de cada integrante estampadas, o trio também não fez por menos e chegou detonando o som mais alto da noite, com suas características básicas: baixo distorcido, guitarra limpa e a bateria dançante. Da ótima “Você Sabe” até os já clássicos “Carinha Triste” e “Fale Mal de Mim” o show foi festa o tempo todo, e houve espaço até para três novas músicas, que estarão no próximo álbum. A balada “A 300 Km Por Hora”, “Fazer Acontecer” e “Mundo Moderno”, a melhor das três. Coube também a clássica “Blue Suede Shoes”, na qual Gabriel Thomaz encarna Elvis, e até para a antigaça “Catchy Chorus”, talvez a mais surf de todas as música do Autoramas.

Se o som estava bom, permaneceu para a apresentação do Retrofoguetes, grupo baiano que também tem o mérito de converter tudo em surf music. No caso deles é a perícia instrumental a principal virtude, sobretudo do guitarrista Morotó, que sabe como escolher o timbre certo e dar o tom rascante às músicas. O trio baiano segurou boa parte do público, apesar do avançar da hora, com músicas colantes e dançantes, ainda que – todas – instrumentais. O baixista CH, mais solto no palco até arriscou alguns slaps, se configurando como o “Geddy Lee da surf music nacional”. As músicas mais legais foram o hit “Surf-O-Matic” e outras do disco deles com inspiração no folclore do leste europeu. No final, uma versão bomba para “Rock This Town”, do Stray Cats, com Arroz (Scary Scums) nos vocais fez lembrar os tempos do Dead Billies – banda da qual Morotó e o batera Rex pertenceram, num encerramento à altura do sexto Campeonato Mineiro de Surf.

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