Rock é Rock Mesmo

Ruído Festival inicia o ano para o rock independente nacional

Primeiro festival a acontecer no ano, Ruído estréia chancela da associação dos produtores independentes.

Meus amigos, dizem que o ano só começa depois do carnaval. Mas… Que carnaval? Já passou? Nem tive tempo de reparar. Só se for o carnaval que Stones e U2 fizeram no Brasil. Bem, eu disse que não ia falar mais disso, porque ninguém agüenta mais. Mas o ano já começou, sim. Ou, por outra, se pensarmos sob a ótica do rock independente, começa amanhã, com a quinta edição do Ruído Festival. Sim, a casa caiu, mas o rock continua de pé. E vai quebrar tudo.

Disse que Ruído dá o pontapé inicial do circuito de festivais independentes porque, ao que parece, agora já temos um circuito. Sempre tivemos é verdade, mas agora a coisa é oficial. Reunidos em Goiânia no ano passado, representantes de vários festivais fundaram a ABRAFIN – Associação Brasileira de Festivais Independentes, cujo principal objetivo é “oficializar” um circuito de festivais de modo a facilitar as coisas para os organizadores em termos de estrutura (entenda-se patrocínio) e repercussão pelo Brasil afora. Participaram, como membros fundadores, os representantes de 16 festivais: Abril pro Rock (PE), Do Sol (RN), Varadouro (AC), Grito Rock e Calango (MT), Porão do Rock (DF), Jambolada (MG), Campeonato Mineiro de Surf (MG), Demosul (PR), Goiânia Noise Festival e Bananada (GO), Senhor Festival (DF), Algumas Pessoas Tentam Te Fuder (RJ), Eletronika (MG), Ruído (RJ) e Boom Bahia (BA).

Disse que o Ruído dá o pontapé inicial, mas o amigo mais atento já deve ter notado que, em todo o mês de janeiro, o Humaitá Pra Peixe aconteceu, e também no Rio. E não reparou a inclusão dele na tal ABRAFIN. No formato em que vem acontecendo nos últimos anos, o HPP, embora igualmente independente, é realmente um evento diferenciado, foge do intercâmbio de bandas de rock que acontece no tal circuito que agora se propõe. Com cast mais amplo em termos de tendências musicais, faz do rock, atração principal em todo o circuito, só uma parte de seu olhar. Por isso, o rock independente nacional começa mesmo é com o Ruído.

A escalação do Ruído sempre foi, na medida das possibilidades dos organizadores, muito boa, mesmo porque um dos que está por trás da direção artística do festival é Gabriel Thomaz. Junto com o Autoramas ele viaja por esse Basilzão e sabe o que rola de legal em termos de bandas novas. Sabe da importância (simpatias à parte), do som de bandas como Charme Chulo, Sapatos Bicolores, Violentures e Zefirina Bomba, entre outras escaladas para esta edição. Nesse ano, tanto ele quanto Rodrigo Quik, outro que está no comando do Ruído, aprenderam que não se deve escalar suas bandas no festival que eles próprios organizam. Que o exemplo seja seguido por outros festivais, sobretudo os de Goiânia, que invariavelmente se valem desse artifício.

Comentar de antemão a escalação de um festival pode não ser a coisa mais legal a se fazer. O que vale é aproveitar para ver bandas que já conhecemos e que dificilmente viriam tocar aqui não fosse um evento desse tipo, e ainda para conhecer e checar outras que são tão faladas por aí, só para ver se elas estão com essa bola toda. Isso é que é legal num festival.

Outra coisa bacana é que, com boa divulgação e a moral de cinco anos nas costas, o Ruído tem uma boa repercussão na mídia e pode ajudar a fazer as bandas locais a aparecerem para em outras praças. Por isso, há que se lamentar que somente quatro bandas do Rio, justamente um dos grandes berços do rock independente nacional, estejam na programação. E isso sem contar que uma delas, o The Pop’s, é um projeto revivalista, e outra, o Tchopu, já tocou na edição do ano passado - estranho isso. Como essas bandas, por serem locais, têm ainda a função de levar público, o festival corre o risco de ter uma platéia minguada, muito embora atrações de peso no meio como Graforréia Xilarmônica e MQN possam segurar a onda.

Outro dado notório referente à escalação é que o tradicional domingão hardcore não vai acontecer dessa vez. Talvez porque, no ano passado, esse tenha sido o dia mais fraco de público. Ou, principalmente, porque o Ruído mudou de lugar, e nesse ano passa a acontecer no Teatro Odisséia, na Lapa, onde menor não entra, e, segundo consta, o pessoal mirim da zona sul não vai porque é longe e os pais não deixam. A geração Ballroom, depois que a casa virou pó, prossegue desorientada.

Mas não fiquei nesse blá blá blá para dizer isso, não. Queria mesmo era indicar essa ou aquela banda. E não vou ficar no muro. Ou, por outra, vou sim, mas só até a página 2. Porque é claro que vale à pena ir a todos os dias, ver as bandas preferidas, checar as “bombadas” e se deixar surpreender por aquelas praticamente desconhecidas. Mas, descendo da alvenaria, deixo aqui minhas indicações. Os locais Canastra, que a essa altura já deve ter músicas novas para mostrar, e Nervoso, se fizer show de rock, não do tipo “Live PA”; os promissores Sapatos Bicolores, mais um achado da Monstro; os espetaculares Dead Rocks, com uma surf music de mil citações, e Violentures, com surf e garage rock de verdade; e por fim o MQN, já que o assunto é rock de verdade, que deve encerrar o Ruído em grande estilo.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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