O Homem Baile

No TIM Festival, Strokes faz bom show para uma platéia em estado de graça

Grupo americano aproveita a primeira apresentação no Brasil e mostra as músicas que estarão no próximo álbum. Fotos: Alexandre Schneider/4Press.

strokestim2005A grande marca da carreira do Strokes foi o fato ter sido a primeira banda a aparecer e se disseminar através da Internet. Tanto que, quando o primeiro disco, “Is This It”, saiu em 2001, o grupo já era sucesso nas principais praças onde o rock é pautado para o mundo. E no Reading Festival de 2001, foi subitamente catapultado de um dos palcos secundários para o principal, com uma forcinha da mídia especializada, porque é assim que se faz. A sensação de vitória do público inglês, naquele agosto de 2001 – na véspera do disco ser lançado – foi mais ou menos a mesma que as 4 mil pessoas que compareceram ontem ao TIM Festival, no Rio, tiveram: uma espécie de êxtase incrédulo e feliz.

No palco, os Strokes não são lá essas coisas, não. A banda toca paradona – o que não quer dizer que toque mal, e o vocalista Julian Casablancas não é tão carismático nem evolui no palco como deveria. Mas para quem se fez no mundo virtual – não nos palcos - isso pouco importa, até porque o show de ontem era jogo ganho. Todo mundo ali sabia todas as músicas de cor, e nas novas que o grupo teve a gentileza de apresentar quase que em primeira mão para o Brasil tudo deu certo. Está virando rotina, aliás, os brasileiros conhecerem as músicas inéditas de grupos que estão na crista da onda antes que o primeiro mundo do pop o faça.

The Strokes

The Strokes

Havia um tempo em que ver uma banda nova tocando por aqui era algo que demorava a acontecer, mas hoje ele se realiza bem rápido, e foi essa sensação de sonho realizado que tomou conta da platéia, logo na introdução e nos primeiros acordes de “Hard to Explain”, que abriu o show e emendou a ovacionada “Someday” e a típica “Soma”, as três do ótimo primeiro disco. Bingo. Se os guitarristas Nick Valensi e Albert Hammond Jr.estacam no palco, suas guitarras dialogam muito bem, naquele estilo que prefere o minimalismo ao punch inerente ao rock, mas que, no fim das contas, pouco compromete o resultado final. E a grande vantagem de se ter um repertório curto é que praticamente nenhuma música fica de fora do repertório, o público não reclama de não terem rolado (ou só terem tocado) as antigas. Assim até as músicas do segundo disco da banda, o pouco criativo “Room Of Fire”, de 2003, caem no ritmo do baile rock’n’roll moderno proposto pelo show.

O saldo, no fim das contas, depois de uma hora e meia de show é positivo e recompensador: nada menos que todas as músicas de “Is This It” foram tocadas, e os parcos hits de “Room Of Fire”, como “Reptilia”, já no bis, “12:51” e “Automatic Stop”, também. O bis matador incluiu ainda a própria “Is This It?” e a “proibida” ”New York City Cops”. O quinteto ainda voltou para tocar mais uma, que deixou a dúvida se era outra nova ou a repetição de umas ocultas do segundo disco. Como, de fato, acontece com os Strokes, que têm músicas muito parecidas umas com as outras. Entre as novas (será que elas já estão na web?), “You Only Live Once” parece ser a mais legal, não tão compacta, e com vocalizações cativantes. As outras são “Hawaii-Aloha”, bem Strokes, “Razor Blade” e “Heart I The Cage”, esta também muito boa. E todas talhadas para dançar.

A banda deixa o palco com a platéia acabada, e o show é realmente bom. Mas a sensação que fica é que a banda principal ainda está por entrar; um grupo com dois discos no mercado e travado no palco não pode ser a atração de um festival, mesmo o arrojado TIM Festival. Só se for os sinais dos tempos de bandas made in Internet.

MUNDO LIVRE SURPREENDE E COLOCA PÚBLICO INDIE PARA DANÇAR

Kings Of Leon

Kings Of Leon

As bandas encarregadas de abrir a noite no TIM Stage viveram momentos curiosos. O mundo livre s/a acabou se saindo melhor que o Kings of Leon, que era tido também como uma espécie de segundo headliner. Só que a banda dos “três irmãos filhos de um pastor” decepcionou porque não conseguiu adicionar uma gota de suor às músicas gravadas em seus dois discos. Algumas pediam isso claramente, mas a banda parece que fez questão de ser completamente linear. Na verdade houve alguns raros momentos de empolgação da platéia, como em “Razz”, na abertura com “Molly” e em “Taper Jean Girl”, por motivos óbvios, e depois só lá no final do show, quando enfim o grupo partiu para a quebradeira, que, pelo som que eles fazem, deveria ser a tônica do show.

Como o Kings Of Leon vem do interior americano (Nashville), o mundo do rock espera deles algo próximo do rock sulista consagrado por bandas como o Lynyrd Skynyrd, mesmo porque as primeiras fumaças vêm dizendo isso a torto e a direito. Só que a banda, em disco, rejeita essa pecha em nome da simplicidade, e músicas com bom potencial não evoluem como poderiam. A expectativa era de que no palco, o habitat natural de uma banda de rock, isso acontecesse, mas essa linha de raciocínio se frustrou num show de poucas improvisações, enjoado, modorrento até. O quarteto parece ter a vocação para ser uma eterna promessa do novo rock. Ou, para sempre, só uma bandinha de beira de estrada de deserto americano. No Brasil, não teria lugar no nosso rico circuito underground.

mundo livre sa

mundo livre sa

Quem se deu bem nessa história toda foi o mundo livre. Mesmo pouco identificado com o público das bandas internacionais, o grupo pernambucano conquistou a platéia que ainda chegava, e até Fred Zero Quatro pareceu surpreendido com a aceitação. É claro que é de se lamentar que uma banda do naipe e da história do mundo livre tenha que fazer o papel de banda de abertura numa situação dessas, mas de fora é que o mundo livre não iria ficar.

De volta ao mercado totalmente independente, lançando o EP “Beba do Groove”, o grupo aproveitou para testar novas músicas, como a política “Soy Loco Por Sol”, mostrando um Zero Quatro mais afiado que nunca, e outras mais leves como “Nêga Ivete”. As imagens projetadas no telão acrescentavam conteúdo às músicas, numa boa sacada. Às vezes mais pesado, como no solo de “Tentando Entender”, noutras explorando o uso de teclados, o mundo livre mostrou que tem bala na agulha, e que não vive de guetos. Prova disso foi o público se esbaldando com o hit “Bolo de Ameixa” e na versão reggae para Guns of Brixton”, do Clash. Não é que deu certo?

O LADO BIZARRO DO TIM FESTIVAL

Depois que o os shows acabam, o Tim Stage vira Motomix, ou seja, pista de dança. O DJ Arthur Baker, ao que se viu, é mais do tipo junkebox, ou tocador de discos, e foi na certeira onda de músicas de sucesso garantido entre o público, tocando Killers e Interpol. Depois dele, Peretz (na verdade o ex-Jane’s Addiction Perry Farrell), entrou tocando músicas dele próprio, e, segundo consta, cantando por cima delas. Logo tudo se transformou num grande baticum, com o destaque para as projeções nos cantos da tenda montada no MAM. Nego Moçambique ainda daria som mais tarde, na linha break beats.

Entre a mudança de palco, lá do outro lado, no TIM Lab, Vincent Gallo tentava agradar uma platéia diminuta e recheada de famosos, mas tudo que conseguiu com um verdadeiro ensaio ao vivo, com a colaboração de um aparelho de ar condicionado cruel, foi despachar todos de volta para a casa.

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