Rock é Rock Mesmo

A mídia precisa aceitar a volta do hard rock

A imprensa brasileira precisa deixar o preconceito de lado e aceitar os fatos: Backyard Babies e Forgotten Boys são a vanguarda do rock. E o hard rock precisa voltar. Publicado originalmente no Dynamite on line.

Ao fazer um box para uma matéria que sairá na próxima edição da Revista Dynamite, falando sobre o elo perdido entre a banda paulistana Forgotten Boys e o sueco Backyard Babies, uma dúvida ficou na minha cabeça, e eu não tive de tempo e nem teria espaço de esclarecer isso na referida matéria. Resolvi então falar sobre o assunto aqui, mesmo porque a idéia inicial era essa, mas a pauta da Revista acabou me roubando o tema.

Muita coisa boa aconteceu dentro do rock no ano de 2002, e a imprensa noticiou no mundo inteiro, tintin por tintin, todas as novas bandas que surgiram, as novas cenas. Tudo muito rápido, claro, como é comum em tempos midiáticos como este em que vivemos. Banda reciclando Beatles e misturando com Nirvana, releituras do punk e da cena pré-punk, da cena nova-iorquina do final dos anos 60, e por aí vai. Umas coisas mais importantes que aconteceu dentre todas essas, entretanto, não chegou nem a ganhar espaço na grande mídia, e no Brasil, menos ainda: Forgotten Boys e Backyard Babies.

As duas bandas, quero acreditar que uma sem o conhecimento do trabalho da outra, revitalizaram dois estilos que, a princípio, seriam imiscíveis: o hard rock e o punk rock. Uma mais pro hard (o Backyard) e outra mais para o punk (o Forgotten), as duas apostaram firme nessa tendência, e, em tese, teriam tudo para deslancharem no mercado. Acontece que tanto aqui quanto no exterior, isso não acontece, e, creio eu, por uma simples questão de preconceito, sobretudo no Brasil.

Vamos começar pelo exterior. O hard rock é um gênero que fez grande sucesso na década de 80 nos Estados Unidos, com bandas como Mötley Crüe, Poison, Doken, Cinderella, e, porque não, Guns N’Roses. Só que hoje, lá, com o predomínio do nu-metal, nada mais cai nas graças da imprensa, se não for identificado e classificado como tal. Existem bandas de vários estilos dentro da música pesada americana, mas todas ocultas pela cortina imposta pela mídia, que, tal qual no Brasil, tem também suas práticas monoculturistas. Na Europa, uma fortíssima cena heavy metal se sustenta muito bem, mas por questões dessa própria tribo, acaba não aceitando bandas de hard rock. Nos grandes festivais de verão, como o Wacken Open Air, por exemplo, uma ou duas bandas do gênero é escalada a cada edição, em meio a umas 70 de outras fatias do metal.

Na Inglaterra, Meca da novidade dentro do rock e a música pop, acontece algo parecido. No Reading Festival, evento que é a vanguarda da música há mais de 30 anos, tocam bandas de todos os estilos e tendências, mas, para a mídia, o hard rock está fora. Metal então nem pensar. Em 2001, por exemplo, até o Backyard Babies tocou, num dos palcos secundários, mas o grupo sueco não ganhou uma linha na mídia. Ficaram todos com as bandas ditas de vanguarda, sendo o Strokes a mais comentada. Tanto que a produção, em cima da hora, foi obrigada as promover o show deles pra o palco principal. Esquecem-se todos que grupos como Guns N’Roses e Iron Maiden, por exemplo, também decolaram para o sucesso mundial depois de terem tocado no Reading, mas se lembram e repetem sempre que isso aconteceu com o Nirvana.

No Brasil o preconceito com o rock é grande, e vai crescendo na medida em que a música se torna mais pesada. Nem vou chegar no metal, que isso daria um tratado, mesmo porque os fãs de metal, a mídia segmentada e afins têm também grande culpa nessa história. Vamos ficar apenas no hard rock. O gênero é tão escancaradamente achincalhado nesse país que o Brasil é o único lugar do mundo que se tem notícia em que “apelidos” ou rótulos próprios foram inventados com o simples objetivo de descredibilizar o gênero. Me refiro a termos como “farofa”, que, intraduzível, e jamais encontrado em qualquer revista importada (ou na Internet), só é usado por aqui.

Uma amiga minha que já foi voz ativa na crônica heavy metal sempre se orgulhou de o termo “farofa” ter sido inventado, segundo ela, no lendário bar Western, no Humaitá, zona sul do Rio. Mas o “farofa” só serviu para criar divisões e discriminar o hard rock. A partir dele, bandas que chegaram a ter grande sucesso, como Van Halen e Guns N’Roses, são respeitadas como “sérias” e de qualidade; as demais, são “farofa.”

É bom lembrar, caro leitor, que no Brasil, há cerca de uma década atrás, todo mundo era fãs do Guns N’Roses, e mesmo depois que a banda virou um brinquedinho nas mãos do dono do seu nome, o sucesso perdurou. Os jornalistas brasileiros sabem que são obrigados, nas suas redações, a sempre buscar um matéria, uma nota, uma linha que seja, sobre o Guns, porque Guns vende. Muitos deles, constrangidos, foram sugestionados a escolher o show de Axel e cia. no Rock In Rio como o melhor do festival só para satisfazer aos anunciantes e evitar polêmicas com os leitores. Até mesmo gente que venera Radiohead e similares teve que achar o máximo o show do Guns. Uma banda de hard rock.

Entretanto, esses mesmos jornalistas se omitem quando aparecem bandas como o Backyard Babies. Passam o ano fazendo expectativa pra o próximo do Oasis, o novo single do Strokes. Ok, essas são bandas legais também. Mas não falam nada sobre a volta o Skid Row, a quantas anda a turnê americana do Mötley Crüe, muito menos reconhecer a importância de bandas como o Forgotten Boys.

Hard rock é legal, e, claro, o termo também engloba bandas ruins, com em qualquer gênero musical. Mas gostando ou não, não se pode, jornalisticamente falando, negar a existência do fato. E o fato é esse: Backyard Babies e Forgotten Boys são uma das coisas mais importantes que aconteceram dentro do rock nos últimos anos. Só não vê quem não quer.

Até a próxima, e long live rock’n'roll!!!

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