Caótico
Na abertura para o Exploited, Ratos de Porão atropela geral, The Chisel apresenta cartão de visitas e Escalpo e Norte Cartel fazem bom papel em noite visceral no Circo Voador. Fotos: Nem Queiroz.
A noite, contudo, é marcada por tensão e ansiedade. Isso porque, na véspera, em Belo Horizonte, o vocalista e figura símbolo do Exlpoited, Wattie, com sérios problemas de saúde, não consegue cantar, e coube a João Gordo, o tal sobrevivente, encerrar a noite em seu lugar. No Rio, Wattie segurou as pontas e a banda fez o show na marra (veja como foi), mas, soube-se depois que, no domingo, em São Paulo, Gordo teve que quebrar o galho mais uma vez. Para o Ratos, contudo, dada a largada, parece que o mundo para e a banda toma conta da situação. Seja no hit de TV – sim, eles têm! - “Sofrer”, que aumenta consideravelmente a rotação das rodas de dança, seja na recente “Alerta Antifascista”, uma das mais recentes, do álbum “Necropolítica”, de 22, registro preciso do Brasil contemporâneo, a plateia vibra aos berros e fisicamente no meio do salão.
Em relação a repertório do show de outubro, nesse mesmo Circo Voador, abrindo para o Napalm Death (veja como foi), eles incluem a oportuna “Suposicollor”, espécie de homenagem ao ex-presidente e vilão nacional finalmente preso nos últimos dias. “Anarkophobia”, a tal música citada ali em cima, cai muito bem logo no início, com afinada cantoria por parte do público, que sabe a letra de cor, e “Ódio e Nada Mais”, com uma espetacular introdução de guitarra de Jão, da fase thrash metal da banda, meio que substitui a siamesa “Crise Geral”, grande ausente da noite, já que ambas são do ótimo “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo”, de 1987. A paisagem de palco do Ratos já mostra a palestra de história política do Brasil via música extrema: de um lado, a imagem de Carlos Marighella, e, de outro, a bandeira do MST replicada – e não é de hoje - na camiseta do baixista Juninho.Dada a quantidade de bandas de abertura, trata-se meio que uma versão pocket de um show do Ratos, ainda mais para uma banda a caminho dos 45 anos de estrada. O que, se omite grandes músicas, torna a “experiência” mais intensa, ainda mais com o batera Boka impingindo aquela velocidade brutal a cada número. Por isso não há quem economize energia ou gogó em clássicos do naipe de “Aids, Pop, Repressão”, já há algum tempo renovada com uma introdução com “um quê” de hip hop – e até que ficou bom -; “Beber Até Morrer”, que explode no verso “Cobras na sua cama e ratos no porão”; “Crucificados Pelo Sistema”, com os braços erguidos em coreografia ensaiada; e a pérola “Caos”, que quem piscou, não viu ser tocada em seus grandiosos 15 segundos de genial fúria. Se um dia existiu show ruim do Ratos de Porão no Circo Voador, ninguém sabe, ninguém viu.

Os britânicos do The Chisel: punk rock raiz com bons backing vocals, duas guitarras e modelo Flying V
Duas bandas nacionais começaram os trabalhos mais cedo, com o público ainda chegando ao Circo Voador. Primeiro, substituindo a americana Fang, que cancelou de última hora, o local Norte Cartel mandou um hardcore pesado e de fácil compreensão. O grupo aproveitou a oportunidade para trazer ao palco a participação de ex-integrantes que marcaram a banda, e mesmo com pouco público, mandou bem em músicas como a nova – e atual - “Derrubem os Reis”, com citação ao inelegível, e “Agora e Sempre”, essa com um sotaque “mais pop”, por assim dizer. Depois, foi a vez do Escalpo, do interior de São Paulo, com uma interessante crossover de metal extremo e punk/hardcore. Com mais público e boa empatia do vocalista, que chegou a citar bandas cariocas dos anos 90/00 que influenciaram o grupo, o show teve maior interação de parte a parte. Salienta-se no set porradas como “Eviscerar o Opressor”, puro suco crossover, e “Desumanizar”, em um ótimo encerramento. Fiquem de olho!
Set list completo Ratos de Porão1- Ódio
2- Anarkophobia
3- Amazônia Nunca Mais
4- Sofrer
5- S.O.S. País Falido
6- Morrer
7- Cérebros Atômicos
8- Juventude Perdida
9- Alerta Antifascista
10- Crucificados Pelo Sistema
11- Não Me Importo
12- Caos
13- Conflito Violento
14- Realidades da Guerra
15- Crocodila
16- Ódio e Nada Mais
17- Suposicollor
18- Beber Até Morrer
19- Aids, Pop, Repressão
20- Crianças Sem Futuro
Tags desse texto: Escalpo, Norte Cartel, Ratos de Porão, The Chisel
Só uma correção: o Ratos de Porão não tocou Realidades da Guerra, de resto tá certo. Mais um show foda deles.