Exploited supera saúde frágil do vocalista Wattie, se apresenta na marra e acaba fazendo ótimo show de punk rock clássico no Circo Voador. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista, líder e único remanescente da formação original do Exploited, Wattie Buchan, quer você!
Do nada, do lado direito da multidão, surge uma bandeira da Palestina que, saudada pelos demais que circulam no meio do salão, é alçada ao palco e colocada cuidadosamente em cima do bumbo da bateria, e isso com o couro comendo sem parar. Mais para o centro, um outro pavilhão, estadunidense, também aparece no meio do povaréu, e, ato contínuo, é rasgado sem dó, e até os trapos resultantes da abrupta ação são queimados e lançados sobre o palco. Ali, um quarteto punk raiz, ícone de todas as épocas, brada o refrão aos quatro ventos, verdadeira palavra de ordem que há anos – e desde sempre – é cantada com toda a força do mundo em todos os lugares: “Fodam-se os Estados Unidos!”. É assim, nesse clima de reconhecimento e profundo desejo coletivo, que o
Exploited encerra a primeira parte de um show que será para sempre lembrado, em um Circo Voador cheinho de dar gosto, neste sábado (10/5), com “USA”.
No início não parecia que seria assim. Isso porque, o líder da banda e um dos maiores ícones do punk rock – e mesmo fora dele - em todas as épocas, Wattie Buchan, 67, sofre, ao vivo e em cores, com a saúde frágil que lhe persegue. Já em “Dogs Of War”, a terceira música da noite, desanda a vomitar em pleno palco. Na noite anterior, sequer conseguiu subir ao palco no show de Belo Horizonte, e, agora, promove em entra-e-sai danado, para, segundo consta, se abastecer de oxigênio fresco nos bastidores, dando a impressão, para os mais atentos, que vai deixar o show de vez a qualquer momento. Qual nada. Com muita garra, luta e vontade de perpetuar a própria história, a banda conduz o show até o final, com a galhardia dos Grandes, deixando apenas duas de 25 músicas de fora do repertório inicialmente planejado. Fato perfeitamente compreensível, dadas as adversas condições.

Vista geral do palco do Exploited no show do Circo Voador, que pode ter sido o último da banda no Rio
Situação pouco percebida para aqueles – e são muitos – que se estapeiam com a energia que falta a Wattie, no meio do salão. Que o digam porradas na moleira como “Chaos Is My Life”, do bloco das mais recentes, por assim dizer, já que é do álbum “Fuck The System”, de 2003, o disco mais “novo” deles. Ou clássicos do naipe de “Army Life”, com a introdução marcial do quartel onde o jovem Wattie serviu. Ou ainda a “I Believe in Anarchy”, cujo refrão é cantado quase em uníssono, como se ensaiado fosse. A música é do disco “Punks Not Dead”, de 1980, e que serviu para, de quebra, batizar uma segunda onda do punk rock britânico - e por conseguinte – mundial. E pensar que o show começa com a emblemática “Let’s Start a War (Said Maggie One Day)”, um clássico, faixa-título do álbum cuja capa - e ainda tem mais essa - é imagem símbolo do punk rock em todos os tempos. Como se vê, o repertório segue mais ou menos o mesmo de 2013(!), última vez em que a banda passou pelo Rio (
relembre), ratificando que estamos diante de uma “banda de exibição” mesmo. No caso, do punk rock raiz.
Passagens sempre marcadas por eventos marcantes, digamos, adjacentes aos shows. Em 1993, nesse mesmo Circo Voador, ou, por outra, no Circo de estrutura de andaimes dos bons tempos, afora a porradaria entre punks e carecas, a noite foi marcada pela impossível volta para a casa, em madrugada de greve de ônibus deflagrada. Vinte anos depois, uma enxurrada quase colocou o antigo e também saudoso Teatro Odisseia abaixo, e alagou todo o centro da Cidade. Agora, nessa que pode ser a última turnê da banda por aqui, a brava superação de Wattie, único remanescente da formação original. É curioso vê-lo gritar “Foda-se o sistema” com notória ânsia de vômito + falta de ar, sem largar o osso. “Fuck” - registre-se - é a palavra mais usada por ele, que manda tudo e todos se foderem no desfecho de cada uma das músicas, reforçando que “Fuck Off” é um dos maiores lemas do punk rock raiz desde sempre, ainda que atualizações infelizes como as do poppy punk, entre outras, tenham maculado um dos subgêneros do rock mais revolucionários de que se tem notícia.

O bravo Wattie, em noite de superação por causa da frágil saúde, em que fez tudo para terminar o show
Um dos momentos mais esperados para quem conhece a trajetória do Exploited de uns anos pra cá quase não engrena. Isso porque o público demora para entender – o inglês full british accent também não ajuda - que estava sendo convidado parar subir no palco para cantar a inacreditável “Sex & Violence”, no início do bis. No fim das contas, apesar de os seguranças que também não sacam nada e tentam retirar as pessoas de lá, tudo dá certo, com o palco lotado e todo mundo cantando o título refrão e único verso da música juntos: um clássico! Outros destaques da noite de rodas sem fim que só o Circo Voador pode açambarcar são “Beat The Bastards”, de título autoexplicativo e refrão fácil; a indispensável “Punk’s Not Dead”, já no bis, por motivos de “tá na História”; e “Porno Slut”, a tal “canção de amor pornô”, meio que dedicada à Maria Júlia, que deu o nome no microfone de Wattie na beirada do palco. Isso sem falar na “guerra das Bandeiras” citada lá em cima, em uma noitada de superação para a banda e de grande diversão para o público. Bravo, Wattie. Bravo.
Set list completo
1- Let’s Start a War (Said Maggie One Day)
2- Fight Back
3- Dogs of War
4- The Massacre
5- UK 82
6- Chaos Is My Life
7- Alternative
8- Noize Annoys
9- Troops of Tomorrow
10- Never Sell Out
11- I Believe in Anarchy
12- Drug Squad Man
13- Rival Leaders
14- Afected by Them
15- Beat the Bastards
16- Cop Cars
17- Fuck the System
18- Porno Slut
19- Army Life
20- USA
Bis
21- Sex & Violence
22- Punks Not Dead
23- Was It Me

O já tradicional momento em que todo mundo sobe no palco para cantar 'Sex & Violence' com a banda
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Primeira vez que vi o Exploited e gostei. Não sou muito ligado no som nem muito chegado às ideias do Wattie, mas é inegavelmente um frontman de respeito. Só não deixe o Jello Biafra chegar perto dele, rs.
Teria o setlist do Ratos de Porão antes?
Ótimo!
Aqui, Leonardo: http://www.rockemgeral.com.br/2025/05/14/caotico/