Alta performance
Bom entrosamento entre os músicos garante ótimo show do Uriah Heep, em noite de aula de história do hard rock/heavy metal. Fotos: Daniel Croce.
Não é exagero o título de professor citado ali em cima para Bernie Shaw, que usa de grande didatismo ao anunciar as músicas do repertório, indicando origens, épocas e discos as quais pertencem, e sem soar chato como na maioria dos casos. E olha que ele nem está no grupo desde o início, lá no começo dos anos 70, mas seguramente era fã. O nome disso é carisma, e essa nem é a maior virtude dele, já que, no alto de seus 68 anos, segue com a voz em ótima forma, incluindo os alcances nas notas mais altas. É o que ocorre em “Shadows of Grief”, que além da debulhagem total de Box, tem o show particular de vitalidade de Shaw e ainda incrível acréscimo do tecladista Phil Lanzon, em uma vibe prog rock, mais uma característica da banda; Deep Purple feelings. Outra que realça essa interação é a ótima “Overload”, essa já deste século, mais pesada, com ótimas evoluções instrumentais.
Embora a turnê leve o título de “The Magician’s Farewell”, Bernie Shaw explica que não é o fim da banda, mas só uma questão de desacelerar e planejar giros mais curtos, em poucas cidades em sequência. E que eles já estão compondo para o lançamento de um novo álbum de inéditas. Enquanto ele não vem, duas músicas do disco mais recente, o ótimo “Chaos & Colour”, de 2023 – sim eles estão na ativa! - são apresentadas. A melhor delas, ao vivo, é “Hurricane”, um rockão bem ritmado com guitarras de fundo de muito bom gosto. A outra é “Save Me Tonight”, logo a segunda da noite, cativante, e que salienta as boas vocalizações, marca de toda a carreira da banda. É a que mais parece seduzir o púbico entre as duas, embora poucos ali pareçam antenados com os trabalhos mais recentes do quinteto.Como se suspeitava, é o clássico álbum “The Magician’s Birthday”, de 1972, o que empresta mais músicas ao show, três de 14 – parece pouco, mas muitas músicas são longas – todas elas cantadas a plenos pulmões pela plateia que lota o pequeno teatro. Destaque para o trecho em que, depois de espécie de interlúdio prog, Mick Box e o baterista Russell Gilbrook seguram a plateia sozinhos, um esmerilhando a guitarra sem dó, e outro com uma vigorosa pegada, em performance – de ambos - bem superior à do álbum. Completa a banda o baixista Dave Rimmer. Em “Sunrise”, já no bis, o destaque é a cantoria geral, fato já observado quando o Uriah Heep passou pelo Rio pela última vez, há 11 anos (relembre). Em comparação com o repertório da época, temos aqui um acréscimo (ou troca, como queiram) de nada menos que nove músicas que foram tocadas lá, o que é ótimo.
Ao todo, em redondos 90 minutos da aula do professor Shaw, a banda passa por nove álbuns de várias épocas, incluindo até uma versão turbinada para “Gipsy”, do primeirão, “…Very ‘Eavy …Very ‘Umble”. E ele faz muito bem as vezes dos vocalistas que o sucederam, seria então o melhor deles, além de ter mais tempo de casa? Assunto que seguramente não passa pela cabeça da plateia completamente em sintonia com a banda. Tem ainda a história da amiga festeira contada por Mick Box, que resultou na boa “Sweet Lorraine”, acrescida de um grande acompanhamento em palmas; o início promissor com “Grazed by Heaven”, que se cumpre durante toda anoite; e o clima de felicidade total no desfecho, com um dos maiores hits da banda, “Easy Livin’”. Tudo com um entrosamento incomum entre os músicos, e com a duplinha Mick Box/Berni Shaw em noite de alta performance.Set list completo
1- Grazed by Heaven
2- Save Me Tonight
3- Overload
4- Shadows of Grief
5- Stealin’
6- Hurricane
7- The Wizard
8- Sweet Lorraine
9- Free ‘n’ Easy
10- The Magician’s Birthday
11- Gypsy
12- July Morning
Bis
13- Sunrise
14- Easy Livin’
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