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Na turnê de grandes hits, Bush inclui músicas recentes, não antecipa novo álbum e faz show bom, sim, mas curto demais. Fotos: Daniel Croce.
O curioso é que se trata de uma turnê de grandes sucessos do grupo, já no nome, “Loaded: The Greatest Hits Tour”, mas que acaba por incluir no repertório nada menos que seis músicas dos dois álbuns mais recentes, “The Art of Survival”, de 2022, e “The Kingdom”, de 2020. O que nos levar a verificar que, no conjunto da obra, a carreira do Bush pós volta à ativa, em 2010, já é maior do que a do auge do sucesso da banda, no rescaldo da era de ouro do grunge; não cabe pós aqui, não. Ao menos em termos de tempo e assiduidade no mercado, já que o quarteto tem lançado um disco a cada dois, três anos e já promete o próximo, “I Beat Loneliness”, do qual nada foi tocado no show, para este 2025. E discos bons, diga-se de passagem, muito embora por vezes o tal do conforto do conhecido impeça o interesse dos fãs no material mais recente.

O guitarrista do Bush, Chris Traynor, com o visual de quem acabou de sair de uma banda de southern rock
O fato de ser uma banda reformada, por assim dizer, faz da paisagem de palco do Bush um quebra-cabeças bastante peculiar. De um lado, Traynor, de longas madeixas e chapelão, parece ter saído diretamente do Allman Brothers, e, do outro, o baixista Corey Britz, ótimo também nos vocais de apoio, bem que poderia ter no currículo uma banda de rockabilly. No fundo, sobre uma plataforma daqueles de shows do Judas Priest, o batera Nik Hughes parece egresso do Bon Jovi nos tempos do rock de arena; e o início do show é bem assim. No fundo, um painel luminoso direcionado para o público completa um certo élan de grandiosidade positivamente incomum para bandas do tamanho do Bush. O que importa é que funciona muito bem em termos de performance de palco e entrosamento entre eles.
Que o digam os grandes sucessos que dão nome à turnê, como “Everything Zen”, que abre a noite com uma pressão de impressionar, e tem a adesão total de uma plateia bem ansiosa e participativa. Ou “Machinehead”, tocada em seguida, quase colada, com o riff inicial ecoando longe e mantendo o gás inicial. É verdade que a opção de mandar “Swallowed” e “Glycerine”, ambas queridas para os fãs, uma à capela e outra só com voz e guitarra, subtrai mais ainda um repertório já curto, mas o público curte mesmo assim, convertendo a baixa em momentos de pura emoção; tinha lágrima escorrendo e tudo. Todo mundo piscou e de repente já era o fim do bis, com “Comedown”, música que continua ganchuda, riffônica, e que, numa versão alongada e bem pesada - aí sim -, enfatiza a cantoria do público em tom de fugaz despedida. O simpático Rossdale promete voltar, mas podia começar ficando mais um pouco, não é?Set list completo
1- Everything Zen
2- Machinehead
3- Blood River
4- The Chemicals Between Us
5- Quicksand
6- Greedy Fly
7- Identity
8- Swallowed
9- Heavy Is the Ocean
10- Flowers on a Grave
11- Little Things
Bis
12- More Than Machines
13- Glycerine
14- Comedown
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