O Homem Baile

Vapt-vupt

Na turnê de grandes hits, Bush inclui músicas recentes, não antecipa novo álbum e faz show bom, sim, mas curto demais. Fotos: Daniel Croce.

O único remanescente da formação original do Bush, Gavin Rossdale, mandando bem como frontman

O único remanescente da formação original do Bush, Gavin Rossdale, mandando bem como frontman

Você piscou e banda que esperou um tempão pra ver subiu no palco, tocou um punhado de músicas rapidinho e saiu batida, assim, do nada. Procedimento que, uma vez aplicado, espera-se um tanto de intensidade que faça valer, de um lado, a pressa de cumprir o compromisso, e, de outro, justifique certo descaso, para dizer o mínimo. Mesmo porque, pensando bem, assim não há como encher linguiça: é só sucesso, só hit e música conhecida, daqueles que todo mundo canta do início ao fim. E não há avançar de idade que se use como explicação, já que exemplos de vitalidade se proliferam no mundo do rock; Mick Jagger feelings… É assim, em suma, a passagem – pode-se dizer, no fim das contas - relâmpago do Bush, pelo Vivo Rio, nesta quarta (3/4), com boa presença de público.

O curioso é que se trata de uma turnê de grandes sucessos do grupo, já no nome, “Loaded: The Greatest Hits Tour”, mas que acaba por incluir no repertório nada menos que seis músicas dos dois álbuns mais recentes, “The Art of Survival”, de 2022, e “The Kingdom”, de 2020. O que nos levar a verificar que, no conjunto da obra, a carreira do Bush pós volta à ativa, em 2010, já é maior do que a do auge do sucesso da banda, no rescaldo da era de ouro do grunge; não cabe pós aqui, não. Ao menos em termos de tempo e assiduidade no mercado, já que o quarteto tem lançado um disco a cada dois, três anos e já promete o próximo, “I Beat Loneliness”, do qual nada foi tocado no show, para este 2025. E discos bons, diga-se de passagem, muito embora por vezes o tal do conforto do conhecido impeça o interesse dos fãs no material mais recente.

O guitarrista do Bush, Chris Traynor, com o visual de quem acabou de sair de uma banda de southern rock

O guitarrista do Bush, Chris Traynor, com o visual de quem acabou de sair de uma banda de southern rock

É o que talvez explique a recepção mais fria em músicas como a ótima “Blood River”, dotada de precisos riffs e evoluções de guitarra, mas que quebra a sequência de hits no início; “More Than Machines, acrescida de ótimo solo do guitarrista Chris Traynor, na parte final; ou ainda de “Quicksand”, essa prejudicada pelo excesso de efeitos vocais, presentes em grande parte da noite. Efeitos que geram controvérsia quando à capacidade do vocalista, líder e único remanescente da formação original do Bush, Gavin Rossdale, a caminho de completar 60 primaveras. Soltinho, ele aparece como bom frontman ao deixar a guitarra de lado, em mais tempo durante o show do que acontecia no passado, mas, ao aproximar/afastar o microfone da boca se vê a dependência dos tais efeitos, sempre altos pra cacete, assim como todos os instrumentos, o que é ótimo.

O fato de ser uma banda reformada, por assim dizer, faz da paisagem de palco do Bush um quebra-cabeças bastante peculiar. De um lado, Traynor, de longas madeixas e chapelão, parece ter saído diretamente do Allman Brothers, e, do outro, o baixista Corey Britz, ótimo também nos vocais de apoio, bem que poderia ter no currículo uma banda de rockabilly. No fundo, sobre uma plataforma daqueles de shows do Judas Priest, o batera Nik Hughes parece egresso do Bon Jovi nos tempos do rock de arena; e o início do show é bem assim. No fundo, um painel luminoso direcionado para o público completa um certo élan de grandiosidade positivamente incomum para bandas do tamanho do Bush. O que importa é que funciona muito bem em termos de performance de palco e entrosamento entre eles.

O baterista Nik Hughes, do alto de uma imponente plataforma, onde começa o show com um mini solo

O baterista Nik Hughes, do alto de uma imponente plataforma, onde começa o show com um mini solo

Que o digam os grandes sucessos que dão nome à turnê, como “Everything Zen”, que abre a noite com uma pressão de impressionar, e tem a adesão total de uma plateia bem ansiosa e participativa. Ou “Machinehead”, tocada em seguida, quase colada, com o riff inicial ecoando longe e mantendo o gás inicial. É verdade que a opção de mandar “Swallowed” e “Glycerine”, ambas queridas para os fãs, uma à capela e outra só com voz e guitarra, subtrai mais ainda um repertório já curto, mas o público curte mesmo assim, convertendo a baixa em momentos de pura emoção; tinha lágrima escorrendo e tudo. Todo mundo piscou e de repente já era o fim do bis, com “Comedown”, música que continua ganchuda, riffônica, e que, numa versão alongada e bem pesada - aí sim -, enfatiza a cantoria do público em tom de fugaz despedida. O simpático Rossdale promete voltar, mas podia começar ficando mais um pouco, não é?

Set list completo

1- Everything Zen
2- Machinehead
3- Blood River
4- The Chemicals Between Us
5- Quicksand
6- Greedy Fly
7- Identity
8- Swallowed
9- Heavy Is the Ocean
10- Flowers on a Grave
11- Little Things
Bis
12- More Than Machines
13- Glycerine
14- Comedown

Gavin Rossdale lado a lado com o baixista Corey Britz, que também contribui na sustentação vocal

Gavin Rossdale lado a lado com o baixista Corey Britz, que também contribui na sustentação vocal

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado