O Homem Baile

Porto seguro

Garbage omite músicas novas e domina público com clássicos do início da carreira em noite de rock para dançar e brilho absoluto de Shirley Manson. Fotos: Daniel Croce.

O carismática vocalista e pensadora do Garbage, Shirley Manson, em noite de brilho absoluto no Rio

O carismática vocalista e pensadora do Garbage, Shirley Manson, em noite de brilho absoluto no Rio

O incauto que adentrasse o local sem saber o que se passava pensaria estar em uma pista de dança, justamente em uma casa notabilizada por festas de arromba. Em um palco, contudo, dois senhores cascudos, um de cada lado, esmerilham suas respectivas guitarras sobre samples cuidadosamente reproduzidos, e o público se acaba com a memória justamente de pistas de dança. No centro, e indo de lado a outro, a carismática vocalista, em trajes de ser de outro mundo, é quem comanda a noite com incrível domínio de palco. É assim que Shirley Manson, Steve Marker e Duke Erikson lideram o Garbage na parte central de um show repleto de clássicos de uma já longa carreira, no início da turnê brasileira, ontem (21/3) no Sacadura 154, no Rio.

A música é “Vow” e inicia um bloco da pesada que inclui “Stupid Girl”, em uma vibe disco music do bem, sempre tendo o rock como mote; “Special”, que tem o refrão cantado a plenos pulmões por animada plateia - e não foi só dessa vez; e deságua em “Only Happy When It Rains”, o hit maior da banda, tema da vida de todo e qualquer outsider, deflagrando de vez o rock dançante de guitarras para pistas que consagra o Garbage para todo o sempre. O show, inicialmente marcado para o Vivo Rio, tem um “quê” de underground, com palco todo aberto, sem qualquer cenografia ou “pano de fundo” que identifique o artista ou contribua para o espetáculo. O que concentra ainda mais as atenções no espetáculo em si e no papel de absoluto destaque de Manson, que – repita-se – exala carisma por todos os poros.

O baterista do Garbage, também conhecido como 'o produtor de Nevermind', em noite de estreia

O baterista do Garbage, também conhecido como 'o produtor de Nevermind', em noite de estreia

Ocorre que o Garbage vive uma fase “Guns N’Roses Chinese Democracy”, com um disco novo pronto, o tal de “Let All That We Imagine Be the Light”, mas que não sai nunca, o que aguça a curiosidade para que alguma das – dizem – 10 faixas seja tocada. Ou, ao menos, material dos dois EPs que saíram recentemente, “Witness to Your Love”, de 23, e “Lie to Me”, de 24. Expectativa frustrada, já que o repertório é todo de clássicos, com predomínio de dois terços das músicas retiradas dos dois primeiros álbuns da banda, “Garbage” (1995) e “Version 2.0 (1998). Caso das ótimas “I Think I’m Paranoid”, com o plus de semblantes paranóicos convincentes de Shirley Manson, e “Milk” (do verso “I’m waiting for you”), em um momento mais intimista e dramático, com ausência total de guitarras e ótimo apelo mesmo assim. O que reforça a singularidade do rock dançante de guitarras da banda.

Totalmente seduzido pelo conjunto da obra, o público não está nem aí para a ausência de novidades, abraça o chamado conforto do conhecido com todas as forças e se acaba a noite toda, seja dançando ou cantando as músicas. Do lado de cima do palco, por sua vez, Shirley Manson se diverte com a reposta do público, em misto de surpresa e satisfação com a adesão da plateia. Acontece em “Wicked Ways” que nem é uma das mais conhecidas, e - de novo – em “Special”. O show marca a estreia no Brasil da baixista para shows Nicole Fiorentino (ex-Veruca Salt e Smashing Pumpkins), com alguma timidez e pouco destaque, mas faz parte, e do batera Butch Vig, também conhecido como “o produtor de ‘Nevermind’”, que por recomendações médicas não pode vir ao Brasil em 2016 (relembre como foi o show).

O elegente guitarrista e tecladista do Garbage, Duke Erikson, que é também produtor de discos

O elegente guitarrista e tecladista do Garbage, Duke Erikson, que é também produtor de discos

Fora tudo isso, com destaque para as letras cada vez mais atuais (confira a de “The Men Who Rule the World”), o show tem ainda discurso inclusivo; conselho de Shirley Manson para mãe de fã mirim quanto ao uso de fones de ouvidos; troca de set list por espécie de leque customizado com um jovem que avisou em cartolina que estava no décimo show da banda; memórias emocionantes de ver o L7 pela TV e agora dividir o palco com elas; Manson cantando o bis no meio do público e muito mais. Um senão relevante é o encurtamento do set list, por conta de a noite ser de duas bandas, o que leva a ausências irremediáveis como a de “Why Do You Love Me”, que brilhou em 2016, e lá se vão quase nove anos. O que não faz da apresentação algo menos bom, ainda mais com o desfecho, antes do bis, com a dobradinha “Cherry Lips (Go Baby Go!)”, pura pressão ao vivo, e “Push It”, com um aroma de “Cities in Dust” (Siouxsie, que banda gravou) no ar. Que não demorem tanto a voltar.

Set list completo

1- Queer
2- Fix Me Now
3- Empty
4- The Men Who Rule the World
5- Wicked Ways
6- The Trick Is to Keep Breathing
7- Wolves
8- Cup of Coffee
9- Vow
10- Special
11- Stupid Girl
12- Only Happy When It Rains
13- Milk
14- #1 Crush
15- I Think I’m Paranoid
16- Cherry Lips (Go Baby Go!)
17- Push It
Bis
18- When I Grow Up

Shirley Manson, o guitarrista Steve Marker, à esquerda, no fundo, Butch Vig e a baixista Nicole Fiorentino

Shirley Manson, o guitarrista Steve Marker, à esquerda, no fundo, Butch Vig e a baixista Nicole Fiorentino

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