Porto seguro
Garbage omite músicas novas e domina público com clássicos do início da carreira em noite de rock para dançar e brilho absoluto de Shirley Manson. Fotos: Daniel Croce.
A música é “Vow” e inicia um bloco da pesada que inclui “Stupid Girl”, em uma vibe disco music do bem, sempre tendo o rock como mote; “Special”, que tem o refrão cantado a plenos pulmões por animada plateia - e não foi só dessa vez; e deságua em “Only Happy When It Rains”, o hit maior da banda, tema da vida de todo e qualquer outsider, deflagrando de vez o rock dançante de guitarras para pistas que consagra o Garbage para todo o sempre. O show, inicialmente marcado para o Vivo Rio, tem um “quê” de underground, com palco todo aberto, sem qualquer cenografia ou “pano de fundo” que identifique o artista ou contribua para o espetáculo. O que concentra ainda mais as atenções no espetáculo em si e no papel de absoluto destaque de Manson, que – repita-se – exala carisma por todos os poros.
Ocorre que o Garbage vive uma fase “Guns N’Roses Chinese Democracy”, com um disco novo pronto, o tal de “Let All That We Imagine Be the Light”, mas que não sai nunca, o que aguça a curiosidade para que alguma das – dizem – 10 faixas seja tocada. Ou, ao menos, material dos dois EPs que saíram recentemente, “Witness to Your Love”, de 23, e “Lie to Me”, de 24. Expectativa frustrada, já que o repertório é todo de clássicos, com predomínio de dois terços das músicas retiradas dos dois primeiros álbuns da banda, “Garbage” (1995) e “Version 2.0 (1998). Caso das ótimas “I Think I’m Paranoid”, com o plus de semblantes paranóicos convincentes de Shirley Manson, e “Milk” (do verso “I’m waiting for you”), em um momento mais intimista e dramático, com ausência total de guitarras e ótimo apelo mesmo assim. O que reforça a singularidade do rock dançante de guitarras da banda.Totalmente seduzido pelo conjunto da obra, o público não está nem aí para a ausência de novidades, abraça o chamado conforto do conhecido com todas as forças e se acaba a noite toda, seja dançando ou cantando as músicas. Do lado de cima do palco, por sua vez, Shirley Manson se diverte com a reposta do público, em misto de surpresa e satisfação com a adesão da plateia. Acontece em “Wicked Ways” que nem é uma das mais conhecidas, e - de novo – em “Special”. O show marca a estreia no Brasil da baixista para shows Nicole Fiorentino (ex-Veruca Salt e Smashing Pumpkins), com alguma timidez e pouco destaque, mas faz parte, e do batera Butch Vig, também conhecido como “o produtor de ‘Nevermind’”, que por recomendações médicas não pode vir ao Brasil em 2016 (relembre como foi o show).
Fora tudo isso, com destaque para as letras cada vez mais atuais (confira a de “The Men Who Rule the World”), o show tem ainda discurso inclusivo; conselho de Shirley Manson para mãe de fã mirim quanto ao uso de fones de ouvidos; troca de set list por espécie de leque customizado com um jovem que avisou em cartolina que estava no décimo show da banda; memórias emocionantes de ver o L7 pela TV e agora dividir o palco com elas; Manson cantando o bis no meio do público e muito mais. Um senão relevante é o encurtamento do set list, por conta de a noite ser de duas bandas, o que leva a ausências irremediáveis como a de “Why Do You Love Me”, que brilhou em 2016, e lá se vão quase nove anos. O que não faz da apresentação algo menos bom, ainda mais com o desfecho, antes do bis, com a dobradinha “Cherry Lips (Go Baby Go!)”, pura pressão ao vivo, e “Push It”, com um aroma de “Cities in Dust” (Siouxsie, que banda gravou) no ar. Que não demorem tanto a voltar.Set list completo
1- Queer
2- Fix Me Now
3- Empty
4- The Men Who Rule the World
5- Wicked Ways
6- The Trick Is to Keep Breathing
7- Wolves
8- Cup of Coffee
9- Vow
10- Special
11- Stupid Girl
12- Only Happy When It Rains
13- Milk
14- #1 Crush
15- I Think I’m Paranoid
16- Cherry Lips (Go Baby Go!)
17- Push It
Bis
18- When I Grow Up

Shirley Manson, o guitarrista Steve Marker, à esquerda, no fundo, Butch Vig e a baixista Nicole Fiorentino
Tags desse texto: Garbage