O Homem Baile

Intrincado, mas ok

Peso multirreferenciado, difícil de entender e por vezes pop do Baroness agrada geral na abertura para o The Cult no Rio. Fotos: Daniel Croce.

O guitarrista, vocalista e dono da firma, John Baizley: belo reconhecimento como banda de abertura

O guitarrista, vocalista e dono da firma, John Baizley: belo reconhecimento como banda de abertura

O homenzarrão que não por acaso é o dono da banda se desloca para o lado do palco bem na beirada, e o desafio começa passo a passo. Quem está lá, também de guitarra em punho, é a caçula da banda, uma desaforada mocinha, uns 10, 15 anos mais nova que ele, mas que não arreda o pé, e assim começa o que o rock, o hard rock, o metal e escambau tem de melhor: o duelo de guitarras. Não é a primeira nem a última vez, mas acontece que essa canção, de uma banda associada ao rock pesado, é de longe a que tem o sotaque mais pop da noite, no sentido de colar nos ouvidos de qualquer incauto que a ouça pela primeira vez. É assim que o Baroness dá as cartas no show de abertura para o The Cult (veja como foi), neste sábado (22/2), no Vivo Rio.

A música é “Shock Me”, verdadeira pérola do rock pesado, mas acessível; o homenzarrão de guitarra em punho e dono da banda é John Baizley; e a mocinha que não arrega é Gina Gleason, pródiga guitarrista com serviços prestados em palcos de Carlos Santana e Smashing Pumpkins, entre outros, e que está no grupo, que existe há quase 20 anos, desde 2017. Explica-se que o Baroness faz um som, na maior parte do tempo, intrincado, rebuscado e multirreferenciado dentro do universo do heavy metal, o que muitas vezes torna a audição uma tarefa indigesta. Daí a relevância de “Shock Me”, e da força dela tocada ao vivo. Todo o repertório, aliás, cresce muito em cima do palco, em que pese o som do Vivo Rio estar numa daquelas noites terríveis; difícil até ouvir com clareza a cantoria de Baizley que, claro, também é o vocalista da banda.

A guitarrista Gina Gleason, com serviços prestados para Santana e Smashing Pumpkins, e John Baizley

A guitarrista Gina Gleason, com serviços prestados para Santana e Smashing Pumpkins, e John Baizley

Tanto que outro destaque, e não por acaso, é a intrépida “Green Theme”, que antecede “Shock Me” e é uma instrumental da pesada, com tonalidades épicas, daquelas com crescentes e evoluções potentes de cada instrumento. Aí vale ressaltar o batera Sebastian Thomson, que já tocou até na banda de post rock/prog rock Trans AM. O que ele faz de viradas inesperadas, conversão de batidas simples em complexas, e não só nessa música, não está no gibi. E ainda impinge uma batida cheia de pratos, meio dançante anos 80/revival anos 00 em “Swollen and Halo”, que turbina a música, rock dos bons – que metal, que nada -, para outro nível. Daí a conclusão de que a união Baroness + The Cult, em princípio estranha, pode ter muito a ver. Que música! E que performance de palco!

Não é exatamente o show de uma turnê de lançamento de álbum, já que o mais recente deles, “Stone”, data de 2023, uma eternidade nesses tempos tão estranhos. Mesmo assim, ouve-se gritos do meio da plateia – muita gente fã da banda, registre-se - de “Magnolia!, Magnolia!”, em referência à tal faixa, a mais longa do disco, sem sucesso. Em compensação, o quarteto, completado pelo baixista Nick Jost, inclui duas dessa safra: “Last Word” e “Under the Wheel”. A primeira abre o show em clima total de Mastodon (banda referência para se entender o Baroness, que fique claro), com ótimo refrão e debulhagem de notas de Gina, e, a segunda, com um andamento sombrio que pula do despretensioso para o peso desmedido em questão de segundos.

O batera Sebastian Thomson, John Baizley e o baixista Nick Jost quebrando tudo no show do Baroness

O batera Sebastian Thomson, John Baizley e o baixista Nick Jost quebrando tudo no show do Baroness

Ou seja, vale completamente o chamado “conjunto da obra”, mas os próximos passos também são promissores, mesmo que a banda não tenha mostrado nada de novo em termos de composições; o que se compreende pelo fato de os shows pela América Latina, como abertura ou não, terem sido confirmados em menos de um mês. Em tempo: era para o show ser encerrado com “Take My Bones Away”, o primeiro grande hit deles, mas acabou que não deu tempo. Uma pena, mas levante a mão quem não se empolgou com arremate final em “Isak”, contando a passagem em que John Baizley empunha a guitarra com as duas mãos na frente do próprio rosto, sem parar de tocar. Como quem diz: “É guitarra que vocês querem? Então tomem!”. Que maravilha.

Set list completo

1- Last Word
2- Under the Wheel
3- A Horse Called Golgotha
4- March to the Sea
5- Green Theme
6- Shock Me
7- Chlorine & Wine
8- Swollen and Halo
9- Tourniquet
10- Isak

A guitarrista Gina Gleason, trilhando o caminho do rock pesado e intrincado no Baroness já há oito anos

A guitarrista Gina Gleason, trilhando o caminho do rock pesado e intrincado no Baroness já há oito anos

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